sábado, novembro 26, 2011

a cidade é outra

arte/ rafael godoy

visto de cinza a cidade
as ruas têm prédios demais
e eles não se cansam de criar outros a cada dia
as britadeiras rodam na minha cabeça
 escondem as sirenes e buzinas
os gritos dos gatos o canto dos bêbados
as construções apagam a lua  espantam o vento
 silenciam os poetas
as montanhas são dilaceradas dinamite e cimento
a cidade que era minha
vai embora de mim
espalha pó nos cabelos embaça meus olhos
e deixa um gosto estranho na saliva
a cidade é outra
eu sou outra
mas ainda posso ver através da fumaça do cigarro
um sol pálido
que começa a nascer





sexta-feira, novembro 11, 2011

quinta-feira, novembro 03, 2011

estrelas da noite

rascunho para tela/ rafael godoy
a daniel rubens prado 
        (buda)

passavam sempre ali as putas
piranhas vadias maquiadas
pisavam com passos leves
purpurinas meninas mulheres

passavam ali e atormentavam
os senhores as senhoras
pudicos em seus lares e dogmas
passavam sim e eram belas e fogosas

a noite descia e trazia consigo
as estrelas- vênus das ruas
brilhavam e iluminavam
a vida e os desejos dos homens

não se sabia se eram fêmeas machos
travestidos andrógenos bichos bichas
não se sabia se sonhavam se amavam
se gozavam se seduziam se machucavam

eram estranhos seres felizes
donos da madrugada dos mundanos
dos menestréis mendigos magistrados
dos miseráveis dos mentecaptos dos mortos-vivos

na sombra da noite eram morcegos iluminados
à procura de sangue
dos inocentes ou dos culpados
vampiros imortais em seus desvãos de sedução

quando a noite se ia
e não se via mais a lua
as estrelas das noites
senhoras das ruas e dos bares
maldição de todos os lares
desapareciam nos bueiros da cidade