sexta-feira, abril 27, 2012

vou te dar meu último verão

arte:rafael godoy

vou te dar meu último verão
todo o outono amarelo
e quando me alcançar
vai ver que sou o mais puro inverno
não dos trópicos
mas dos lugares mais frios da terra
terras da sibéria
não adianta me dizer para abrir as janelas
o sol me é estrangeiro
tenho em mim geleiras ancestrais
meu coração não bate
vacila descompassado
 selvas do universo me rondam
e mesmo assim você vai me recriar
e  me amar com tudo que sou
porque você
precisa de uma criatura só sua
mesmo inventada 
mesmo com essas sombras geladas

segunda-feira, abril 16, 2012

pássaro negro

desenho:estudo de mulher/rafael godoy

venho te dizer que não  preciso mais de seu sorriso claro
nem de seus olhos úmidos quando se despede
acordei antes do dia e vi alguns pássaros noturnos procurando  luz
quando a manhã chegou, desapareceram
descobri que sou um pássaro sem canto e sem asas
preciso ficar no escuro algum tempo
quando o inverno chegar talvez saia com o frio
e me esconda debaixo de blusas negras e quentes
não tem espaço pra você, meu amor
sua alegria não pode se perder em mim
nem sua juventude enroscar-se na minha pele gasta
sou um pássaro noturno e preciso do escuro
não mais de seu brilho e de sua beleza

segunda-feira, abril 09, 2012

hoje no poema dia

           Depois de uma longa pausa, volto ao poema dia.
 Pra conferir é só clicar aqui http://poemadia.blogspot.com.br/2012/04/canto-meio-desesperado.html
            Beijos

quinta-feira, abril 05, 2012

bestial


arte: possivelmente o autor seja rafael godoy

dri, ele me falou
saia dessa letargia
rompa a casca
me lembrei de bashô
e o que sempre quis como epitáfio:
"casca oca
a cigarra
cantou-se toda"
pensei:  foda-se mil vezes o mundo
e foda-se qualquer movimento
foda-se essa lua enorme e redonda
foda-se a a quinta, a sexta, foda-se a paixão
foda-se tudo
e recitei o verso de pessoa:
"à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"
não tenho sonhos hoje
não sei se terei algum dia
e foda-se se já morri em grande parte
me lembro também de ana cristina cesar:
"tenho ciúmes deste cigarro que você fuma
tão distraidamente"
e tem os amigos, os filhos
o cigarro que fumo e tem você que não fuma 
e penso que a poesia pode salvar
mas não hoje
não com esse poema bestial