domingo, junho 23, 2013

tô com preguiça disso tudo. desse papo todo contra o governo e todos os políticos de maneira geral, de marina silva e joaquim barbosa. do não reconhecimento dos avanços que o governo lula e dilma conseguiram. do não mensalão tucano. tô com preguiça desses evangélicos autointitulados de donos da moral e bons costumes. tô com preguiça desse discurso vazio e sem embasamento. da rede globo. da polícia. dos manisfestantes. de todas as pecs. a classe média acordou? o povão já tá acordado todos os dias às cinco da matina pra pegar o ônibus e trabalhar. gostei das manifestações. mostraram que o povo está no limite. os administradores não podem mais brincar e zombar como zombam do povo. mas tô com preguiça do que vem por aí. de onde isso vai parar. e um certo medo

sábado, junho 15, 2013

e quando vier o dia

e quando vier o dia
os homens estarão feridos
as crianças tristes e perdidas
e estupefatas as mulheres

quando vier o dia
ficarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano da cidade

estaremos sedados
a noite e o país em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir

mas é mais forte o grito das gentes
mais forte que todo o gás que faz chorar
e  que todas as balas de borracha que ferem

queremos não ver queremos não ouvir
mas a alma não sossega
e chora por esse país  por essa gente
e torce por esse país  e por essa gente

e alguns dirão que não há guerra
melhor fechar as janelas


                                                      (texto republicado e muitíssimo alterado)

segunda-feira, junho 10, 2013

a cidade é outra

visto de cinza a cidade
as ruas têm prédios demais
e eles não se cansam de criar outros a cada dia
as britadeiras perfuram minha cabeça
 escondem as sirenes e buzinas
os gritos dos gatos o canto dos bêbados
as construções apagam a lua  espantam o vento
 silenciam os poetas
as montanhas são dilaceradas dinamite e cimento
a cidade que era minha
vai embora de mim
espalha pó nos cabelos embaça meus olhos
e deixa um gosto estranho na saliva
a cidade é outra
eu sou outra
mas ainda posso ver através da fumaça do cigarro
um sol pálido que começa a nascer

quinta-feira, junho 06, 2013

A noite de Heitor

De algum lado da cidade vinha um frio estranho para essa época do ano. Heitor abriu a janela, a pequena janela do seu quarto fedido e imundo. Colocou o rosto para fora e sentiu um vento meio de lado, que não parecia pertencer àquele lugar. Olhou para cima, para baixo, para os lados e viu que não tinha ninguém nas outras janelas, só ouviu um ruído, quase como um sopro. Lembrou-se da noite que tinha tido com uma mulher. Uma noite quente, extremamente, quente. Os lençóis estavam fora do colchão, e havia restos de uísque nos copos, pontas de cigarro nos cinzeiros e um cheiro de quase morte. No chão, além da calça jogada, um batom sem a tampa, um papel de chocolate. Entrou no chuveiro e deixou que a água quente inundasse seu corpo, sua alma. O vapor condensava-se no espelho da pia. Heitor passou a toalha no espelho e o que viu o assustou. Era um outro homem o que estava ali: mais velho, mais cansado, mais triste. A última imagem que tinha de si não era essa. Pegou o aparelho de barbear, ensaboou o rosto e fez a barba. Entrou debaixo do chuveiro e ficou algum tempo se limpando com o sabonete de erva-doce que alguém havia lhe dado. Enxugou-se com uma toalha limpa. Ao abrir a porta da sala, notou um bilhete debaixo da porta. Era dela, de Valeska, a mulher da noite. Uma lufada de ar gelado rompeu pela porta e o envolveu. Ficou ali parado, olhando o vazio do corredor.