domingo, dezembro 23, 2012
domingo, dezembro 16, 2012
entre mim e a cidade
tenho em mim essa fera adormecida
garras prontas para o ataque
a velha loba bêbada e solitária
as luas que já vi ainda brilham nos meus olhos
a neblina nunca me deixa
sinto o cheiro do mar que não existe
e farejo a noite sedenta
o vinho que tomei ontem ainda exala dos poros
a cidade iluminada de natal me afasta
não entro em shoppings e corro de papais noéis
mas a cidade é assim nessa época
e ainda bem que tem os bares
o pôr-do-sol
os amigos as esquinas
e os deuses anônimos das ruas
quarta-feira, dezembro 05, 2012
o cara que veio entregar pizza
o cara que veio entregar pizza olhou o filme que passava na tv
eu com a pizza na mão e ele olhando a tv
o cara me disse que a vida parecia aquele filme
que contava a história de um mundo sem futuro
a terra deserta vermelha só com mortos-vivos
o cara que veio entregar pizza me disse que teve um sonho
igual ao filme que passava
e ele olhava o filme e a pizza esfriava na minha mão
o cara que entregava pizza não quis o dinheiro
o seu olhar ficou triste
e ele disse que entendeu tudo
o cara que entregava pizza foi encontrado vagando
pelas ruas da cidade
o céu era vermelho e as pessoas
entravam nos shoppings com olhos sem vida
o seu olhar ficou triste
e ele disse que entendeu tudo
o cara que entregava pizza foi encontrado vagando
pelas ruas da cidade
o céu era vermelho e as pessoas
entravam nos shoppings com olhos sem vida
segunda-feira, dezembro 03, 2012
como é que a gente fica assim nesse intervalo entre a segunda e o resto dos dias? como que a gente ultrapassa esse abismo mortal que insiste em apertar o peito e deixa o coração batendo esquisito? tá bom, você pode ouvir a música certa e observar os gatos brincando com a sombra da persiana. você pode pensar em não ir ao trabalho e tomar cerveja durante o dia ou ver um filme tipo b. e ler todos os textos que não leu durante a outra semana ou simplesmente tomar dois dormonids e dormir durante dois dias e meio. mas aí se lembra que a geladeira está vazia e que tem uma porrada de coisas pra fazer. que o telefone toca e estão te oferecendo uma viagem incrível e que ainda não viu o amigo que chegou de longe. você se lembra que a sua cabeça não é a mesma de quanto você podia fazer isso e ficar sem culpa. e inevitavelmente chega à conclusão de que você está velha e cansada e que a vida te venceu pelo menos nessa segunda-feira.
terça-feira, novembro 27, 2012
doce caminho
arte: rafael godoy
queria não ter essa cara amassada
esses olhos cansados
e o coração estranho
queria ser o que não fui
mas sou o passado
com o corpo podre e gasto
mas gosto de abrir a janela
e ver essas manhãs cinzas
me batendo nos cabelos
ainda posso ouvir os stones
dylan joplin tom e chico no sofá de casa
ler poemas ver bons filmes
fumar o meu cigarro sem grilhões
e beber meu vinho sossegadamente
parece que o caminho para a morte
pode ser mais doce em dias como esses
(republicado)
quinta-feira, novembro 22, 2012
dia molhado
arte: rafael godoy
morri ontem mais uma vez
e minha alma perambula por essas ruas de lama e chuva
a cidade chove demais e não para
o rio arrudas transborda e joga o lixo nas calçadas
sou o que resta de mim
e não é bonito o que tenho agora ou terei depois
não posso pular
ou salvar as pessoas debruçadas ali
as luzes de natal são molhadas e frias
as capas e os guarda-chuvas respingam
incomodam
vejo o que não queria ver
mas tem uma flor que boia no rio
o mar está longe
estou parada na chuva
e olho o rio de lama invadindo a cidade
minha alma molhada sai pelos olhos
mas me lembro de uma música de tom
pode ser que amanhã venha o sol
ou chova de novo na roseira
segunda-feira, novembro 19, 2012
atroz idade
desenho: rafael godoy
ratos cinzas e inquietos passeiam
nos porões de minha infância
acordo e vejo um sorriso meio pálido
e uma mulher quase velha no espelho
nos porões de minha infância
acordo e vejo um sorriso meio pálido
e uma mulher quase velha no espelho
nas pequenas rugas escondidas sob o creme
muitas histórias esquecidas
e várias vidas ávidas por juventude
muitas histórias esquecidas
e várias vidas ávidas por juventude
não tem mais corpo
não tem mais volta
mas a moça de tempos atrás
diz que ainda vale a pena
não tem mais volta
mas a moça de tempos atrás
diz que ainda vale a pena
terça-feira, outubro 30, 2012
você acorda e pensa num modo mais fácil de não pensar que o dia poderá ser uma merda. você acorda e não quer esse calor invadindo o seu corpo nem esse sol feio nesse céu indefinido de quase chuva. olha pro lado, faz um café, dá uma ajeitada na casa, põe água e comida pros gatos, come uma fruta. fuma o primeiro cigarro. ouve a primeira música. liga o computador e não tem nada de muito novo. quando percebe, tá na hora do almoço e nenhuma fome, mas você tem que comer. você tem que sair e fazer as coisas na rua. tem que trabalhar, fazer sacolão, conversar um pouco com o vizinho. tem que saber da mãe, dos irmãos, dos filhos. tem que se inteirar das notícias do mundo e pensar que o mundo é isso. não se incomodar com o furacão na américa, com o ódio da mídia conservadora nem com o assalto que acabou de acontecer na esquina. tem que esquecer da briga com sua amiga, da desesperança na educação, da noite que escapou por entre os dedos. você olha e vê a vida quase como uma repetição. você pensa e quase não vê sentido nessa coisa toda. aí, de repente, pensa nos amigos distantes, na cerveja gelada, naquele dia na praia, lê alguns versos de seu poeta preferido, vê aquela planta na área que cresceu muito da noite pro dia e o seu gato esticado com a barriga pra cima tentando driblar o calor. lembra dos filhos e de como são bons e bonitos. você entra no banho e a água e o sabonete parecem limpar sua alma. o dia pode não ser mais uma merda.
quarta-feira, outubro 24, 2012
o ar frio que entrava pela janela
arte: rafael godoy
mais de uma vez ele me disse
que havia solução
que nem tudo estava perdido
mais de uma vez ele apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar
mais de uma vez ele me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre
mais de uma vez me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama
mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas
mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo
mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi
ficaram as estrelas
ficou a noite
e o ar frio que entrava pela janela
que havia solução
que nem tudo estava perdido
mais de uma vez ele apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar
mais de uma vez ele me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre
mais de uma vez me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama
mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas
mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo
mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi
ficaram as estrelas
ficou a noite
e o ar frio que entrava pela janela
(republicado)
sexta-feira, outubro 19, 2012
constatação 2
arte: rafael godoy
queria não ter esses olhos nem essa pele
e nem essa alma perdida que se comove com o mundo
terça-feira, outubro 16, 2012
parece que vem uma dor lá no fundo. como se
nem a melhor música ou o melhor amigo pudessem te salvar. como se nem o
dia que amanheceu bonito representasse alguma coisa. é como olhar o
deserto árido e sem cor. é como acender um cigarro depois do café e não
sentir o prazer de inalar a fumaça do veneno. é como tomar uma cerveja
gelada no fim da tarde e ela descer amarga como o pior remédio. minha
mãe tá morrendo há quase dois anos e eu não posso fazer nada. minha mãe tá morrendo na cama paralisada e eu não posso fazer nada. nem os seus olhos brilham mais. nem o sorriso lindo na sua boca. nem o seu perfume. nem nada. só a dor que vem do fundo. só a dor na alma. minha mãe tá morrendo e eu morrendo um pouco com ela.
sábado, setembro 29, 2012
foi assim
não quero desculpas para mim ou para o que fiz
entendo que ficar em silêncio seria o melhor caminho
que engolir todos os desatinos que me disse seria mais fácil
e ficar quieta como muitas vezes fiquei me daria mais conforto
mas não foi o que aconteceu
cuspi maribondos e lagartas
soltei todos os demônios presos na alma
atravessei os rios e desertos mais gelados de mim
estradas áridas e intermináveis
atravessei os rios e desertos mais gelados de mim
estradas áridas e intermináveis
senti o calor do inferno bem perto e não fugi
dessa vez não
dessa vez não
então veio a noite e a solidão.
veio o vento e os sons inaudíveis do silêncio
terça-feira, setembro 25, 2012
Nessa hora
arte: rafael godoy
Nessa hora a chuva cai.
Não tenho planos, não penso o que vou fazer amanhã, muito menos daqui a alguns meses. Meus filhos estão longe, a casa vazia.
Os gatos me olham e parecem dizer: será que ela não vai fazer nada? E ao mesmo tempo gostam da minha presença, aninham-se aos meus pés.
Não consigo procurar amigos e nem parentes. Nem fazer qualquer coisa para comer. Quando me dá fome, tomo um café que está ali, ao meu alcance e mastigo um pão de forma velho com manteiga.
A geladeira , como disse alguém, um deserto frio e árido. Não tem bebida, nem vinho, nem cerveja. O cigarro me acompanha em meus devaneios. Gosto de chegar na área e olhar a chuva.
Não tenho planos, não penso o que vou fazer amanhã, muito menos daqui a alguns meses. Meus filhos estão longe, a casa vazia.
Os gatos me olham e parecem dizer: será que ela não vai fazer nada? E ao mesmo tempo gostam da minha presença, aninham-se aos meus pés.
Não consigo procurar amigos e nem parentes. Nem fazer qualquer coisa para comer. Quando me dá fome, tomo um café que está ali, ao meu alcance e mastigo um pão de forma velho com manteiga.
A geladeira , como disse alguém, um deserto frio e árido. Não tem bebida, nem vinho, nem cerveja. O cigarro me acompanha em meus devaneios. Gosto de chegar na área e olhar a chuva.
Busco
compreender algumas coisas em mim, mas isso também passa. Não estou
alegre, nem triste, nem nada. O telefone toca e é um convite, pode ser
bom. Não quero também. Tenho que me vestir, me arrumar, sair de casa ou
preparar a casa para alguém. Então dou uma desculpa qualquer e fujo de
qualquer compromisso. Gosto da casa assim, com a cama desfeita, mas
aconchegante. Com algumas coisas fora do lugar, que fui eu que deixei.
Os livros ali, assim jogados. Leio, mas não me prendo a nenhum. Um poema
aqui, outro lá. Trechos de obras já lidas. Às vezes um livro inteiro em
poucas horas. Mas é assim que gosto. Vejo tevê e procuro alguma coisa
que preste. É difícil, mas consigo. Também, se quiser, mudo o canal a
qualquer momento e brinco com as imagens. Ouço uma música que há muito
não escuto e me surpreendo: como eu gostava daquela música! E acho uma
merda. Durmo em alguns momentos e tenho sonhos estranhos, como ir ao
fundo de uma piscina funda, muito funda, cheia de folhas e lama e
conseguir voltar à superfície, ilesa. E quando volto à tevê, assisto a
uma cena semelhante. Só que o cara não teve a mesma sorte. Afogou-se.
Tocam o interfone. Pode ser o gás, o correio, alguém pedindo alguma coisa, ou mesmo, um amigo. Mas não atendo. Não quero sair dessa inércia. Parece que a chuva parou. E eu parada aqui e os gatos me olham.
Tocam o interfone. Pode ser o gás, o correio, alguém pedindo alguma coisa, ou mesmo, um amigo. Mas não atendo. Não quero sair dessa inércia. Parece que a chuva parou. E eu parada aqui e os gatos me olham.
(republicado)
terça-feira, setembro 11, 2012
não quero nem ver
arte: rafael godoy
não quero nem ver a hora em que ele chegar
e perceber que os objetos de que mais gostava
estão amontoados no canto da sala
que os seus cedês preferidos
estão empilhados sem ordem
e seus livros adormecem numa caixa de papelão sem cor
que os seus quadros tristes
estão encostados na parede
não quero nem ver quando ele perguntar
de suas camisetas desbotadas
que usava para se deitar comigo
que meus lençóis estão com outro cheiro
o travesseiro outra forma
e na geladeira outra marca de cerveja
não quero nem ver quando ele perguntar do nosso gato
e souber que está aninhado em outro colo
não quero nem ver quando ele descobrir
que os meus olhos brilham mais
e que minha boca tem um outro sorriso
não quero nem ver a hora em que ele chegar
e perceber que os objetos de que mais gostava
estão amontoados no canto da sala
que os seus cedês preferidos
estão empilhados sem ordem
e seus livros adormecem numa caixa de papelão sem cor
que os seus quadros tristes
estão encostados na parede
não quero nem ver quando ele perguntar
de suas camisetas desbotadas
que usava para se deitar comigo
que meus lençóis estão com outro cheiro
o travesseiro outra forma
e na geladeira outra marca de cerveja
não quero nem ver quando ele perguntar do nosso gato
e souber que está aninhado em outro colo
não quero nem ver quando ele descobrir
que os meus olhos brilham mais
e que minha boca tem um outro sorriso
sexta-feira, agosto 31, 2012
mil noites e um abismo
arte: rafael godoy
você precisaria de mil noites pra começar a me entender
pra sentir a lua e o gosto da cerveja descendo como um rio doce na garganta
você precisaria de mil dedos pra me tocar
e talvez nem alcançasse o ponto mais primitivo do prazer
você precisaria de atravessar estradas curvas e escuras
pra saber a cor do vento e a intensidade dos pássaros noturnos
você precisaria ficar à beira de mil abismos
pra entender que nossos abismos são os mais profundos e quase inatingíveis
você precisaria ouvir as canções mais viscerais
e saber que um poema pode mudar sua cabeça previsível
você precisaria saber que quando estamos com amigos de verdade
podem aparecer estrelas cadentes nos olhos
cara, mas você não sabe nada
não sabe nadaterça-feira, agosto 28, 2012
na praça
arte: rafael godoy
no caos de minha cidade às seis da tarde não tinha mais nenhum pardal. nem que eu olhasse todos os fios, todas as eiras e beiras e procurasse no meio da praça não tinha nenhum pardal e fiquei perdida olhando para aquilo tudo. passou um cara pedindo pra engraxar meus sapatos e eu estava descalça porque fazia calor demais e a primavera tinha começado. mas ele insistiu e eu disse: hoje não dá, cara! então dei umas moedas pra ele e falei que o fim de tarde estava estranhamente belo, mesmo sem os pardais. o cara me abriu um sorriso dos mais lindos que já vi, saiu rápido e trouxe algumas latas de cerveja gelada e ficamos conversando sobre a cidade e o pôr-do-sol. os pardais foram chegando um a um e ficaram ali como se entendessem nossas palavras e como se pressentissem essa possível e intensa primavera.
ps: estou republicando alguns textos porque me sinto completamente sem vontade, sem inspiração. mas acho que reler algumas coisas não faz mal. o blog não pode ficar parado senão morre aos poucos como eu estou morrendo agora. mas vai passar.
domingo, agosto 26, 2012
estranho silêncio
arte: rafael godoy
estranho silêncio que me acompanha
quando não quero ouvir as vozes do mundo
nem saber o que nele acontece
estranho silêncio que me atormenta na noite
e me deixa navegar desgovernada desvalida
sem âncoras ou vendavais
enquanto percorro esses caminhos tristes e equivocados
alguns homens tomam cerveja no bar da esquina
e eu queria estar lá
quando não quero ouvir as vozes do mundo
nem saber o que nele acontece
estranho silêncio que me atormenta na noite
e me deixa navegar desgovernada desvalida
sem âncoras ou vendavais
enquanto percorro esses caminhos tristes e equivocados
alguns homens tomam cerveja no bar da esquina
e eu queria estar lá
(republicado)
quinta-feira, agosto 23, 2012
cenas de rua
no vago tom da noite
a árvore parada e morna
com seus galhos feito mãos inúteis
assombram os que passam distraídos
o passeio é um deserto esticado
a rua com asfalto recente geme
quando carros deslizam loucamente
com suas buzinas ensurdecedoras
do outro lado da rua
um homem fuma solitariamente
não sorri, apenas olha a fumaça que sobe
a moça passa: "tem fogo"?
nesse momento o seu corpo é uma fogueira
a moça mostra o cigarro apagado e ergue a mão
"tem fogo?"- repete
ele todo é uma fogueira
a moça sorri com o cigarro apagado
o homem arde e olha a fumaça que sobe
a moça já virou a esquina
um cão atravessa a rua
as pessoas dormem com janelas fechadas
a luz vermelha e azul do carro de polícia
a sirene que berra
um bêbado solitário conversa com a noite
uma lua pálida no céu
o homem com um cigarro aceso entre os dedos
caminha lentamente para nenhum lugar
terça-feira, agosto 07, 2012
quinta-feira, agosto 02, 2012
quase romântico
sobe as escadas com a língua pra fora, descendo a calça que não dá tempo de chegar ao banheiro. abre a porta da sala e vê que ela está lá vendo tevê com uma latinha de cerveja na mão e um ar de tédio. ele não diz nada, corre e consegue despejar no lugar quase certo sua podridão animal meio líquida. depois de algum tempo, vai até a cozinha, abre a geladeira e pega mais uma latinha.
"cê não disse que a gente ia ter uma noite romântica hoje?"
" quer coisa mais romântica do que chegar no banheiro a tempo?"
" porra! assim não dá! cê é um grosso mesmo! eu aqui esperando e cê entra desse jeito!"
"eu tenho culpa? será que você não entende? cê queria o quê? que eu fizesse aqui mesmo?"
" e eu aqui, toda produzida, depilada, perfumada, calcinha nova!" desperdício! devia dar pro primeiro que passasse!"
'faz isso mesmo! assim eu posso ver meu jogo de futebol sossegado"!
"grosso! grosso! vai te fuder!"
ela sai batendo a porta. ele olha da janela e não a vê mais.
no céu dessa noite, uma lua imensa, linda, amarela.
no jogo, o atacante do time dele perde o pênalti.
quarta-feira, julho 18, 2012
na revista
Esta é uma revista de contos, uma coletânea de vários autores de diferentes regiões do país. A Nina Rizzi me convidou e lá tem um miniconto meu publicado. Pra conferir é só acessar o link abaixo. O titulo do conto é: Iluminado.
http://www.revistacruviana.blogspot.com.br/
Cruviana
http://www.revistacruviana.blogspot.com.br/
Cruviana
quinta-feira, julho 05, 2012
então ele disse que era deus
arte: rafael godoy
então ele disse que era deus
já que a partícula de deus era ele
eu disse que também era
mas quando percebi estava conversando com o diabo
que também era a partícula de deus
e pensei em pulgas e carrapatos
nas baratas e camaleões
nos rios e oceanos e nas águas de chuva
e pensei como um vírus que é também partícula de deus mata
e pensei nos homens que matam e são cruéis
e nessa humanidade quase perdida
me lembrei das melhores músicas
dos melhores filmes livros e da poesia
pensei nos amigos nos filhos
pensei nos amigos nos filhos
na mãe no pai na lua de ontem
e vi que o dia era azul um dia de inverno azul
e os gatos estavam ali no sol
e vi que nada vai fazer diferença
o dia segue bonito ou desesperado
e vou pra janela fumar um pedaço de deus ou do diabo
sexta-feira, junho 22, 2012
as tardes de outono morreram em mim
e há um longo período até a primavera
não sei se isso importa
já que tenho todos os invernos do mundo
quando me disse para olhar o céu
não pensei que fosse encontrar
nuvens gigantes carregadas de chumbo
às vezes também gosto do sol
quando vejo meus gatos se esquentando
ou correndo atrás de suas próprias sombras
hoje talvez saia e me deleite com a noite
ou quem sabe fique esperando
que o céu desabe finalmente
sobre a cidade
sobre mim
quinta-feira, junho 14, 2012
constatação
É foda.Tem dia que a gente acorda e pensa: Que merda é essa? E não tem mais saída. O dia continua sendo uma merda. A noite, uma merda. E você dorme e pensa: amanhã vai ser melhor. Acorda e tá tudo uma merda de novo.
(republicado muitas vezes)
(republicado muitas vezes)
quinta-feira, maio 24, 2012
dessa dor de te saber assim
a Leonardo B.
dessa dor de te saber assim
não saberia te dar meu alento
nem os dias cinzas de inverno
poderia perguntar
em quais labirintos se perdeu
em que inferno se meteu
e mesmo mentindo
não saberia esconder-se de seus olhos tristes
não saberia esconder-se de seus olhos tristes
me perco então em meu devaneio
e penso em suas mãos molhadas de mar
de um oceano que não conheci
e como uma nau louca e sem direção
como um peixe pálido e transparente
caio de novo em suas redes desgastadas
e me afundo perdidamente em seu amor
quinta-feira, maio 17, 2012
acho que vai ser sempre assim
para bruno sales
belo horizonte/ pôr-do sol
deste ar frio que entra
restam ciscos nos meus olhos
e o cabelo embaraçado de poeira do asfalto
a cidade está longe de mim
mesmo com o barulho dos carros e das sirenes enlouquecidas
mesmo com esse poente lindo e triste
o vento fuma o meu cigarro
os deuses estão perto dissolvidos na fumaça
o vento fuma o meu cigarro
os deuses estão perto dissolvidos na fumaça
quase acredito quase viro criança
invento coisas pra não pensar
minha cabeça um mar imenso sem cais
você está na rua e não pode entrar
o sinal ainda está vermelho
e acho que vai ser sempre assim
a cidade está longe de mim
e eu muito mais
e eu muito mais
terça-feira, maio 08, 2012
pode acreditar
arte: rafael godoy
então me diga qual a máscara devo usar
quando descer do avião e você não estiver lá?
em qual porto ou em que puteiro se esconde?
com quem divide o vinho tinto
e esse olhar molhado de anoitecer?
me diga se meus olhos são fiéis à minha dor
(porque dizem que eles são as janelas da alma)
mas se já não tenho alma
posso fingir que eles brilham
mas você sabe que no espaço entre mim e o meu amor
há um abismo frio e indevassável que só os valentes alcançaram
então não precisa me dizer nada
sei do seu medo de mergulhar em mim
e definitivamente se perder em mim
e definitivamente se perder em mim
ou- e é quase certo- vai fugir desesperado
como o diabo foge da cruz
e vou entender
pode acreditar
os demônios não gostam de se verem no espelho
sexta-feira, abril 27, 2012
vou te dar meu último verão
todo o outono amarelo
e quando me alcançar
vai ver que sou o mais puro inverno
não dos trópicos
mas dos lugares mais frios da terra
terras da sibéria
não adianta me dizer para abrir as janelas
o sol me é estrangeiro
tenho em mim geleiras ancestrais
meu coração não bate
vacila descompassado
selvas do universo me rondam
e mesmo assim você vai me recriar
e me amar com tudo que sou
porque você
precisa de uma criatura só sua
mesmo inventada
mesmo com essas sombras geladas
segunda-feira, abril 16, 2012
pássaro negro
desenho:estudo de mulher/rafael godoy
venho te dizer que não preciso mais de seu sorriso claro
nem de seus olhos úmidos quando se despede
acordei antes do dia e vi alguns pássaros noturnos procurando luz
quando a manhã chegou, desapareceram
descobri que sou um pássaro sem canto e sem asas
preciso ficar no escuro algum tempo
quando o inverno chegar talvez saia com o frio
e me esconda debaixo de blusas negras e quentes
não tem espaço pra você, meu amor
sua alegria não pode se perder em mim
nem sua juventude enroscar-se na minha pele gasta
sou um pássaro noturno e preciso do escuro
não mais de seu brilho e de sua beleza
segunda-feira, abril 09, 2012
hoje no poema dia
Depois de uma longa pausa, volto ao poema dia.
Pra conferir é só clicar aqui http://poemadia.blogspot.com.br/2012/04/canto-meio-desesperado.htmlBeijos
quinta-feira, abril 05, 2012
bestial
saia dessa letargia
rompa a casca
me lembrei de bashô
e o que sempre quis como epitáfio:
"casca oca
a cigarra
cantou-se toda"
pensei: foda-se mil vezes o mundo
e foda-se qualquer movimento
foda-se essa lua enorme e redonda
foda-se a a quinta, a sexta, foda-se a paixão
foda-se tudo
e recitei o verso de pessoa:
"à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"
não tenho sonhos hoje
não sei se terei algum dia
e foda-se se já morri em grande parte
me lembro também de ana cristina cesar:
"tenho ciúmes deste cigarro que você fuma
tão distraidamente"
e tem os amigos, os filhos
o cigarro que fumo e tem você que não fuma
e tem os amigos, os filhos
o cigarro que fumo e tem você que não fuma
e penso que a poesia pode salvar
mas não hoje
não com esse poema bestial
não com esse poema bestial
segunda-feira, março 19, 2012
estamos mais velhos, mano
ao henrique( poi), meu mano
estamos mais velhos, mano
quando saímos daquela porta
não sabemos se vamos voltar
os passos são mais lentos
você disse que a música era pra mim
mas minha negra cabeleira
não se mantém sem tinta escura
seus cabelos são brancos e poucos
mas você é um menino grande
e o seu sorriso se espalha na sala
em que brincamos tanto na infância
estamos mais velhos, mano
mas quando estamos juntos nos tornamos meninos
e rimos das mesmas coisas
e brigamos e choramos juntos
e nos embebedamos pelas esquinas
dividimos o mesmo cigarro a poesia
"a noite a lua e até solidão"
estamos mais velhos, mano
e gosto de pensar que envelhecemos juntos
e gosto de pensar que tenho você por perto e sempre
segunda-feira, março 05, 2012
feridas custam a secar
tenho em mim o resto de meus dias
e não sei de que são feitos
sei que horas são quando me chamam pra almoçar
ou qualquer outra besteira cotidiana
a não ser quando incendeia a lua
me importo menos com as coisas que me atormentavam tanto
e desisto de pular a janela
vou acumulando sorrisos e caretas
feridas custam a secar
lobos passam silenciosos e com medo
percebo só as suas sombras
e isso me basta
um drink, amor?
para celebrar o vazio
o que importa
se os degraus são altos e não posso alcançá-los?
enojam-me as tragédias humanas
e sou uma delas
sábado, fevereiro 18, 2012
entre bougainvilles e demônios
não que essa bougainville não me inspire
ou esse bem-te-vi solitário não me diga algo
existe entre mim e as coisas lá fora um abismo escuro
e a estrada não aponta o sol
esperava que você fosse ao inferno comigo
e me dissesse que nem tudo estava perdido
mas preferiu pegar o primeiro voo e bater suas asas aflitas
ir para um mundo em que não estou
pra quê então o telefone depois
e dizer que sente a minha falta
cara os dias e noites são todos meus
os anjos e os demônios me pertencem
e sei que quando acordar eles vão estar lá
mas você não
sábado, fevereiro 04, 2012
muletas
nessas tardes intermináveis e quentes
as muletas são o céu visto da janela
a visita de pessoas queridas
o cheiro de café vindo da cozinha
o cigarro proibido
o sorriso da mãe presa na cama
e a lição que ela dá dia a dia
com sua força e doçura
os dias e noites são quase iguais
uma calma forçada e triste
a paciência trabalhada a cada minuto
o poema se faz sem poesia
dizem que tudo tem razão de ser
embora não creia nisso
pode ser que seja verdade
sábado, janeiro 28, 2012
eles já estão aqui
os maias talvez não estivessem enganados
os anjos negros tocam trombetas
e são milhares os cavaleiros do apocalipse
as nuvens são de gafanhotos e de sangue
o tempo infortúnio de quem padece
em um mesmo mês tornozelo quebrado
segredos fortes revelados
choro dor assombro amor e ódio
um primo que morre em vida
outro que morre de verdade
assim caminha 2012
os cavaleiros assombram em toda parte
mas o que mais me dói
é o que está perto de mim
hoje daria tudo para esquecer
(hoje morreu zé carlos, um primo querido)
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