quinta-feira, janeiro 29, 2009

e Dylan tocava gaita

quando o medo criou raízes
e me plantou em casa
me nocauteando com suas mãos frias
tinha um anjo bêbado de asas negras
no sofá branco da sala

sorria e ouvia Dylan
entendia cada palavra
me oferecia uísque de terras distantes geladas
e eu ali estátua branca enebriada

o anjo bêbado de asas negras
perdido em seus caminhos
parou ali em minha casa
e ouvia Dylan de olhos fechados
no sofá branco da sala

quando o medo criou raízes
fiquei debaixo de suas asas
Dylan tocava gaita
e por um instante nesse instante
os sonhos não tinham medo

segunda-feira, janeiro 19, 2009

estranho silêncio


estranho silêncio que me acompanha
quando não quero ouvir as vozes do mundo
nem saber o que nele acontece
nem de quantos mortos se faz uma guerra
nem de quantos tiros se ilumina uma cidade

estranho silêncio que me atormenta na noite
e me deixa navegar desgovernada desvalida
sem âncoras ou vendavais

enquanto percorro esses caminhos tristes e equivocados
alguns homens tomam cerveja no bar da esquina
e eu queria estar lá

quinta-feira, janeiro 15, 2009

pode ser

se esses olhos de pássaro continuarem me voando
se essa boca disser alguma palavra dócil
se essas mãos insinuarem algum caminho
se esse cheiro me lembrar manhãs de abril
pode ser que os grilhões se soltem
e a pedra que insiste em permanecer em meu peito
se dissolva em milhões de estrelas

quarta-feira, janeiro 07, 2009

possuída

a manhã pede um pouco de gosto pela vida
o sol aparece depois de tanta chuva
acontece que o mofo se instalou nas minhas veias
nos meus cabelos nas minhas unhas
o mofo está cobrindo meus olhos
e criou musgo na minha boca
os sons que chegam são quase inaudíveis
tenho medo de ouvir minha voz
e perceber não ser minha
os gritos da guerra estão próximos
e não os ouço
o coração está úmido e verde
o lodo que cobre as paredes e os muros
tomou conta definitivamente de mim