sábado, setembro 13, 2014

eu e meus gatos

enquanto escrevia ela deslizava em cima do teclado, e as letras foram aparecendo numa língua desconhecida que talvez só os gatos entendam. e ela queria chamar minha atenção de qualquer jeito. miava baixinho e me olhava com aqueles olhos verdes e infinitos. por um momento parei e fiquei observando essa gata que me acompanha há 14 anos. chiquinha é o nome dela e está presente em quase tudo que faço. ela sabe que vou chegar até mesmo antes de mim, me espera na porta junto com tutuco, meu gato velho e branco. ele talvez seja minha alma em forma de gato. fiquei pensando nessas coisas de todos os dias, nessas companhias tão presentes, no meu apartamento com pelos, nas cadeiras e sofás meio destruídos por causa deles, na ausência de alguns amigos que têm horror a pelos ou a gatos. fico pensando que eles não conhecem o mundo lá fora, que a realidade deles é essa mesma e mesmo que eu deixe a porta aberta, eles só saem até o corredor e voltam rápido. e parecem que gostam disso aqui. quando ficam na janela olham lá fora com alguma indiferença a não ser que algum inseto ou pássaro passeie por ali. aí o instinto é mais forte, a gata em posição de ataque, os pelos arrepiados, olhos paralisados e, se der, dá o bote. o velho gato branco se esconde diante de qualquer presença estranha, mesmo que seja uma formiga ou qualquer pessoa desconhecida. enquanto escrevo eles estão aqui ao meu lado, esperando alguma coisa, algum sinal. mas eles sabem que estou aqui e eu sei que eles estão por perto. a gente vai envelhecendo junto e a gente sabe que não vai durar muito.