sábado, setembro 25, 2010

na praça

desenho: rafael godoy

no caos de minha cidade às seis da tarde não tinha mais nenhum pardal. nem que eu olhasse todos os fios, todas as eiras e beiras e procurasse no meio da praça não tinha nenhum pardal e fiquei perdida olhando para aquilo tudo. passou um cara pedindo pra engraxar meus sapatos e eu estava descalça porque fazia calor demais e a primavera tinha começado. mas ele insistiu e eu disse: hoje não dá, cara! então dei umas moedas pra ele e falei que o fim de tarde estava estranhamente belo, mesmo sem os pardais. o cara me abriu um sorriso dos mais lindos que já vi, saiu rápido e trouxe algumas latas de cerveja gelada e ficamos conversando sobre a cidade e o pôr- do-sol. os pardais foram chegando um a um e ficaram ali como se entendessem nossas palavras e como se pressentissem essa possível e intensa primavera.

(texto republicado)

sexta-feira, setembro 17, 2010

filhos na noite

imagem: google

irmãos na noite espalhados
na casa da velha mãe
hoje não é festa, não é aniversário
e surge a pergunta mortal
quem vai ficar com ela?

como se ela não pensasse
como se ela fosse a carga mais pesada

a mãe poderosa infalível
mas memória falha
mergulha nas suas sombras
nos seus medos e sofre

por que meus filhos estão aqui?
queria afagá-los
queria carregá-los no colo
queria alimentá-los e enchê-los de alegria

os filhos como morcegos agitados
começam a se debater
quem vai ficar com ela, a mãe?

uns esbarram as asas frágeis nos outros
uns tentam perfurar o coração dos outros
uns se acham insubstituíveis
são líderes, poderosos, ou mais sábios
outros apenas ouvem calados o que se fala

e no fundo do corredor, em seu quarto,
a mãe adormece, preocupada com suas crias

o cansaço da vida faz doer o seu corpo
as suas pernas são quase inúteis
e no seu peito o coração metálico
marca os seus passos dia a dia

e nessa noite ela sonha
sonha com a família em volta da mesa
as conversas intermináveis,
os risos, as piadas, as brigas, a comilança
seus filhos não cresceram tanto
e o seu velho companheiro ainda esta lá

nessa noite, ela sonha

os morcegos, suas crias, levantam voo
cada um com a sua culpa, cada um com o seu pecado

imaginam que poderiam cantar uma canção
que embalasse o sono de sua mãe
essa mulher que tanto amam
que guarda tantos segredos

mas não sabem como
e choram

suas asas pesam
como se carregassem a humanidade inteira
como se já estivessem definitivamente
presos em suas cavernas mais escuras

(texto republicado)

quinta-feira, setembro 09, 2010

vida de cachorro no poema dia

É só ir lá e conferir. Para isso é só clicar aqui. Beijos

quinta-feira, setembro 02, 2010

Um vídeo de Luciano Fraga sobre meu texto e um poema de Nina Rizzi pra mim

Oi, gente, uma grata e bela surpresa: O Luciano Fraga fez um belo vídeo com meu texto: "sábado à tarde numa esquina". Ficou muito legal. Pra conferir é só clicar aqui .

A Nina Rizzi também fez um poema pra mim sobre esse texto e vale a pena conferir em seu blog ellenismos.

Beijão.