terça-feira, fevereiro 25, 2014

só assim





 

aquela hora fazia pensar mais.
não sabia por que, quando o dia anoitecia, uma angústia louca tomava seu peito com força.
ficou por uns bons momentos olhando o pôr-do-sol, olhando a sombra de um  pássaro na luz quase morta da tarde.
e cada vez mais queria que tivesse só a noite, só o escuro, só o som das pessoas indo embora ou entrando nos bares.
e cada vez mais queria que ela aparecesse no meio da escuridão e lhe dissesse que estava tudo bem, que essa sensação iria passar. 
queria que ela mexesse em seus cabelos e que ele pudesse enfiar a cara nos seus peitos e sentir o perfume que não sentia há muito tempo.  
queria que ela falasse do último filme que viu e da música que  ela gostava de dançar.
queria que ela bebesse com ele até a última gota e o seduzisse de todas as maneiras, mesmo que fosse mentira, mesmo que fosse só nesse fim de tarde.
só assim ele teria um pouco de paz, só assim ele não teria que fechar as cortinas todas as manhãs até que finalmente a noite viesse.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

há um clima de conspiração nos rodeando. há uma torcida pra que tudo dê errado no país. há a pressão dos eua pra não deixar o país respirar sem seus grilhões. há a intenção clara e forte de desmoralizar a venezuela, cuba e todos que ousam enfrentar o tio sam. há uma corrente do mal à direita e dos desavisados que têm orgasmos múltiplos cada vez que uma notícia alarmante chega na grande mídia. há os que clamam por um governo militar, que têm saudade dos generais. há os que vomitam sua (in)verdades na nossa cara todos os dias, todos os minutos e têm como seus arautos mainards, reinaldos azevedos, datenas, boners e jabores. há os que clamam por prender os corruptos quando eles se corrompem todos os dias, nas coisas mais triviais. há os que defendem o uso da tortura e de violência contra os ladrões nossos de cada dia, mesmo que seja por milícias ou grupos de justiceiros de classe média alta. há os que defendem a pena de morte. há os que pregam em nome de jesus e se lambuzam nos preconceitos, subornos, humilhações, promiscuidades e roubam dos ignorantes o pouco que têm.
mas há ainda os que acreditam que dias melhores virão, que é possível um país, que é possível acreditar. e eu quero estar no meio deles.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

esse dia de verão



o peso do sol nas ruas
o  cheiro da chuva que nunca vem
o despertar involuntário 
o gosto do café rápido na língua
a vida esquecida em alguma esquina
o dia escorrendo pelos olhos 
o sangue secando lentamente
o coração sempre no mar
o pôr-do-sol como um inferno indo embora