segunda-feira, dezembro 28, 2009
Voz
ecoa em mim
a voz do meu coração
estranha voz
aguda e rouca
úmida e serena
voz de sonhar e gritar
todas as palavras
tudo que esteve contido
nas cavernas mais distantes
e silenciosas de mim
( poeminha que deu nome ao meu blog)
Meu blog tava com problemas. Não conseguia acessá-lo nem o blog de muitos. Só agora consegui. Amanhã vou viajar e não sei quando volto. Encerro então por esse ano com a notícia feliz de que Mário Bortolotto teve alta. Isso é uma grande notícia! Dá pra fechar o ano mais feliz.
A todos vocês que sempre passam por aqui só posso agradecer e desejar um 2010 mais doce e com mais paz. Quando voltar atualizo minhas leituras. Vou ficar com saudades. Beijos.
segunda-feira, dezembro 21, 2009
Recado ao Noel
PS: cê vai trazer presentes? Pra mim? Então me manda os anos 70 de volta e algumas pessoas que ainda tavam lá. Depois a gente conversa.
Com esse texto do Guga Shultze me despeço de vocês, volto em janeiro. 2010 está aí e que ele seja bem melhor que o 9. Agradeço a todos que marcaram presença em meu blog e que fizeram e fazem a diferença. Beijos.
quinta-feira, dezembro 17, 2009
véspera
de noite veio um bêbado
andando no meio da rua escura e chuvosa
trombou numa árvore enfeitada de luzes de natal
ficou olhando aquela coisa iluminada
sentado na calçada com a garrafa em suas mãos
pensou que tivesse em outro país
começou a cantar em inglês uma velha canção
viu neve onde havia chuva fina
um cão perdido de rua era sua rena
adormeceu sorrindo
e de manhã já era natal
(republicado)
domingo, dezembro 13, 2009
quando a escuridão
e você está no meio do mar em um pequeno bote
vê uma mancha preta maior que a escuridão
pensa que não haverá mais jeito
desta vez não tem saída
então olha para cima e não vê estrelas
olha para baixo as águas são geladas e negras
você ali no pequeno bote
no meio daquele oceano imenso e gelado
sem tempo sem brisa sem cor sem som
e aparecem uns olhos esverdeados
que brilham e não são estrelas
são maiores que a escuridão e o frio
e você se agarra a eles a seu brilho
você acorda em sua cama e uns olhos verdes escuros
mais escuros que aquelas águas te olham
então você dorme e quase sonha e quase se aquece
e quase pensa que está salvo
(poema originariamente publicado no blog versos e perversos de luciano fraga )
domingo, dezembro 06, 2009
Mário Bortolotto
Hoje estou triste, muito triste. Bortolotto foi assaltado e levou três tiros, quando bebia com seus amigos, após a peça "Brutal" de sua autoria, no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, São Paulo. Tive a oportunidade de assistir a essa peça e conhecê-lo há pouco tempo pessoalmente. Acompanho seu trabalho e sou sua fã e foi com tristeza que soube dessa notícia. Já foi submetido a algumas cirurgias e seu estado é muito grave. Agora é só torcer muito. Por coincidência, tinha feito um poema pra ele, enviei por e-mail e ele publicou em seu blog dia 3/12.:
"E falando em rapaziada que vale a pena, a Adriana Godoy lá de BH (que sempre comenta aqui e que eu conheci pessoalmente há pouco tempo quando esteve por aqui assistindo "Brutal") escreveu um poema pra mim. Eu gostei. Fiquei lisonjeado, aliás. E gostei principalmente da parte dos anjos velando. Tô precisando disso. Ela escreveu assim:
Bortolotto, estava dando aula agora e o assunto era escrever um poema sobre alguém, tipo uma biografia. Então, enquanto os alunos estavm escrevendo, sem querer fiz isso sobre você. Não me leve a mal, mas saiu de um fôlego só. Sei que não tá legal, meio didático, não é muito meu jeito, mas resolvi te enviar assim mesmo. Beijo.
meu querido outsider
ele vem de coturnos com os cadarços desamarrados
a camisa grande com as mangas maiores que os braços
uma camiseta por baixo
um quase sorriso e um jeito tímido e forte
o dia é feito de ressacas e de um computador
quando calor demais liga o ventilador
e as ideias se espalham em textos únicos e mágicos
a noite chega e ele sai à caça de bebidas e de possíveis amigos
ou joga bilhar com homens e mulheres
e não duvida que pode ter brigas e pode brigar
mas agora prefere desativar bombas
e ficar mais leve um pouco
o rock e o blues estão em suas veias
como as palavras para um poeta
a voz rouca combina tão bem com o uísque que toma
e com a música que canta
que se tornam indissolúveis
escreve como quem enxerga os subterrâneos humanos
nos seus mais obscuros infernos
e deixa a solução na alma de cada um
encena e traduz a angústia de diversos personagens
mas traz em si as angústias da humanidade
encanta por ter um coração de menino
por gostar de lutas e de filmes b
de revista de mulher pelada
de comer coxinha de madrugada
de ver as séries na tevê
de ouvir mp3 num canto qualquer e ficar só
de conversar com os mendigos e perdidos da cidade
enquanto estudantes estão indo pra escola
ver o sol nascer pode lhe dizer
pra voltar pra sua quitinete
e tentar dormir o que a noite não deixou
então sonha, menino, tá tudo certo
no meio do caminho pode ter um bar
e mulheres e amigos que te esperam
os anjos te velem e digam amém
(Adriana Godoy)
Valeu, Adriana, que os anjos cuidem mesmo de todos nós. E que eles sejam mais bacanas que os fdp do "Supernatural", né? Mário Bortolotto"
segunda-feira, novembro 30, 2009
dessas noites em que estava lavando pratos
o detergente faz espuma na pia
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio
duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado
as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem
os pratos vão ficando limpos
as panelas ficam pra depois
pego uma taça e dou um gole
acompanho o blues num inglês ruim
o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá
estranho pensar no abandono de toda ambição
quarta-feira, novembro 25, 2009
hoje tem!!
quarta-feira, novembro 18, 2009
apelo
traz para mim os dias que não vivi
todas as noites perdidas
e o sorriso que não tenho mais
vai lá e busca o que me cure
sem que doa ou que arda
apenas que alivie
encontre o que deixei cair na estrada
os poemas esquecidos nas gavetas
e as músicas que não ouço mais
molhe os pés no mar
porque aqui só há montanhas
e jogue uma flor pra iemanjá
deixe seu cheiro espalhado
compre uma garrafa de champanhe
velas amarelas e incensos de baunilha
estou aqui do outro lado e juro
tem uma lua enorme no céu da cidade
segunda-feira, novembro 16, 2009
A noite de Heitor
segunda-feira, novembro 09, 2009
sexta-feira, outubro 30, 2009
sympaty for the devil
mais uma vez ouvi a música dos stones "sympaty for the devil" e sempre me surpreende a letra, o ritmo, a melodia. acho que foi no final da década de 60 ou início dos anos 70, não sei, que eles tocaram pela primeira vez.
de certa forma foram precisos na definição de lúcifer, hoje reencarnado na figura desses caras donos do mundo, nos assassinos ou no vizinho da frente.
andamos correndo de nós mesmos, andamos correndo do demônio que está mais em nós do que em outras pessoas, andamos nas ruas com o medo nos rondando e com medo de olhar nos olhos dos meninos ou de qualquer pessoa que nos mostre a diferença ou o espelho.
e isso a cada dia, a cada hora, a cada minuto.
lúcifer, simpático e garboso em sua sedução, em sua gentileza.
ele me estende a mão e sempre que posso a aperto com força.
quero o seu poder, a sua indiferença; quero o prazer, o deleite, a luxúria.
e ele vai me seduzindo e seduzindo tantos outros. vendo a minha alma. ele é o deus eterno presente em todos os tempos. poucos sabem reconhecê-lo verdadeiramente. poucos sabem o seu verdadeiro jogo. eu sei. e tenho prazer em conhecê-lo.
"pleased to meet you, hope you guessed my name"... Is just the nature of my game"...
quarta-feira, outubro 28, 2009
Tem poema meu!
Beijos.
sábado, outubro 24, 2009
atrás da árvore
aquela que subíamos quando crianças
você disse que nunca cresceria
e como peter pan na terra do nunca
nunca me deixava sem o seu pó mágico
voávamos sobre as cidades
entrávamos por todas as janelas
ríamos e chorávamos indivisíveis
eu era sua fada e você meu encantador
inventávamos o mundo
para que ficássemos juntos
as suas mãos me ensinaram
as melhores brincadeiras
juramos amor eterno
e gravamos dois nomes
em um coração amarelo
no galho mais alto e escondido
agora te vejo, amor
atrás da árvore
atrás do que fomos
atrás do que perdemos
quarta-feira, outubro 21, 2009
filhos na noite
irmãos na noite espalhados
na casa da velha mãe
hoje não é festa, não é aniversário
e surge a pergunta mortal
quem vai ficar com ela?
como se ela não pensasse
como se ela fosse a carga mais pesada
a mãe poderosa e infalível
mergulha nas suas sombras
nos seus medos e sofre
por que meus filhos estão aqui?
queria afagá-los e tirar deles todo sofrimento
queria carregá-los no colo
queria alimentá-los e enchê-los de alegria
os filhos como morcegos agitados
começam a se debater
quem vai ficar com ela, a mãe?
uns esbarram as asas frágeis nos outros
uns tentam perfurar o coração dos outros
uns se acham insubstituíveis, infalíveis
são líderes, poderosos, ou mais sábios
outros apenas ouvem calados o que se fala
e no fundo do corredor, em seu quarto,
a mãe adormece, preocupada com suas crias
o cansaço da vida faz doer o seu corpo
as suas pernas são quase inúteis
e no seu peito o coração metálico
marca os seus passos dia a dia
e nessa noite ela sonha
sonha com a família em volta da mesa
as conversas intermináveis,
os risos, as piadas, as brigas, a comilança
seus filhos não cresceram tanto
e o seu velho companheiro ainda esta lá
nessa noite, ela sonha
os morcegos, suas crias, levantam voo
cada um com a sua culpa, cada um com o seu pecado
imaginam que poderiam cantar uma canção
que embalasse o sono de sua mãe
essa mulher que tanto sugam, que tanto amam
que tanta admiração causa
que guarda tantos segredos
mas não sabem como
e choram
suas asas pesam
como se carregassem a humanidade inteira
como se já estivessem definitivamente
presos em suas cavernas mais escuras
(republicado)
domingo, outubro 18, 2009
cenas de parede
nas pálidas paredes
e mostrou seu ventre transparente
quando um inseto noturno
desses que voam
entrou e mexeu suas pobres asas
percebeu o olhar parado
frio e mortal daquele ser esbranquiçado
e se debateu loucamente
por uma única vez olhou a lua
e viu nos olhos da mórbida lagartixa
o mesmo brilho
foi devorado lentamente
inexoravelmente
sábado, outubro 17, 2009
quando vim ontem pela rua
sábado, outubro 10, 2009
na praça
PS: Tem poema meu no Balaio Porreta, aqui.
quinta-feira, outubro 08, 2009
tem poema meu de novo!
terça-feira, outubro 06, 2009
sem noção
quarta-feira, setembro 30, 2009
domingo, setembro 27, 2009
ora direis
Havia 25 milhões de estrelas aquela noite. Foi o que consegui contar. Apertava meus olhos com força para ver se não estava imaginando coisas. Mas não adiantava. Elas se mexiam. Na minha visão míope pareciam bailarinas ensandecidas. Era como me presenteassem com uma dança meio triste, meio azul. As estrelas falavam. O Bilac não saía de minha cabeça: " Ora direis ouvir estrelas, certo perdeste o senso"... E eu as ouvia sim, nitidamente, intimamente. E com medo de mim, fechei a janela. Mas pela fresta, ainda percebia um movimento silencioso daqueles olhos brilhantes, daqueles milhões de olhos brilhantes me olhando.
terça-feira, setembro 22, 2009
chamado
quando chega a noite e a lua entretanto
cordeiro manso e frio na cama
me pego então a contar estrelas
no céu da boca a língua saliva
febre insana no corpo que treme
na rua lobos me chamam
estou pronta para saltar os muros
e atravessar paredes
sexta-feira, setembro 18, 2009
sem assobio
tenho que te dizer hoje que a lua está lá, linda, imensa.
as palavras agitam a minha cabeça.
não se encontram.não são amigáveis.
uma garrafa com café já velho, um cigarro pra acender.
essa tela brilhante do computador, a minha lua.
nessa noite os gatos estão em silêncio.
um assobio calmo e afinado destoa-se do resto da cidade.
é esse assobio que me faz pensar.
o homem do assobio não sabe que olho para ele da minha janela.
não sabe a força de seu assobio.
não sabe que sua paz incomoda.
penso um jeito de parar com isso.
assim a música acabaria.
assim tudo ficaria igual.
sem assobio, sem nada.
quinta-feira, setembro 17, 2009
Constatação
quarta-feira, setembro 16, 2009
na segunda manhã
...e assim, perdivagando nesses pensamentos endemoniados acabei dormindo e o dia se esvaiu assim meio perdido aturdido no centro daquele ciclope daquele som de cabeças sendo cortadas pauleira desdentando bocas e esfacelando crânios e eu a pensar meu deus que poderá ainda vir meu deus meu deus por que tanta doideira numa só tacada será que você já está antecipando o fim eu penava e lembrava o inferno de signos de Pasolini se bem que era muito mais amador e cheio de humor do que esse: esse som( não música, som) ensurdecedor, é foda agüentar esta zuera,mano! E assim eu acabei caindo num sono meio azucrinado sonhando pesadelos acordado viajando nas ondas do inferno e vendo os diabinhos gargalhando lá no fundo do quadro. Perdivagava assim vagabundo na vagazona do entrevigília e sonho e de repente acordei...já não era mais quele dia tinha passado a noite e já era outro dia e já era a manhã do segundo dia... e eu abri a janela, desconfiado, descerrei a persiana devagar como quem não quer nada como caramujo saindo do caracol para se esbaldar na luz do sol e e não houv-ia mais aquela coisa aqueles baticuns aqueles tuntistuntunnnn malditos...ah, havia um solindo lá fora e ...nem entendi ou não acreditava: havia vivaldis sinfônicos voando no ar, eram a primavera o verão o outono e o inverno todos juntos em doces sons que se amalga-amavam nos ouvidos antes surdos- beethoveeeeeens vindos nas asas de abelhas que zumbiam nonas e quintas e maravilhas de Mozart navegando os ares que eram assim meio gelatinosos meio gosmentos de tanta música a pairar parar no ar eu até via eles lá os quatro cavaleiros empunhando rocks dos sessenta
e...ei, será que tomei alguma coisa ontem pra dormir e me ficou essa ressaca essa doideira me fazendo ver o que não é?
.mas não, o diabo não havia vencido e o inferno não era aqui, e agora...ainda havia espaços abertos e flores flores e florestas se abrindo...pensei nos lilazes e nas luzes nas margaridas brancas, sabe aquelas de árvore tipo os ipês aquele escândalo de beleza que até doem nos olhos pensei naqueles velhos interiores e nas pessoas gentes que nem sabem que existem essa música e essas noites e esses desvarios e esses vazios e esses vícios.. pensei nos passarinhos, sim nos passarinhos e no mato e no verde e...
e sei que o diabo não venceu a parada... muitos tamos noutra, ainda, e o mundo ainda tem redenção!
segunda-feira, setembro 14, 2009
na primeira manhã
quarta-feira, setembro 09, 2009
além de mim
terça-feira, setembro 08, 2009
poema dia/ hoje poema meu
sexta-feira, setembro 04, 2009
quarta-feira, setembro 02, 2009
quando vier o dia
e quando vier o dia
os homens estarão mortos
as crianças tristes e perdidas
e órfãs as mulheres
quando vier o dia
ficarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano da cidade
estaremos sedados
a noite e o país em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir
estaremos seguros em nossas casas
e alguém dirá que não existe guerra
(esse poema também está lá no Balaio Porreta, aqui)
sexta-feira, agosto 28, 2009
descoberta
vêem-se somente matos, flores vermelhas
aranhas exóticas, insetos camuflados
as coisas estão como devem estar
pode aparecer uma nuvem negra
pode chover, pode trovejar
mas o poder está justamente nisso
a imutabilidade mutável do universo
e você ali parado olhando
querendo compreender e encaixar fórmulas
querendo descobrir o indecifrável
querendo atinar com o desatino insano
da força imensurável da natureza
e eu te olhando ali parada
querendo te decifrar
querendo descobrir o seu mistério
nesse momento, nesse segundo
somos únicos, somos iguais
a montanha testemunha
esse instante mágico
instante em que nos tornamos magos
instante em que somos infinitos
quinta-feira, agosto 27, 2009
CÓDIGO DA VIDA
sexta-feira, agosto 21, 2009
vento de agosto
as luzes da cidade acenderam a noite
e estou do outro lado
penso quando não pensava no tempo
e tinha sempre uma lua inventada
os pássaros escuros varrem os insetos
este espaço é muito vasto
o vento de agosto entra no meu quarto
e não ouço o seu barulho
e sinto suas mãos frias
e a noite acesa do outro lado
me escondo no escuro
e a imensidão fica pequena
quero fechar as janelas
mas a lua é imensa
levanto-me no vento
e me curvo às suas frases de pedra
quinta-feira, agosto 20, 2009
Tem um poema meu lá!!
terça-feira, agosto 18, 2009
última bossa
essa noite na guanabara
e o o cristo de braços abertos
olha para os últimos boêmios
resquícios de uma geração
sempre à espera
da garota de Ipanema
do Leblon ou de Copacabana
esperam sentados
tomando copos de uísque e cerveja
misturados às suas lembranças e delírios
os cigarros antes sensuais
deixam amarelados os dentes e os dedos
a fumaça esconde suas rugas
e o álcool os faz renascer
no cantinho um violão
joão ainda na vitrola
e o mar uma neblina densa
o redentor os admira
esses homens absolutos em sua dignidade
fiéis a uma história
fiéis a uma época
em que era possível sonhar
sonhar paixões sonhar um país
o cristo se inclina por um momento
levanta a mão e chora
só eles os poetas da cidade sabem
só eles os guardiães da cidade podem chorar
pelo menos esta noite
pelo menos nesta derradeira noite da guanabara
(republicado e muito modificado)
quinta-feira, agosto 13, 2009
noite blues
Não podia ouvir mais esse blues. O nome do cantor não sabia, mas tinha uma voz meio rouca, quase doce. Entrava na minha alma, como se entra em um lugar conhecido. Desliguei o som e saí pela cidade à procura de um lugar que me fizesse esquecer de algum modo o peso do dia. Não vi nenhum rosto conhecido. Entrei em um boteco querendo beber alguma coisa, porque estava frio. Já era noite. E então vi alguns homens jogando sinuca em um êxtase quase animal. Foi como a cena de um filme, eles pegavam o taco como se pega uma mulher. Mexiam, giravam o corpo miravam o buraco, contorciam-se feito serpentes. Ali naquela hora pude perceber um sentido para a vida. Um deles chegou perto de mim e me ofereceu um conhaque, sentou-se a minha mesa e ficou me olhando. Não falou nada, eu também não. Ficamos ali, talvez, minutos, horas, a noite toda. Bebemos mais vários conhaques, o corpo quente, a alma inquieta. E então ouvi aquele som, um blues cantado por uma voz rouca e quase doce. Acho que ele me beijou e disse alguma coisa sobre os perigos da noite.
domingo, agosto 09, 2009
sábado, agosto 08, 2009
casa velha
atrás do fogão fantasmas
nos quartos de portas frias
dormem sós as velhas tias
a geladeira congela
a vida que a casa tinha
vozes quase inaudíveis
dos fantasmas na cozinha
a noite grande e tamanha
a água na bica cintila
a casa não é minha
no balanço da cadeira
o avô invoca
santos e donzelas
no canto a neta espia
a dança das escravas mortas
na janela a lua agoniza
à espera de um novo dia
quinta-feira, agosto 06, 2009
Passa lá !
segunda-feira, agosto 03, 2009
na pia espuma branca
e a noite com suas sombras negras não me deixam ver mais
tem os cabelos nascidos para o sol sua lucidez me perturba
na pia espuma branca com pontos negros e cheiro de lavanda
limpo tudo o sabonete no chão
não posso mais compartilhar suas manhãs
seu cheiro misturado ao vapor do espelho
nem a pasta de dente sem tampa
está tão perto
mas não de mim
OLHA SÓ!!!
sexta-feira, julho 31, 2009
nessa hora
Meus filhos estão longe, a casa vazia.
Os gatos me olham e parecem dizer: será que ela não vai fazer nada? E ao mesmo tempo gostam da minha presença, aninham-se aos meus pés.
Não consigo procurar amigos e nem parentes. Nem fazer qualquer coisa para comer. Quando me dá fome, tomo um café que está ali, ao meu alcance e mastigo um pão de forma velho com manteiga.
A geladeira , como disse alguém, um deserto frio e árido. Não tem bebida, nem vinho, nem cerveja. O cigarro me acompanha em meus devaneios. Gosto de chegar na área e olhar a chuva.
Busco compreender algumas coisas em mim, mas isso também passa. Não estou alegre, nem triste, nem nada. O telefone toca e é uma promessa de encontro. Não quero também. Tenho que me vestir, me arrumar, sair de casa ou preparar a casa para alguém. Então dou uma desculpa qualquer e fujo de qualquer compromisso. Gosto da casa assim, com a cama desfeita, mas aconchegante, com algumas coisas fora do lugar, que fui eu que deixei. Os livros assim espalhados. Leio, mas não me prendo a nenhum. Um poema aqui, outro lá. Trechos de obras já lidas. Às vezes um livro inteiro em poucas horas. Mas é assim que gosto. Vejo tevê e procuro alguma coisa que preste. É difícil, mas consigo. Também, se quiser, mudo o canal a qualquer momento e brinco com as imagens. Ouço uma música que há muito não escuto e me surpreendo: como eu gostava daquela música! E acho uma merda. Durmo em alguns momentos e tenho sonhos estranhos, como ir ao fundo de uma piscina funda, muito funda, cheia de folhas e lama e conseguir voltar à superfície, ilesa. E quando volto à tevê, assisto a uma cena semelhante. Só que o cara não teve a mesma sorte. Afogou-se.
Tocam o interfone. Pode ser o gás, o correio, alguém pedindo alguma coisa, ou mesmo, um amigo. Mas não atendo. Não quero sair dessa inércia. Parece que a chuva parou. E eu parada aqui e os gatos me olham.
sábado, julho 25, 2009
filosofia barata
aquarela/rafael godoy
mas não os creio divinos
a dor e o sofrimento não são divinos
a humanidade feder e exalar horrores
a natureza gritar e transbordar
agonizar em febre e frio por causa do homem
também não
se deus fosse a natureza
não se chamaria flor a flor
nem bicho o bicho
nem mar o mar
nem homem o homem
há mistérios multitudinários
mas ninguém escolheu
comer o pão que o diabo amassou
ser miserável ter fome e desprezo
lutar em uma guerra inaceitável e desigual
morrer aos milhões por bala perdida ou canhão
à míngua ou solidão?
não me fale em livre arbítrio
a escolha não é essa
quem escolheu sofrer até a exaustão?
reverencio os mistérios
mas não me fale em deus
sexta-feira, julho 24, 2009
praga (ou poeminha safado)
tolo é você que pensa que não é
você, você mesmo
com essa cara de safado
com esse ar de desgraçado
com esse cheiro de mulher
você que tinha os olhos cor da lua
que mexia em meus cabelos
me olhava com medo
e me fazia cafuné
cuspirei no seu sorriso
pisarei no seu calo
esmagarei o seu abraço
por onde passar
há de causar horror
um cheiro podre
exalará ad infinitum
e assim quando vier
maldito mal cheiroso mal vestido
encontrará a casa fechada
e qual fênix a sua mulher
segunda-feira, julho 20, 2009
rosas brancas
domingo, julho 19, 2009
baú
o que tirei do baú não eram mistérios
eram panos remendos algumas bijouterias
um urinol branco de ágata uma toalha de renda
um álbum antigo de pessoas desconhecidas
(mesmo que me reconhecesse em algumas fotografias)
um cheiro de poeira a tesourinha da minha avó
a seringa de prata do meu avô
um disco de carlos gardel e el dia que mi quieras
um vestido vermelho e o perfume de uma noite
tirei de lá algumas vidas adormecidas em lembranças
e as ressuscitei na sala de jantar
ficaram cochichando rindo dançando
e eu sussurrando medos
o que tirei do baú não eram mistérios
mas o fechei com força a sete chaves
e era hora do jantar
terça-feira, julho 07, 2009
Atrasados
Estamos atrasados, meu amor
O rio já correu
O sol já se foi
e o dia ainda não foi embora
Perdemos a noite escura
mais negra que os olhos do diabo
Perdemos a hora de dançar com as árvores
com seus galhos como as mãos da morte
O vento está morno e fraco
As flores não têm cheiro
Perdemos o trem
que atravessa a cidade
Não vamos a lugar nenhum
O tempo já passou
Ficamos aqui de mãos dadas
Como duas crianças perdidas
As ruas são longas
e estreitas as esquinas
Estamos atrasados, meu amor
O mundo esmaga os nossos sonhos
lentamente, intensamente.
terça-feira, junho 30, 2009
Pero Jaz
Pero Vaz, vazio de alma e rico de letras
Não entendia a nudez das índias
A beleza de nossas terras
Pensava ele ser o arauto do nosso esplendor
Dono da natureza escravo de seu rei
Pero Vaz Caminha caminhou
Por terras nunca dantes caminhadas
E naufragou no seu assombro
Mergulhou fundo no seu espanto
Mandou ao rei carta que dizia
Não compreender por que o sol
Estava na terra em pequenos pedaços de areia
Que o verde se encontrava também em minerais
Chamados esmeraldas
Que o vermelho do sangue
Derramado em seu caminho
Em lutas contra os imberbes primitivos
Concentrava-se em pedras chamadas rubis
Dizia ser as vergonhas das índias
Vergonhosas demais
E sem pêlos ou roupas para cobri-las
Cobriu-as de pegajosos excrementos
Despejados de seus rins
Como também o fizeram todos os lusitanos
Que na terra estavam, sendo jesuítas ou ateus
E fertilizaram nosso solo com suas impurezas
E violaram o sagrado mistério de nossas mulheres
E ali nascia um novo povo
Crianças mamelucas mestiças mulatas
Com cabeças pequenas demais para pensar
Com o cheiro acre-podre de seus pais
E crescendo viram a terra que não lhes pertencia
Que jamais seria genuinamente sua
E deixaram entrar nobres, bárbaros e plebeus
Varões, eunucos, negros,
Brancos, amarelos,garanhões
E quanto mais gente se formava
Mais a terra lhes era tirada
E desde mil e quinhentos anos
A terra continua lhes sendo roubada
E mesmo que clamem os profetas
Mesmo que chorem os da natureza amantes
Mesmo que sequem todos os rios
Mesmo que acabem todas as matas
Mesmo que não exista mais fauna
Mesmo que morra mais e mais gente
A terra nunca lhes pertencerá
E Pero Vaz de Caminha
Na sua ignorante sabedoria
Jaz em sua terra zombando daquela gente
E no ano da graça de dois mil e tantos
Acharam em seu túmulo
Esmeraldas, ouro e rubis
Encontraram em seu túmulo
Uma pergaminho de brilhantes
E uma incrição com tinta de pau-brasil
Com os dizeres amaldiçoados:
"Mesmo que se plante nesta terra
E aqui se plantando tudo dá
Mesmo que germinem todas as sementes
Mesmo que nasçam seres mais inteligentes
A esse povo não caberá nenhum quinhão"
E feliz jaz Pero Vaz em seu leito de morte
Coberto de todos os brilhantes
Sabendo que a sua praga vingará
E assim foi
E assim será
(poema republicado, feito a partir de uma aula de literatura sobre a carta de Caminha aos alunos do ensino médio)
segunda-feira, junho 22, 2009
você nem sabe
você nem sabe que gosto de capuccino com creme
depois pitar um cigarro olhando a tarde
nem que grito e choro quando meu time joga
nem de quando me levanto de madrugada para ver a noite ir embora
e depois cerrar a persiana para dormir de novo com o sol lá fora
não sabe que gosto da noite da lua
do vento que sopra do outro lado da cidade
nem que gosto da cidade e das montanhas
não sabe que gosto de conversar sobre o planeta e as pessoas
e da música do Clube da Esquina
nem que gosto de tomar cerveja com velhos amigos
e saber que vale a pena
dos gatos que ficam por aqui e sempre me observam
nem sabe do poema que fiz quando olhei para os seus olhos
e que joguei fora- vômito saindo da garganta
não sabe que seu cheiro está em meu corpo
como ferroada de marimbondo bravo
não sabe que depois de ontem
me dissolvi como açúcar no café quente
e ainda estou aqui ao lado do telefone
(imagem: fonte desconhecida)
segunda-feira, junho 15, 2009
por ali
caminhei por ali onde um amigo dos mais queridos
acabava de ser enterrado e o céu estava nublado
um vento frio entrava nas frestas da roupa
fiquei assim olhando aquele lugar cheio de árvores e um lago quase azul
e olhei os nomes de quem já estava debaixo da terra úmida
e pensei em cada nome que li e nas pessoas que poderiam ter sido
olhei a terra mexida e cheia de flores em cima do cimento
e sabia que ele estava ali com o corpo frio
e não queria pensar nele ali debaixo da terra
me lembrei de quando viajamos
das cervejas que tomamos e das músicas que cantamos
dos lugares e das pessoas
de como era bom estar do seu lado mesmo em silêncio
nos risos cúmplices e nos momentos de raiva
de como implicava comigo quando eu derrubava alguma coisa
ou quando lambuzava minha boca e minha mão de manteiga
ou trocava as palavras de um jeito distraído
e quando ele fazia palhaçadas e ria de si mesmo e do mundo
me lembrei de sua família perdida sem sua presença
dos filhos sem pai e do fogão a lenha
me lembrei de uma vida inteira com sua voz sua música sua dança
de um dia quando saímos de manhã e voltamos só de madrugada
e das longas conversas sobre a vida essa mesma vida que ele perdeu
e de deus de sentidos de indagações de confidências de perplexidades
caminhei por ali e pensei que ele estava debaixo da terra
e não queria pensar nisso
já era noite e os faróis dos carros brilhavam
no céu nublado somente uma estrela
e na terra um cheiro de flores
( O Vu se foi dia 10/06/2009)
terça-feira, junho 09, 2009
hoje tem um poema meu no poema dia
http://poemadia.blogspot.com/
quarta-feira, junho 03, 2009
lobos
quando lobos da cidade com seus olhos de neon
sobem solitários a ladeira fria do bairro
mesmo que não tenha lua e a noite seja de ventos
pensam em suas vidas na fumaça e no uísque que deixaram nos bares
nas mulheres que beijaram e juraram ser únicas
pensam que amanhã pode ser diferente mesmo sabendo que não
entram em casa e olham suas mulheres
dormindo amassadas e quase puras e os filhos no quarto ao lado
esses lobos viram anjos subitamente
vestem a camiseta branca e escovam seus dentes
como a limpar os restos do pecado
desejam bons sonhos em silêncio
se enroscam em suas mulheres sob o edredon macio
à noite se esquecem e voltam aos lugares perdidos
beijam mais mulheres e bebem mais uísque
marcam seu território com mãos, línguas e histórias inventadas
e a lua aparece azulada e tímida
esses lobos uivam e seus olhos são de neon
sexta-feira, maio 29, 2009
irreversível
ainda que seus olhos me implorem
e seu corpo se ausente
as lembranças são minhas
e você não pode fazer mais nada
quando a noite me engolir de vez
é esse dia que lembrarei
e você não pode fazer mais nada
mais nada
(imagem do filme: o homem que não estava lá
/ renè magritte)
terça-feira, maio 26, 2009
poema lá
http://versoseperversos.blogspot.com/
sábado, maio 23, 2009
cenas da terra
(para Henrique Bardo Pimenta)
ouvi os gritos de quem estava sendo engolido pela terra
e deles não tive pena
as casas continuavam brancas como fantasmas perdidos
e as crianças corriam loucas pelos passeios
uma mulher acabava de comer uma maçã vermelha e doce
e jogava as cascas para os pombos e abutres
uma velhinha empurrava com a bengala
as fezes dos pardais ensandecidos
o rio transbordava e jogava seus excrementos
contaminando o canal e as pessoas
um bando de velhos jogava cartas
nos bancos da praça abandonada
o poeta tentava achar a palavra que faltava
para completar seu poema de mil versos
os cães mastigavam uma carne transparente
não se sabia se era de gente ou de bicho
cavalos selvagens não corriam
apenas observavam o ritmo da natureza
a terra continuava a engolir os desvalidos e os afortunados
um homem lançava pedras no lago escuro
enquanto isso alguém tocava John Coltrane
e enfeitiçava a lua pálida
a terra parou e vomitou seus mistérios
e vomitou seus filhos seus bichos
sua decadência seus deuses e sua arte
e finalmente adormeceu
quando a escuridão
você está no meio do mar em um pequeno bote
vê uma mancha preta maior que a escuridão
pensa que não haverá mais jeito
então olha para cima e não vê estrelas
as águas são geladas e escuras
você ali no pequeno bote
no meio daquele oceano imenso e gelado
aparecem uns olhos esverdeados
você ali naquelas águas e aqueles olhos
você se agarra a eles a seu brilho
você acorda em sua cama e uns olhos verdes escuros
mais escuros que aquelas águas te olham
então você dorme e por uns momentos sonha
( poema originariamente publicado no blog versos e perversos de Luciano Fraga)
terça-feira, maio 19, 2009
três cachorros
quinta-feira, maio 14, 2009
Benedita
a Daniel Lopes
quando Benedita me disse que já era noite
não acreditei
porque em seus olhos brilhavam dois sóis
e o chá que ela me trazia
tinha o aroma da minha infância
então quis pular da cama
mas suas mãos negras e quentes
me seguravam
e sua voz dizia para eu dormir
depois de noites acordada
ruminando sonhos destoantes
deitei a cabeça em seu colo
e pude dormir como dormia nos braços de minha vó
Benedita cantou canções e dormiu com meus sonhos
a noite ficou doce e suave
e tinha gosto de quintal e de manga caída do pé
sábado, maio 09, 2009
mais um susto
sexta-feira, maio 01, 2009
estranhamente
tutuco chiquinha
Estranhamente veio a dor aguda como faca quente cortando a carne e o coração que não estava no lugar certo, pelo menos naquela hora.
Cheguei ao espaço branco com lâmpadas azuladas e brancas com gente espalhada por todos os lados e tinham alguns que usavam máscaras e aparelhos gelados pendurados no pescoço. E então eles me furaram várias vezes, mil vezes e tiraram chapa e olhavam dentro do corpo com gel gelado e como espectros dançavam dentro de mim.
Vi seres pálidos e doloridos e eu era um deles. Injetaram líquidos esverdeados e ardentes. Me sedaram e me furavam de novo só que desta vez eu dormia e fui abduzida e submetida a experiências estranhas. Tiraram de mim uma pedra que talvez tivesse vindo da lua e tiraram pedaços do meu corpo e me injetaram drogas para acabar com os seres microscópicos que infestavam meu sangue.
E vieram muitos amigos e muitos da família e alguns desconhecidos. Olhavam pra mim e eu via nos seus olhos a minha doença . Via em seus olhos que a minha vida estava escorrendo em minha cara branca e no soro pendurado em meu braço, em minha veia.
A dor vai indo e me levando para outros caminhos. Meus dois gatos me olham e sentem um cheiro diferente, mas deitam sobre os meus pés frios e o mundo fica mais aconchegante.
convalescendo
sexta-feira, abril 24, 2009
hercília fez...
http://fernandeshercilia.blogspot.com/
sábado, abril 18, 2009
manhã
quarta-feira, abril 15, 2009
Eles
No dia em que estava acorrentada
aos pés da mesa de meu pai
Vieram todos eles
De uma só vez e sussuraram maldições
Vieram todos de uma só vez
Nenhuma pena tiveram
Vociferavam palavrões
Diziam coisas impróprias
Não ligaram para os meus olhos
Não ligaram para meu choro mudo
Acorrentada ainda estava
E dançavam à minha volta
Mostravam seus corpos nus e retorcidos
E quase ingênuos e quase maus
Deliravam em seu êxtase
Falavam línguas estranhas
E exibiam sua enormes línguas
Viscosas e vermelhas
Às vezes as tocavam em mim
E eram quentes
E eram úmidas
Ainda acorrentada
Ainda atormentada
Vi pouco a pouco
Todos eles indo em direção à porta
Que estava entreaberta
E fugiam delicadamente
Saíam em harmonia
E eu ali acorrentada
E eu ali apavorada
E quando meu pai chegou
Abriu o cadeado
E me soltou das correntes
Perguntou:
"Está com fome, menina?"
E me deu algumas chibatadas
E me disse: "Faço isso para o seu bem"
Respondi docilmente:
Sim, meu pai
E fiquei olhando aquela porta
Esperando que eles voltassem
E de novo meu pai saiu
E de novo me acorrentou
Mas nunca mais eles vieram
Nunca mais ouvi as suas línguas
Estava finalmente amaldiçoada
A solidão para sempre
Apenas um som
A voz de meu pai
"Está com fome, menina?"
E eu disse naquele dia:
"Sim, meu pai"
E vi em seus lábios
Um ligeiro sorriso
( texto escrito há mais tempo)
sexta-feira, abril 10, 2009
devaneios quase apocalípticos
Descartes descartou as curvas
Maquiavel nem tão maquiavélico era
Sócrates bebeu do pŕoprio veneno
Platão eternizou-se nas cavernas
Pilatos ensaboou as mãos
A Aristóteles deixou as moedas
Pedro negou-se três vezes
Judas se perdeu nos confins do mundo
Beethoveen chegou à perfeição
Nero incendiou tudo
Lúcifer desceu à terra
Deus abandonou a criação
Dante, inferi que o inferno é aqui
Chamas ardem por todos os lugares
Chamo alguém clamo berro
Os edifícios sumiram das cidades
Nunca mais a lua!
Nunca mais a lua...
A lua nunca mais