Nenhum segundo a mais
espero
para explodir
os dias que estão em mim.
quarta-feira, dezembro 31, 2008
sábado, dezembro 27, 2008
não quero nem ver
Não quero nem ver a hora em que ele chegar
e perceber que os objetos de que mais gostava
estão amontoados no canto da sala
que os seus cedês preferidos
estão empilhados sem ordem
e seus livros adormecem numa caixa de papelão sem cor
que os seus quadros tristes
estão encostados na parede
como se esperassem alguém para os reanimar
Não quero nem ver quando ele perguntar
de suas camisetas desbotadas
que usava para ficar em casa nas horas de folga
e se deitar na cama comigo
que meus lençõis estão com outro cheiro
o travesseiro tem outra forma
e na geladeira outra marca de cerveja
Não quero nem ver quando ele perguntar do nosso gato
e souber que está aninhado em outro colo
Não quero nem ver quando ele descobrir
que os meus olhos brilham mais
e que minha boca tem um outro sorriso
e perceber que os objetos de que mais gostava
estão amontoados no canto da sala
que os seus cedês preferidos
estão empilhados sem ordem
e seus livros adormecem numa caixa de papelão sem cor
que os seus quadros tristes
estão encostados na parede
como se esperassem alguém para os reanimar
Não quero nem ver quando ele perguntar
de suas camisetas desbotadas
que usava para ficar em casa nas horas de folga
e se deitar na cama comigo
que meus lençõis estão com outro cheiro
o travesseiro tem outra forma
e na geladeira outra marca de cerveja
Não quero nem ver quando ele perguntar do nosso gato
e souber que está aninhado em outro colo
Não quero nem ver quando ele descobrir
que os meus olhos brilham mais
e que minha boca tem um outro sorriso
segunda-feira, dezembro 22, 2008
véspera
de noite veio um bêbado
cantando no meio da rua escura e chuvosa
trombou numa árvore enfeitada de luzes de natal
e ficou olhando aquela coisa iluminada
sentado na calçada com a garrafa em suas mãos
pensou que tivesse em outro país
começou a cantar em inglês uma velha melodia
viu neve onde havia chuva fina
e um cão perdido de rua era sua rena
adormeceu sorrindo
e de manhã já era natal
terça-feira, dezembro 16, 2008
A chuva entrou
A chuva veio e não fechei as janelas
as ruas estão alagadas e as pessoas cinzas
há alguns guarda-chuvas esquecidos
ninguém procura por eles
A água entrou e molhou meu livro de cabeceira
as páginas ficaram enrugadas
como o rosto da velha que toma chá
com os retratos amarelados em sua sala
A chuva molhou um guardanapo de papel
em que tinha escrito um poema
sobre o dia em que você se foi
esse dia era azul com cheiro de jasmim
Olhei a chuva entrando e não fechei as janelas
deixei que ela molhasse meu rosto e meus cabelos
os guarda-chuvas ali esquecidos
e os panos de chão pendurados no varal
as ruas estão alagadas e as pessoas cinzas
há alguns guarda-chuvas esquecidos
ninguém procura por eles
A água entrou e molhou meu livro de cabeceira
as páginas ficaram enrugadas
como o rosto da velha que toma chá
com os retratos amarelados em sua sala
A chuva molhou um guardanapo de papel
em que tinha escrito um poema
sobre o dia em que você se foi
esse dia era azul com cheiro de jasmim
Olhei a chuva entrando e não fechei as janelas
deixei que ela molhasse meu rosto e meus cabelos
os guarda-chuvas ali esquecidos
e os panos de chão pendurados no varal
sexta-feira, dezembro 12, 2008
Epifania
Disseram que eu não tinha nada a dizer naquela noite
Disseram que era melhor eu me calar
E me deitar fechar as janelas
E esquecer tudo no sonho
Mas eu vi e ouvi coisas que só os anjos ouvem
Naquela noite deslizei sobre as cabeças
E pude entender cada um que estava ali
Percebi quem eram aquelas pessoas
Conheci seus jogos e as cartas que tinham
Ouvi coisas que não falaram
E músicas que não cantaram
Sonhei seus sonhos abissais
Olharam para mim e viram olhos assustados
Assustados ficaram com meus olhos
Disseram para eu me calar
Mas eu não falava
Meus olhos diziam o que eles eram
Disseram que era melhor eu me calar
Fechar as jenelas e esquecer tudo no sonho
Mas meus olhos não dormiam
Disseram que era melhor eu me calar
E me deitar fechar as janelas
E esquecer tudo no sonho
Mas eu vi e ouvi coisas que só os anjos ouvem
Naquela noite deslizei sobre as cabeças
E pude entender cada um que estava ali
Percebi quem eram aquelas pessoas
Conheci seus jogos e as cartas que tinham
Ouvi coisas que não falaram
E músicas que não cantaram
Sonhei seus sonhos abissais
Olharam para mim e viram olhos assustados
Assustados ficaram com meus olhos
Disseram para eu me calar
Mas eu não falava
Meus olhos diziam o que eles eram
Disseram que era melhor eu me calar
Fechar as jenelas e esquecer tudo no sonho
Mas meus olhos não dormiam
terça-feira, novembro 25, 2008
até ontem
Vim como quem não quer nada
E entrei na noite como se dela tivesse nascido
Até ontem não gostava das pessoas do dia
Não gostava das cores, do calor
e de tudo que se fazia de dia
Entrava na noite e nela me perdia
com os olhos fundos, a cara pálida
Encontrava gente com essa mesma cara
Às vezes muito maquiadas
E pareciam artistas de cinema-mudo
Olhava para elas como se soubesse o que faziam ali
escondidas no fundo dos bares ouvindo blues e jazz
o nariz e os olhos dançando
Reconhecia quem era da noite
e quem estava ali vindo do dia
Podia pensar que eram felizes
Suas roupas brilhavam e brilhavam seus cabelos
Falavam dos poetas góticos e dos impressionistas
dos beatniks e do cinema francês
Conheciam um bom vinho e a pior cachaça
e pensavam que podiam mudar alguma coisa
neste mundo tão pobre
e mesmo nobres
comiam pão com mortadela.
E eu vim com a noite e nela me escondia
E me encantava com a vida desse seres
E fazia parte desse mundo escuro
de pouca luz e gestos serenos
Até ontem gostava desses seres
E podia ser um deles
Mas hoje vi a luz do sol
E deixei que aquecesse minha cama fria
E entrei na noite como se dela tivesse nascido
Até ontem não gostava das pessoas do dia
Não gostava das cores, do calor
e de tudo que se fazia de dia
Entrava na noite e nela me perdia
com os olhos fundos, a cara pálida
Encontrava gente com essa mesma cara
Às vezes muito maquiadas
E pareciam artistas de cinema-mudo
Olhava para elas como se soubesse o que faziam ali
escondidas no fundo dos bares ouvindo blues e jazz
o nariz e os olhos dançando
Reconhecia quem era da noite
e quem estava ali vindo do dia
Podia pensar que eram felizes
Suas roupas brilhavam e brilhavam seus cabelos
Falavam dos poetas góticos e dos impressionistas
dos beatniks e do cinema francês
Conheciam um bom vinho e a pior cachaça
e pensavam que podiam mudar alguma coisa
neste mundo tão pobre
e mesmo nobres
comiam pão com mortadela.
E eu vim com a noite e nela me escondia
E me encantava com a vida desse seres
E fazia parte desse mundo escuro
de pouca luz e gestos serenos
Até ontem gostava desses seres
E podia ser um deles
Mas hoje vi a luz do sol
E deixei que aquecesse minha cama fria
domingo, novembro 23, 2008
hai-kai de Kerouac
Copiei do blog do Bortolotto e transferi para cá , por motivo óbvio, um hai-kai do Kerouac:
O dia todo usando
um chapéu que não esteve
Em minha cabeça
quarta-feira, novembro 19, 2008
grande deus
Penso num poema que li, quando era pequena, de Casimiro de Abreu e que a professora obrigava a decorar:
Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.
Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.
E eu disse a minha mãe nesse momento:
Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior que o oceano
Ou que seja mais forte do que o vento?
Minha mãe a sorrir, olhou pros céus
E respondeu: - Um ser que nós não vemos,
É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus.
quinta-feira, novembro 13, 2008
domingo, novembro 09, 2008
galope desenfreado
a idade chega
num galope desenfreado
e eu quixote
querendo destruir moinhos
que giram espalhando o tempo
com suas pás ensandecidas
eu sem meu fiel escudeiro
o futuro nunca imaginado
presente nos olhos perdidos
e nos ombros
estranhamente pesados
num galope desenfreado
e eu quixote
querendo destruir moinhos
que giram espalhando o tempo
com suas pás ensandecidas
eu sem meu fiel escudeiro
o futuro nunca imaginado
presente nos olhos perdidos
e nos ombros
estranhamente pesados
domingo, novembro 02, 2008
saturno
segunda-feira, outubro 27, 2008
noite
De algum lado da cidade vinha um frio estranho para essa época do ano. Heitor abriu a janela, a pequena janela do seu quarto fedido e imundo. Colocou o rosto para fora e sentiu um vento meio de lado, que não parecia pertencer àquele lugar. Olhou para cima, para baixo, para os lados e viu que não tinha ninguém nas outras janelas, só ouviu um ruído, quase como um sopro. Lembrou-se da noite que tivera com uma mulher. Uma noite quente, extremamente calorenta. Os lençóis estavam fora do colchão, e havia restos de uísque nos copos, pontas de cigarro nos cinzeiros e um cheiro de quase morte. No chão, além da calça que acabara de pegar, um batom sem a tampa e um papel de chocolate. Ao entrar no banheiro, notou que o gás estava ligado e que a água do chuveiro caía continuamente sobre o azulejo. Fechou a torneira, o vapor condensava-se no espelho da pia. Heitor passou a toalha no espelho e o que viu o assustou. Não, não era aquele homem que aparecia ali, com os olhos vermelhos, a pele envelhecida, o cabelo desarrumado. A última imagem que tinha de si não era essa e sim a de um homem bem cuidado, perfumado. Pegou o aparelho de barbear, ensaboou o rosto e fez a barba. Entrou debaixo do chuveiro e ficou algum tempo se limpando com o sabonete de erva-doce que alguém havia lhe dado. Enxugou-se com uma toalha limpa. Vestiu uma calça jeans, uma blusa branca e saiu do quarto. Ao abrir a porta da sala, notou um bilhete debaixo da porta. Era dela, de Mirna, a mulher da noite. Uma lufada de ar gelado rompeu pela porta e o envolveu. Ficou ali parado, olhando o vazio do corredor.
sábado, outubro 04, 2008
belo horizonte
Eram três tons de tarde que apareciam
lilás, vermelho, dourado
Encobriam a cidade sutilmente
Sufocavam o peito e faziam chorar
Os edifícios perdiam-se nas cores
E por alguns momentos
misturados ao ar pesado de todos os dias
Compunham uma paisagem quase divina
As montanhas suavemente iluminadas
assumiam proporções infinitas, calmas
Com esses tons de tarde, nessa tarde
a cidade era abençoada
lilás, vermelho, dourado
Encobriam a cidade sutilmente
Sufocavam o peito e faziam chorar
Os edifícios perdiam-se nas cores
E por alguns momentos
misturados ao ar pesado de todos os dias
Compunham uma paisagem quase divina
As montanhas suavemente iluminadas
assumiam proporções infinitas, calmas
Com esses tons de tarde, nessa tarde
a cidade era abençoada
quinta-feira, setembro 18, 2008
Iluminado
Chegava em casa louco para encontrar o sofá e ver televisão. Quando o sol se ia e a noite ainda não tinha chegado lhe dava uma angústia de morte. Seu peito apertava, vinha uma tristeza esquisita, uma escuridão que invadia seu corpo e sua mente, seus sentidos. Eram alguns minutos que viravam uma treva inteira. Então, ligava a tevê e era como se iluminasse aos poucos, seus pensamentos tomando outro rumo.
Trabalhava o suficiente apenas para se manter e manter o pequeno apartamento .Conservava-o sempre limpo, o banheiro com cheiro de lavanda, as louças sempre lavadas na cozinha, as roupas limpas penduradas no varal. Varria a casa uma vez por semana. Não queria nenhum inseto asqueroso a lhe perturbar a noite, a correr por entre os lençóis.
Sabia de sua inutilidade. Não queria nenhuma ascensão no emprego. Não se engajava em nenhuma causa social, em movimento político, ecológico, cristão, muçulmano, libertário, vegetariano, zen.
Encontrava-se com a família apenas em ocasiões especiais, como festas de aniversário, casamentos ou velórios. Não queria que pensassem que era louco ou solitário. Já havia abandonado os amigos há algum tempo. Ou eles o abandonaram.
O que gostava mesmo, de uma maneira intensa, era assistir à tevê. Um prazer duvidoso, contudo, mágico. Chegava do trabalho, comia alguma coisa já pronta, vestia sua camiseta rasgada , sua bermuda velha de malha e deitava-se no sofá.
Pegava o controle e percorria com os dedos ágeis os mais diversos canais que a tevê a cabo lhe oferecia. Detinha-se em algum filme, documentário ou qualquer programa que lhe chamasse a atenção. Não tinha mais telefone fixo em casa para não ser incomodado. O celular no silencioso era atendido só em caso de emergência.
Não queria mulheres em sua cama ou compartilhando o controle de sua tevê. Isso era inconcebível. Quando seu corpo clamava por sexo, saía e procurava alguma mulher, pagava e se sentia satisfeito. Muitas vezes se fazia carícias, olhando as mulheres nuas que passeavam na tela, contorcendo-se sozinho em seu sofá, soltando gritos roucos e correndo para se lavar no banheiro com cheiro de lavanda.
Uma vez, apaixonou-se por uma prostituta e se encontrava com ela todas as noites e, por um tempo, esqueceu-se da tela brilhante. Mas, por uma tragédia do destino, ela se atirou do décimo andar de um prédio de luxo. Ninguém nunca soube o que fazia lá ou o motivo de tal atitude.
Um dia faltou ao trabalho, no dia seguinte também, uma semana e mais outra. Nem o porteiro o viu saindo de casa, e os entregadores dos delíveres não apareciam mais. Ligaram para o seu celular, sempre fora de área. Deixaram mensagens. Tocaram o interfone. Arrombaram a porta. Foi assim que entraram e com olhos assustados viram uma luz azul que saía da tevê, um corpo imóvel nu no centro da sala, totalmente iluminado.
Trabalhava o suficiente apenas para se manter e manter o pequeno apartamento .Conservava-o sempre limpo, o banheiro com cheiro de lavanda, as louças sempre lavadas na cozinha, as roupas limpas penduradas no varal. Varria a casa uma vez por semana. Não queria nenhum inseto asqueroso a lhe perturbar a noite, a correr por entre os lençóis.
Sabia de sua inutilidade. Não queria nenhuma ascensão no emprego. Não se engajava em nenhuma causa social, em movimento político, ecológico, cristão, muçulmano, libertário, vegetariano, zen.
Encontrava-se com a família apenas em ocasiões especiais, como festas de aniversário, casamentos ou velórios. Não queria que pensassem que era louco ou solitário. Já havia abandonado os amigos há algum tempo. Ou eles o abandonaram.
O que gostava mesmo, de uma maneira intensa, era assistir à tevê. Um prazer duvidoso, contudo, mágico. Chegava do trabalho, comia alguma coisa já pronta, vestia sua camiseta rasgada , sua bermuda velha de malha e deitava-se no sofá.
Pegava o controle e percorria com os dedos ágeis os mais diversos canais que a tevê a cabo lhe oferecia. Detinha-se em algum filme, documentário ou qualquer programa que lhe chamasse a atenção. Não tinha mais telefone fixo em casa para não ser incomodado. O celular no silencioso era atendido só em caso de emergência.
Não queria mulheres em sua cama ou compartilhando o controle de sua tevê. Isso era inconcebível. Quando seu corpo clamava por sexo, saía e procurava alguma mulher, pagava e se sentia satisfeito. Muitas vezes se fazia carícias, olhando as mulheres nuas que passeavam na tela, contorcendo-se sozinho em seu sofá, soltando gritos roucos e correndo para se lavar no banheiro com cheiro de lavanda.
Uma vez, apaixonou-se por uma prostituta e se encontrava com ela todas as noites e, por um tempo, esqueceu-se da tela brilhante. Mas, por uma tragédia do destino, ela se atirou do décimo andar de um prédio de luxo. Ninguém nunca soube o que fazia lá ou o motivo de tal atitude.
Um dia faltou ao trabalho, no dia seguinte também, uma semana e mais outra. Nem o porteiro o viu saindo de casa, e os entregadores dos delíveres não apareciam mais. Ligaram para o seu celular, sempre fora de área. Deixaram mensagens. Tocaram o interfone. Arrombaram a porta. Foi assim que entraram e com olhos assustados viram uma luz azul que saía da tevê, um corpo imóvel nu no centro da sala, totalmente iluminado.
quinta-feira, agosto 14, 2008
Encontro Desmarcado
Toda vez que penso em ir a um médico me desespero. E hoje vou ter que ir. Não dá pra adiar o inevitável. O ano inteiro enrolo; marco, não vou, invento desculpas, qualquer uma. Mas hoje não escapo. Sou mulher, porra. Tenho que fazer aquele exame ginecológico. Esperar no consultório, ler aquelas revistas horríveis, ver mulheres entrando e saindo. Enquanto espero, imagino várias maneiras de fugir dali. Nesses devaneios, a secretária chama meu nome.Não, não, não!! Mas é tarde. Não tem mais jeito. Quando entro, a médica com todas aquelas perguntas a que não quero responder: Continua fumando, tá fazendo dieta? Parou de beber? Olha o colesterol!! Tá no limite! Precisa fazer reeducação alimentar, você está acima do peso.Tento contornar e digo que vou tentar, desta vez, vou conseguir. Então, ela diz: Pode pôr o avental e se deitar. Então, olho para a mesa, uma cama de tortura. Dois apoios para o pé, distantes, opostos. O avental é aberto na frente. Tenho que abrir, literalmente, as pernas. Fico dura como um tronco. Travo. Pô! Em outras situações isso é natural! Mas não é o caso! Sinto algo frio entrando em meu ventre. Aquele instrumento gelado de metal, o gel, a barriga sendo apalpada, agora os seios examinados, tocados. Finalmente, ela diz: Pode se vestir. Corro pro banheiro, ponho a roupa o mais depressa que posso. Quero sair voando dali. Tenho um encontro com um amigo, em um boteco, ali perto. Mais tarde, quem sabe, vou ter que tirar a roupa de novo, outra situação. Relembro a consulta. Talvez o encontro fique para outro dia.
PS: texto republicado, mas amanhã tenho consulta. Argh!!
PS: texto republicado, mas amanhã tenho consulta. Argh!!
quarta-feira, agosto 13, 2008
Medonha
Os dias mansos.
A rotina que mata, esmaga, aniquila.
A rotina medonha, enganadora, cruel- a morte.
É pior que a morte.
É pior que estar sentado à beira de um rio
dia e noite
e não pescar nenhum peixe.
Porque há a espera.
Na rotina não se espera nada.
Apenas que o dia termine
E que comece um outro igual.
O menor movimento incomoda.
O menor deslize atordoa.
Uma noite em claro arrebenta.
A rotina vence.
Talvez vivamos por ela.
Mesmo que façamos algo diferente.
Sempre voltamos.
E quando é dada por vencida
Criamos outra mais forte.
A rotina que mata, esmaga, aniquila.
A rotina medonha, enganadora, cruel- a morte.
É pior que a morte.
É pior que estar sentado à beira de um rio
dia e noite
e não pescar nenhum peixe.
Porque há a espera.
Na rotina não se espera nada.
Apenas que o dia termine
E que comece um outro igual.
O menor movimento incomoda.
O menor deslize atordoa.
Uma noite em claro arrebenta.
A rotina vence.
Talvez vivamos por ela.
Mesmo que façamos algo diferente.
Sempre voltamos.
E quando é dada por vencida
Criamos outra mais forte.
terça-feira, julho 29, 2008
três cachorros
três cachorros soltos nas ruas
dizem que um virou lobo
se confundiu com a noite
dizem que um virou gente
se deitou com cadela
dizem que um um virou eterno
no coração da menina
dizem que um virou lobo
se confundiu com a noite
dizem que um virou gente
se deitou com cadela
dizem que um um virou eterno
no coração da menina
segunda-feira, julho 28, 2008
sexta-feira, julho 25, 2008
fim de tarde
É claro que não foi do jeito que eu imaginava. Nem podia ser. Aquela hora em que as pessoas passam voltando para casa, a cidade gemendo buzinas e sirenes, a correria louca desatinada e você ali , sentado , tomando um café e pensando no que vai me dizer. Então eu chego e trago um sorriso meio tímido, meio assustado. Você acende um cigarro e joga a fumaça para o ar e me pergunta o que fazer. Falo sobre o trânsito, da casa velha que ficava perto do Arrudas e de contas a pagar. _Você já viu aquele filme? Ele responde que não e sussurra uma melodia dos Beatles: "I'm so tired".... Pergunto o que ele almoçou hoje e ele me ignora. Raspa a garganta e acende outro cigarro. Disparo na fala, insinuo ciúmes, imito a cena de um filme que vi algum dia. Peço um uísque com gelo. Ele diz que bebo demais, que é cedo pra começar. Não retruco, concordo em silêncio. Ele também pede um, sem gelo. Eu pego um embrulho, guardado na bolsa e entrego pra ele. Ele me olha com os olhos molhados, profundos como a noite que chega. Não consigo ficar parada e peço mais um uísque, vou ao banheiro, molho o rosto na água fria e as lágrimas são quentes . Vejo quando estou voltando que a mesa está vazia. Tem um guardanapo e um trecho de " I"m so tired" , escrito com tinta azul: " I wonder should I get up and fix myself a drink?" Ele volta. O copo na mão. "I'd give you everything I've got for a little peace of mind". Vamos de mãos dadas para casa.
quarta-feira, julho 02, 2008
o ar frio que entrava pela janela
estudo de aquarela/ Rafael Godoy
mais de uma vez ele me disse
que havia solução
que nem tudo estava perdido
mais de uma vez ele apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar
mais de uma vez ele me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre
mais de uma vez ele me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama
mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas
mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo
mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi
ficaram as estrelas
ficou a noite
e o ar frio que entrava pela janela
mais de uma vez ele me disse
que havia solução
que nem tudo estava perdido
mais de uma vez ele apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar
mais de uma vez ele me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre
mais de uma vez ele me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama
mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas
mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo
mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi
ficaram as estrelas
ficou a noite
e o ar frio que entrava pela janela
terça-feira, junho 24, 2008
Possível Deserto
Os rios de dentro estão quase secos
Uma planície seca e árida se anuncia
O coração ainda guarda algum líquido
Para ser despejado no momento certo
A voz rouca indica mau agouro
Os abutres estão à espera calmos
Uma única nuvem negra não faz chuva
Mas encobre o sol vermelho
A manhã desperta silenciosa
Atenta ao menor ruído
Frágil a qualquer vento
A noite vem desesperada
Atônita negra pesada
Os pássaros noturnos sumiram
O corpo resta cansado
Sem dor sem frio sem nada
A alma parte suave
E um possível deserto se faz agora
Uma planície seca e árida se anuncia
O coração ainda guarda algum líquido
Para ser despejado no momento certo
A voz rouca indica mau agouro
Os abutres estão à espera calmos
Uma única nuvem negra não faz chuva
Mas encobre o sol vermelho
A manhã desperta silenciosa
Atenta ao menor ruído
Frágil a qualquer vento
A noite vem desesperada
Atônita negra pesada
Os pássaros noturnos sumiram
O corpo resta cansado
Sem dor sem frio sem nada
A alma parte suave
E um possível deserto se faz agora
quarta-feira, junho 18, 2008
Alguma esperança
Quem determina o destino das coisas?
Quem determina: este vai morrer amanhã
e o outro vai viver mais cem anos?
Que diabo de vida é essa?
O peito dói lentamente, a boca seca
Você chega na janela
Vê aquela lua imensa, linda, doida
E você acredita mais
O coração fica mais doce
A alma mais leve
Talvez hoje você adormeça
E possa sonhar com um anjo de asas azuis
Possa deitar em seus braços
E entender alguns mistérios
Quem determina: este vai morrer amanhã
e o outro vai viver mais cem anos?
Que diabo de vida é essa?
O peito dói lentamente, a boca seca
Você chega na janela
Vê aquela lua imensa, linda, doida
E você acredita mais
O coração fica mais doce
A alma mais leve
Talvez hoje você adormeça
E possa sonhar com um anjo de asas azuis
Possa deitar em seus braços
E entender alguns mistérios
sexta-feira, junho 13, 2008
Pra sempre
Um dia você acorda, o telefone tocando e vem a triste notícia:
- Cê está sabendo dele? Tá muito doente, vai operar, o negócio é grave!
Em um segundo, passam milhões de filmes em sua cabeça. Você se dá conta da efemeridade e da crueldade da vida. Vêm em sua cabeça lembranças intensas de sua vida com aquela pessoa. Não pode ser, logo ele! Porra! Porra!
Em minutos, neste instante entre o telefone tocar e você saber, a vida e a morte se dão a mão. Estão muito próximas. E você perdida ali no meio. E agora?
Começa a rodar feito aquela barata que , no flagrante, atordoada, não sabe o que fazer. Anda de um lado pra outro, acende um cigarro, tenta fumar, esquece; vai comer alguma coisa, deixa pela metade, quer falar com alguém, não consegue, quer sumir e fica ali totalmente presente.
E sem perceber as lágrimas escorrem soltas, fortes, incontidas. Um soluço do fundo da garganta, uma dor palpável, um sentimento de impotência.
Quer acreditar em alguma coisa, uma ligação com deus, uma crença, uma fé. E não consegue.
Pensa nele, como é importante e tão intenso em sua vida. Porra! Tantas coisas, tantas e tantas...
As lágrimas explodem mais uma vez. E mais uma vez. E mais uma vez. Acho que pra sempre.
Em um segundo, passam milhões de filmes em sua cabeça. Você se dá conta da efemeridade e da crueldade da vida. Vêm em sua cabeça lembranças intensas de sua vida com aquela pessoa. Não pode ser, logo ele! Porra! Porra!
Em minutos, neste instante entre o telefone tocar e você saber, a vida e a morte se dão a mão. Estão muito próximas. E você perdida ali no meio. E agora?
Começa a rodar feito aquela barata que , no flagrante, atordoada, não sabe o que fazer. Anda de um lado pra outro, acende um cigarro, tenta fumar, esquece; vai comer alguma coisa, deixa pela metade, quer falar com alguém, não consegue, quer sumir e fica ali totalmente presente.
E sem perceber as lágrimas escorrem soltas, fortes, incontidas. Um soluço do fundo da garganta, uma dor palpável, um sentimento de impotência.
Quer acreditar em alguma coisa, uma ligação com deus, uma crença, uma fé. E não consegue.
Pensa nele, como é importante e tão intenso em sua vida. Porra! Tantas coisas, tantas e tantas...
As lágrimas explodem mais uma vez. E mais uma vez. E mais uma vez. Acho que pra sempre.
segunda-feira, junho 09, 2008
Amaldiçoadas
Nesse domingo letárgico cismo em usar palavras mais elaboradas.
Elas aparecem como por encanto, saindo do abismo mais profundo da minha memória.
Elocubrações tortuosas de uma mente ociosa.
Algumas me parecem familiares, talvez encontradas nos livros de autores mais antigos, de séculos passados.
Outras; não tenho menor noção de seu significado, mas aparecem, como se me pertencessem.
Não ouso não usá-las, não ouso não atendê-las.
Talvez estejam amaldiçoadas.
Elas aparecem como por encanto, saindo do abismo mais profundo da minha memória.
Elocubrações tortuosas de uma mente ociosa.
Algumas me parecem familiares, talvez encontradas nos livros de autores mais antigos, de séculos passados.
Outras; não tenho menor noção de seu significado, mas aparecem, como se me pertencessem.
Não ouso não usá-las, não ouso não atendê-las.
Talvez estejam amaldiçoadas.
segunda-feira, maio 19, 2008
Não podia ouvir mais esse blues. O nome do cantor não sabia, mas tinha uma voz meio rouca, meio doce. Entrava na minha alma, como se entra em um lugar conhecido. Desliguei o som e saí pela cidade à procura de um lugar que me fizesse esquecer , de algum modo, o peso do dia. Não vi nenhum rosto conhecido. Entrei em um boteco querendo beber algo pra me aquecer daquele frio intenso que insistia em entrar no meu corpo. Já era noite. E então vi alguns homens jogando sinuca em um êxtase quase animal. Foi como a cena de um filme e eles pegavam no taco como se pega uma mulher. E eles se mexiam, giravam o corpo , miravam o buraco , se contorciam feito serpentes. Ali, naquela hora, pude perceber um sentido para a vida. Um chegou perto de mim e me ofereceu um conhaque. E sentou-se à minha mesa e me olhou. Não falou nada e eu nem perguntei. Ficamos ali, talvez, minutos, horas, a noite toda. Bebemos vários conhaques, o corpo quente, o brilho nos olhos. E então ouvi aquele som, um blues cantado por uma voz rouca e doce. Acho que ele me beijou e disse alguma coisa sobre os perigos da noite.
domingo, março 09, 2008
Momento
O barulho do feijão cozinhando na panela
O ruído das pessoas lá fora
O ônibus que passa
Parece que a vida é normal
O ruído das pessoas lá fora
O ônibus que passa
Parece que a vida é normal
domingo, março 02, 2008
Os pássaros
Foram chegando um a um e pousaram em minha janela.
Como "Os Pássaros " de Hitchcock. E cada um encontrou o lugar certo.
Diferentemente, meus pensamentos chegaram confusos. E não encontraram o pouso desejado.
E eles ficaram pelo ar, viravam minha cabeça. O dia e a noite eram iguais. Não havia trégua. A guerra se dava ali. Ininterrupta, lancinante, cruel.
Finalmente, um dia eles se foram.
Foi quando olhei para aquele lago azul e manso de seus olhos.
Como "Os Pássaros " de Hitchcock. E cada um encontrou o lugar certo.
Diferentemente, meus pensamentos chegaram confusos. E não encontraram o pouso desejado.
E eles ficaram pelo ar, viravam minha cabeça. O dia e a noite eram iguais. Não havia trégua. A guerra se dava ali. Ininterrupta, lancinante, cruel.
Finalmente, um dia eles se foram.
Foi quando olhei para aquele lago azul e manso de seus olhos.
quinta-feira, fevereiro 21, 2008
Eclipse
Hoje nasci há muitos anos
Talvez também houvesse um eclipse
Ou só meia lua no céu
Ontem olhei a lua
E vi a sombra da terra
E vi a sombra de mim
Talvez também houvesse um eclipse
Ou só meia lua no céu
Ontem olhei a lua
E vi a sombra da terra
E vi a sombra de mim
terça-feira, janeiro 22, 2008
Nessa hora
estudo para aquarela/ mulher deitada/ rafael godoy
Nessa hora a chuva cai.
Nessa hora a chuva cai.
Não tenho planos, não penso o que vou fazer amanhã, muito menos daqui a alguns meses. Meus filhos estão longe, a casa vazia.
Meus gatos me olham e parecem dizer: será que ela não vai fazer nada? E ao mesmo tempo gostam da minha presença, aninham-se aos meus pés.
Não consigo procurar amigos e nem parentes. Nem fazer qualquer coisa para comer. Quando me dá fome, tomo um café que está ali, ao meu alcance e mastigo um pão de forma velho com manteiga.
A geladeira , como disse alguém, um deserto frio e árido. Não tem bebida, nem vinho, nem cerveja. O cigarro me acompanha em meus devaneios. Gosto de chegar na área e olhar a chuva.
Busco compreender algumas coisas em mim, mas isso também passa. Não estou alegre, nem triste, nem nada. O telefone toca e é uma promessa de uma noite de amor. Não quero também. Tenho que me vestir, me arrumar, sair de casa ou preparar a casa para alguém. Então dou uma desculpa qualquer e fujo de qualquer compromisso. Gosto da casa assim, com a cama desfeita, mas aconchegante. Com algumas coisas fora do lugar, que fui eu que deixei. Os livros ali, assim jogados. Leio, mas não me prendo a nenhum. Um poema aqui, outro lá. Trechos de obras já lidas. Às vezes um livro inteiro em poucas horas. Mas é assim que gosto. Vejo tevê e procuro alguma coisa que preste. É difícil, mas consigo. Também, se quiser, mudo o canal a qualquer momento e brinco com as imagens. Ouço uma música que há muito não escuto e me surpreendo: como eu gostava daquela música! E acho uma merda. Durmo em alguns momentos e tenho sonhos estranhos, como ir ao fundo de uma piscina funda, muito funda, cheia de folhas e lama e conseguir voltar à superfície, ilesa. E quando volto à tevê, assisto a uma cena semelhante. Só que o cara não teve a mesma sorte. Afogou-se.
Tocam o interfone. Pode ser o gás, o correio, alguém pedindo alguma coisa, ou mesmo, um amigo. Mas não atendo. Não quero sair dessa inércia. Parece que a chuva parou. E eu parada aqui e os gatos me olham.
Meus gatos me olham e parecem dizer: será que ela não vai fazer nada? E ao mesmo tempo gostam da minha presença, aninham-se aos meus pés.
Não consigo procurar amigos e nem parentes. Nem fazer qualquer coisa para comer. Quando me dá fome, tomo um café que está ali, ao meu alcance e mastigo um pão de forma velho com manteiga.
A geladeira , como disse alguém, um deserto frio e árido. Não tem bebida, nem vinho, nem cerveja. O cigarro me acompanha em meus devaneios. Gosto de chegar na área e olhar a chuva.
Busco compreender algumas coisas em mim, mas isso também passa. Não estou alegre, nem triste, nem nada. O telefone toca e é uma promessa de uma noite de amor. Não quero também. Tenho que me vestir, me arrumar, sair de casa ou preparar a casa para alguém. Então dou uma desculpa qualquer e fujo de qualquer compromisso. Gosto da casa assim, com a cama desfeita, mas aconchegante. Com algumas coisas fora do lugar, que fui eu que deixei. Os livros ali, assim jogados. Leio, mas não me prendo a nenhum. Um poema aqui, outro lá. Trechos de obras já lidas. Às vezes um livro inteiro em poucas horas. Mas é assim que gosto. Vejo tevê e procuro alguma coisa que preste. É difícil, mas consigo. Também, se quiser, mudo o canal a qualquer momento e brinco com as imagens. Ouço uma música que há muito não escuto e me surpreendo: como eu gostava daquela música! E acho uma merda. Durmo em alguns momentos e tenho sonhos estranhos, como ir ao fundo de uma piscina funda, muito funda, cheia de folhas e lama e conseguir voltar à superfície, ilesa. E quando volto à tevê, assisto a uma cena semelhante. Só que o cara não teve a mesma sorte. Afogou-se.
Tocam o interfone. Pode ser o gás, o correio, alguém pedindo alguma coisa, ou mesmo, um amigo. Mas não atendo. Não quero sair dessa inércia. Parece que a chuva parou. E eu parada aqui e os gatos me olham.
segunda-feira, janeiro 07, 2008
coisas da cidade
peixes loucos tentam subir o Arrudas
homens loucos se atiram no Arrudas
um ônibus cai no Arrudas
uma menina espera o pôr-do-sol
olha o Arrudas por um segundo
e vê refletido em suas águas sujas
um vermelho de sangue, de sol
homens loucos se atiram no Arrudas
um ônibus cai no Arrudas
uma menina espera o pôr-do-sol
olha o Arrudas por um segundo
e vê refletido em suas águas sujas
um vermelho de sangue, de sol
cenas do cotidiano
quando uma lagartixa deslizou
nas pálidas paredes
e mostrou seu ventre transparente
quando um inseto noturno
desses que voam
entrou e mexeu suas pobres asas
percebeu o olhar parado
frio e mortal daquele ser esbranquiçado
e se debateu loucamente
por uma única vez olhou a lua
e viu nos olhos da mórbida lagarta
o mesmo brilho
foi devorado lentamente
inexoravelmente
nas pálidas paredes
e mostrou seu ventre transparente
quando um inseto noturno
desses que voam
entrou e mexeu suas pobres asas
percebeu o olhar parado
frio e mortal daquele ser esbranquiçado
e se debateu loucamente
por uma única vez olhou a lua
e viu nos olhos da mórbida lagarta
o mesmo brilho
foi devorado lentamente
inexoravelmente
Mais um ano (poema traduzido)
Nada tenho a lhe pedir,
Futuro, paraíso do pobre,
Ainda visto as mesmas coisas.
Continuo vendo o mesmo problema
Pela mesma luz,
Comendo a mesma pedra,
E as agulhas do relógio ainda espetam sem entrar.
Futuro, paraíso do pobre,
Ainda visto as mesmas coisas.
Continuo vendo o mesmo problema
Pela mesma luz,
Comendo a mesma pedra,
E as agulhas do relógio ainda espetam sem entrar.
quarta-feira, janeiro 02, 2008
1º de janeiro
A cidade neste dia é só minha.
Minha rua só eu que passo.
Nem ônibus passando,
nem crianças passando,
nem gente passando.
O ano passou.
Há um estranho silêncio que atormenta,
indefinível, mordaz, cruel.
Minha rua só eu que passo.
Nem ônibus passando,
nem crianças passando,
nem gente passando.
O ano passou.
Há um estranho silêncio que atormenta,
indefinível, mordaz, cruel.
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