quinta-feira, julho 31, 2014

entre bougainvilleas e demônios

entre bougainvilleas e demônios

não que essa bougainvillea não me inspire
ou esse bem-te-vi solitário não me diga alguma coisa
existe entre mim e as coisas lá fora um abismo escuro
e a estrada não aponta o sol
esperava que você fosse ao inferno comigo
e me dissesse que nem tudo estava perdido
mas preferiu pegar o primeiro voo e bater suas asas aflitas
ir para um mundo onde não estou
pra que então o telefone depois
e dizer que sente a minha falta
cara os dias e noites são todos meus
os anjos e os demônios me pertencem
e sei que quando acordar eles vão estar lá
mas você não

sexta-feira, julho 18, 2014

e quando vier o dia

e quando vier o dia
os homens estarão feridos
as crianças tristes e perdidas
e violentadas as mulheres

quando vier o dia
restarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano das cidades

estaremos sedados
a noite e as nações em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir

mas é mais forte o grito e o choro das gentes
mais forte que todo o gás que faz chorar
que todas as balas de borracha que ferem

mais forte que aviões atingidos no céu
que a violência covarde e desigual
que mata e trucida um povo

queremos não ver queremos não ouvir
mas a alma sente
e chora por essa gente
e torce e se revolta e se entristece

e alguns dirão que sempre foi assim
aplaudirão as atrocidades
melhor fechar as janelas
melhor fechar os olhos

e quando vier o dia
não haverá sol
mas nuvens de fumaça e sangue