sábado, março 22, 2014

marcha à ré

eles estão voltando e vão marchar pela volta da ditadura, pela volta da mais terrível desigualdade social, pela volta da tortura nos porões sujos da repressão. eles vão continuar perseguindo gays, negros, pobres que julguem suspeitos ou qualquer um que pareça comunista ou revolucionário. eles vão marchar em nome de deus, em nome da família e vão amarrar nossas conquistas e nossos sonhos nos postes e vão querer escarrar na nossa cara e vão querer nos chutar, espancar, nos virar de cabeça pra baixo e prender nossa voz , vão querer que os excluídos continuem excluídos e vão massacrar os nordestinos, os desvalidos, os miseráveis. eles não vão deixar que o porteiro que trabalha em seu condomínio viaje no mesmo avião que eles, não vão repartir o bolo, vão se lambuzar só eles e varrer a sujeira pra debaixo do tapete. eles estão voltando e minha angústia, o meu espanto, e a minha indignação também. eles vão queimar os livros que achem perigosos e invadir os computadores e fazer uma grande fogueira. aí, meu amigo, os demônios virão e se sentirão em casa. e vão dançar sobre nossos corpos feridos, vão pisotear nossos cadáveres e vomitar na nossa cara. e então eles dirão que fizeram justiça e vão lamber as mãos sujas dos generais. fiquemos atentos, há muitos lobões azedos, azeredos e azevedos. há muitos jabores, garcias , castanhedes e mainards. há muitas sherazades, leitão e leitoas enfurecidas. fiquemos atentos, olhos, ouvidos e corações alertas. ainda há esperança, ainda há a poesia, a arte, a música e há um país e um sonho que não podemos esquecer nunca. fiquemos atentos. muito atentos.

sexta-feira, março 21, 2014

em que mares?

em que mares, em que ruas, em que partes mais remotas do mundo você se escondeu?
há quantas andam suas ideias de como seria o mundo ou o fim dele?
o mundo não acabou, você não acabou e eu estou acabada
quase morta
em que sonhos se meteu que eu não estou neles?
ficava te olhando como vendo um filme
e quando você dava o primeiro trago era um delírio
e eu ia olhando a fumaça como um incenso mágico
e eu ia te vendo como um deus na neblina
agora vem uma tristeza lá do fundo e eu não consigo mais lembrar
nem pensar que você não vem mais

quinta-feira, março 20, 2014

saturno


saturno na lente mágica
as retinas prenhas
os anéis que tu me deste
nesta noite clara
não eram de vidro
mas quebraram a monotonia
e me tornaram por um segundo
a noiva do universo