sexta-feira, abril 24, 2009

hercília fez...

Gente, tem um poema que a Hercília fez pra mim no blog dela. Vale a pena. Recomendo, narcisismo à parte. Beijos.

http://fernandeshercilia.blogspot.com/

sábado, abril 18, 2009

manhã

duas portas fechadas
para um corredor que dá para o mundo
foi o que vi ao acordar de manhã
foi o que me fez querer sair de casa
abrir a porta da rua
e sentir o ar quente da cidade

quarta-feira, abril 15, 2009

Eles

arlequim/estudo para aquarela/rafael godoy


No dia em que estava acorrentada
aos pés da mesa de meu pai
Vieram todos eles
De uma só vez e sussuraram maldições

Vieram todos de uma só vez
Nenhuma pena tiveram
Vociferavam palavrões
Diziam coisas impróprias
Não ligaram para os meus olhos
Não ligaram para meu choro mudo

Acorrentada ainda estava
E dançavam à minha volta
Mostravam seus corpos nus e retorcidos
E quase ingênuos e quase maus
Deliravam em seu êxtase

Falavam línguas estranhas
E exibiam sua enormes línguas
Viscosas e vermelhas
Às vezes as tocavam em mim
E eram quentes
E eram úmidas

Ainda acorrentada
Ainda atormentada
Vi pouco a pouco
Todos eles indo em direção à porta
Que estava entreaberta

E fugiam delicadamente
Saíam em harmonia
E eu ali acorrentada
E eu ali apavorada

E quando meu pai chegou
Abriu o cadeado
E me soltou das correntes
Perguntou:
"Está com fome, menina?"

Nenhum som saiu de minha garganta

Ele pegou o chicote
E me deu algumas chibatadas
E me disse: "Faço isso para o seu bem"

Respondi docilmente:
Sim, meu pai
E fiquei olhando aquela porta
Esperando que eles voltassem

E de novo meu pai saiu
E de novo me acorrentou
Mas nunca mais eles vieram
Nunca mais ouvi as suas línguas

Estava finalmente amaldiçoada
A solidão para sempre
Apenas um som
A voz de meu pai
Que perguntava sempre:

"Está com fome, menina?"

E eu disse naquele dia:
"Sim, meu pai"
Ele guardou o chicote
E vi em seus lábios
Um ligeiro sorriso

( texto escrito há mais tempo)

sexta-feira, abril 10, 2009

devaneios quase apocalípticos

escuro/estudo para aquarela/rafael godoy

Descartes descartou as curvas
Maquiavel nem tão maquiavélico era
Sócrates bebeu do pŕoprio veneno
Platão eternizou-se nas cavernas

Pilatos ensaboou as mãos
A Aristóteles deixou as moedas
Pedro negou-se três vezes
Judas se perdeu nos confins do mundo

Beethoveen chegou à perfeição
Nero incendiou tudo
Lúcifer desceu à terra
Deus abandonou a criação

Dante, inferi que o inferno é aqui

Chamas ardem por todos os lugares
Chamo alguém clamo berro
Os edifícios sumiram das cidades

Nunca mais a lua!
Nunca mais a lua...
A lua nunca mais

domingo, abril 05, 2009

fim de tarde

É claro que não foi do jeito que eu imaginava. Nem podia ser. Aquela hora em que as pessoas passam voltando para casa, a cidade gemendo buzinas e sirenes, a correria louca desatinada e ele ali , sentado , tomando um café e pensando no que vai me dizer. Então chego e trago um sorriso meio tímido, meio assustado. Ele acende um cigarro e joga a fumaça para o ar e me pergunta o que fazer. Falo sobre o trânsito, da casa velha que ficava perto do Arrudas e de contas a pagar.-Você já viu aquele filme? Ele responde que não e sussurra uma melodia dos Beatles: "I'm so tired".... Pergunto o que almoçou hoje e ele me ignora. Raspa a garganta e acende outro cigarro. Disparo na fala, insinuo ciúmes, imito a cena de um filme que vi algum dia. Peço um uísque com gelo. Ele diz que bebo demais, que é cedo pra começar. Não retruco, concordo em silêncio. Ele também pede um, sem gelo. Pego um embrulho, guardado na bolsa e entrego pra ele. Ele me olha com os olhos molhados e escuros como a noite que chega. Não consigo ficar parada e peço mais um uísque, vou ao banheiro, molho o rosto na água fria, as lágrimas são quentes . Percebo quando estou voltando que a mesa está vazia. Tem um guardanapo e um trecho de " I"m so tired" , escrito com tinta azul: " I wonder should I get up and fix myself a drink?" Ele volta. O copo na mão. "I'd give you everything I've got for a little peace of mind". Vamos de mãos dadas para casa.

(texto escrito há mais tempo)

quarta-feira, abril 01, 2009

expurgo

entre bruxos e velas
vomito veneno e vísceras
ensandecida e crédula
no meu último ato místico
e me salvo sem pudor
de seus pecados

estudo para tela/rafaelgodoy