Vim como quem não quer nada
E entrei na noite como se dela tivesse nascido
Até ontem não gostava das pessoas do dia
Não gostava das cores, do calor
e de tudo que se fazia de dia
Entrava na noite e nela me perdia
com os olhos fundos, a cara pálida
Encontrava gente com essa mesma cara
Às vezes muito maquiadas
E pareciam artistas de cinema-mudo
Olhava para elas como se soubesse o que faziam ali
escondidas no fundo dos bares ouvindo blues e jazz
o nariz e os olhos dançando
Reconhecia quem era da noite
e quem estava ali vindo do dia
Podia pensar que eram felizes
Suas roupas brilhavam e brilhavam seus cabelos
Falavam dos poetas góticos e dos impressionistas
dos beatniks e do cinema francês
Conheciam um bom vinho e a pior cachaça
e pensavam que podiam mudar alguma coisa
neste mundo tão pobre
e mesmo nobres
comiam pão com mortadela.
E eu vim com a noite e nela me escondia
E me encantava com a vida desse seres
E fazia parte desse mundo escuro
de pouca luz e gestos serenos
Até ontem gostava desses seres
E podia ser um deles
Mas hoje vi a luz do sol
E deixei que aquecesse minha cama fria
16 comentários:
Adorei.
Muito bom. Grande abraço.
Simplesmente lindo. Eu tb já fui um desses da noite e senti as mesmas coisas, mas agora tb sou do dia e o dia é bom.
Abração,
Daniel.
Obrigado pelos comentários generosos.
São as faces da moeda da vida, noite/dia, adoro as criaturas noturnas,mas é imprenscindível o calor e a luz do sol em nossas vidas, em nossas camas, muito legal, sucesso, beijo.
Ainda sou da noite, você lembra...muito bonito o seu poema. Um beijo. R.B.
Gente, obrigada pelos comentários. Beijo. Adriana
"antes de existir o silêncio, existia a voz..." VOZ,obrigatória e devidamente linkado, abraço.
Oi Adriana,
Belíssimo poema e estou lendo outros também maravilhosos por aqui.
Estou te anexando ao meu blog.
Um beijo,
Chico
belo poema.
a noite é encantadora. adoro!
prefiro do que o dia. as tardes são terríveis... no finalzinho é que começa a melhorar.
sou da noite e é nela que me realizo.
bj
A poesia é um ato solitário, fruto do que há dentro de nós. Nesta segunda-feira, um projeto simples pretende imprimir na solidão da poesia um sentimento de coletividade, de coisa feita ombro a ombro. Trata-se do projeto Poema Dia, um blog (http://poemadia.blogspot.com/) no qual cada dia do mês é adotado por um poeta ou mini-contista que, neste dia específico, posta um trabalho de sua autoria.
Nossa nau partiu nesta segunda-feira (1º de dezembro) com 15 tripulantes, outros embarcarão pelo longo caminho. Singraremos os mares bravios da literatura e da sensibilidade. Convido-os a compartilhar esta viagem conosco.
Muito bom, Adriana.
Beijos
"até ontem"
só o título já confere uma expectativa incrível ao texto, que parece pontuar muito mais que uma descoberta, um renascimento.
enfim, amei!
b.e.i.j.o.s.
ôi, lá no anjo baldio tem um novo vídeo-poema. Grande abraço.
Só vim aqui pra te agradecer pelos comentários sempre tão genenrosos.
Abração,
Daniel
Nossa, Adriana!
Li seus textos todos e parei nesse por enquanto!
Estou maravilhada com sua alma poética e feminina ao extremo!
Prabéns, amiga!
Hoje vou dormir mais leve!
sei que há vida sobre a terra!
Beijos
Mirse
Mirse, não sei o que dizer. Fico feliz demais por isso. Mas os poemas têm tantas faces. Irônicas, tristes, amorosas, descrentes, imaturas, maduras,tenebrosas, etc, etc. Se você gostar, já valeu a pena. Um beijo.
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