Confiram lá!
http://casuloficina.blogspot.pt/2013/03/adriana-godoy-decimo-quarto-fluxo.html
sábado, março 30, 2013
sexta-feira, março 29, 2013
insônia
arte: rafael godoy
a noite inútil não terminava nunca
o sono vinha mas os olhos não fechavam
vi assombrações nos rodapés das paredes do quarto
espremidas cor de barro querendo sair
faziam sons estranhos e se moviam
criaturas horríveis desfiguradas
o sono vinha mas os olhos não fechavam
vi assombrações nos rodapés das paredes do quarto
espremidas cor de barro querendo sair
faziam sons estranhos e se moviam
criaturas horríveis desfiguradas
se cresse talvez rezasse
mas nada saía de mim
apenas o medo um frio medonho
uma imobilidade assustadora
os seres pareciam conversar
sei que alguns saíram
e deram voltas em minha casa
rodearam minha cama
nem meus gatos apareceram
se esconderam em algum armário
se acovardaram
mas finalmente chegou a manhã
fechei os olhos
dormi com a cortina aberta
o sol sobre mim
domingo, março 24, 2013
vejo-o fazendo café
arte: rafael godoy
trago a vida entalhada em contas papéis livros
lembro quando via sessão da tarde e a tarde não passava nunca
hoje as tardes passam e não vejo
a noite vem como o dia
a noite é a mesma
mesmo quando você vem e diz que me ama
então olho o homem que atravessa a rua
e está com flores na mão
o livro que li há dez anos
vai ser o mesmo se o ler hoje?
vejo-o fazendo café
e a minha angústia costurada em seu pijama
e a vontade desesperada de fugir
lembro quando via sessão da tarde e a tarde não passava nunca
hoje as tardes passam e não vejo
a noite vem como o dia
a noite é a mesma
mesmo quando você vem e diz que me ama
então olho o homem que atravessa a rua
e está com flores na mão
o livro que li há dez anos
vai ser o mesmo se o ler hoje?
vejo-o fazendo café
e a minha angústia costurada em seu pijama
e a vontade desesperada de fugir
quinta-feira, março 21, 2013
um brinde à mediocridade
hoje brindo à mediocridade que insiste em permear minha vida. brindo sem bebida, sem alegria, sem orgulho, mas com uma puta melancolia e tédio. o que salva são os amigos, o que salva é a arte de cada um. essa vida tem hora que é foda. nos consome e some com os sonhos de maneira ardilosa, mesmo os mais rasos. sou professora sim. não sei se escolhi isso, mas até hoje tenho levado e pasmem, gosto disso. porém, há muito que não acredito na educação. há muito não acredito nesse sistema podre e furado, injusto, cruel em que não se investe de fato nos profissionais dessa área, nos alunos, nas escolas. muita coisa mudou. está mudando, mas meu tempo não permite que eu tenha alguma esperança. quantas greves já fiz e ainda faço? até quando terei que lutar por uma coisa que deveria ser valorizada pra caralho. saí da rede particular por opção. o sistema é terrível. não vale a pena expor todos os aspectos, acho que a maioria tem alguma noção. mas só quem está dentro de uma sala de aula é que sabe realmente o que é essa merda toda. os alunos são a melhor parte, podem acreditar. por que permaneço? por uma questão de sobrevivência mesmo. e talvez por não saber fazer outra coisa. então, brindemos, senhores e senhoras, à mediocridade da sobrevivência. pode ser que hoje quando for à escola, alguma coisa aconteça e eu pense diferente.
quarta-feira, março 20, 2013
noite de outono
arte: rafael godoy
as luzes da cidade acenderam a noite
e estou do outro lado
penso quando não pensava no tempo
e tinha sempre uma lua inventada
os pássaros escuros varrem os insetos
este espaço é muito vasto
o vento de outono entra no meu quarto
e não ouço o seu barulho
e sinto suas mãos frias
e a noite acesa do outro lado
me escondo no escuro
e a imensidão fica pequena
quero fechar as janelas
mas a lua é imensa
levanto-me no vento
e me curvo às suas frases de pedra
e estou do outro lado
penso quando não pensava no tempo
e tinha sempre uma lua inventada
os pássaros escuros varrem os insetos
este espaço é muito vasto
o vento de outono entra no meu quarto
e não ouço o seu barulho
e sinto suas mãos frias
e a noite acesa do outro lado
me escondo no escuro
e a imensidão fica pequena
quero fechar as janelas
mas a lua é imensa
levanto-me no vento
e me curvo às suas frases de pedra
quinta-feira, março 14, 2013
esse é o dia
arte: rafael godoy
esse é o dia que talvez corra perigo
de dar voltas sobre meu corpo e em volta da mesa
de não saber direito olhar a lua
de não achar o livro que me deu de aniversário
esse é o dia de cortar os cabelos e pintar as unhas
de não saber dizer não quando devia
de fingir acreditar em seus olhos
de olhar debaixo da cama e encontrar o pé sumido da sandália
esse é o dia de ler horóscopos rasos e tarôs
e pensar que tudo vai dar certo no fim do dia
de incendiar o corpo e gelar sorrisos
de dizer o que ontem seria mentira
de dar voltas sobre meu corpo e em volta da mesa
de não saber direito olhar a lua
de não achar o livro que me deu de aniversário
esse é o dia de cortar os cabelos e pintar as unhas
de não saber dizer não quando devia
de fingir acreditar em seus olhos
de olhar debaixo da cama e encontrar o pé sumido da sandália
esse é o dia de ler horóscopos rasos e tarôs
e pensar que tudo vai dar certo no fim do dia
de incendiar o corpo e gelar sorrisos
de dizer o que ontem seria mentira
segunda-feira, março 04, 2013
Encontro Desmarcado
Toda vez que penso em ir a um médico me desespero. E hoje vou ter que
ir. Não dá pra adiar o inevitável. O ano inteiro enrolo; marco, não vou,
invento desculpas, qualquer uma. Mas hoje não escapo. Sou mulher,
porra. Tenho que fazer aquele exame ginecológico. Esperar no
consultório, ler aquelas revistas horríveis, ver mulheres entrando e
saindo. Enquanto espero, imagino várias maneiras de fugir dali. Nesses
devaneios, a secretária chama meu nome.Não, não, não!! Mas é tarde.
Não tem mais jeito. Quando entro, a médica com todas aquelas perguntas
a que não quero responder: Continua fumando, tá fazendo dieta? Parou de
beber? Olha o colesterol!! Tá no limite! Precisa fazer reeducação
alimentar, você está acima do peso.Tento contornar e digo que vou
tentar, desta vez, vou conseguir. Então, ela diz: Pode pôr o avental e
se deitar. Então, olho para a mesa, uma cama de tortura. Dois apoios
para o pé, distantes, opostos. O avental é aberto na frente. Tenho que
abrir, literalmente, as pernas. Fico dura como um tronco. Travo. Pô!
Em outras situações isso é natural! Mas não é o caso! Sinto algo frio
entrando em meu ventre. Aquele instrumento gelado de metal, o gel, a
barriga sendo apalpada, agora os seios examinados, tocados. Finalmente,
ela diz: Pode se vestir. Corro pro banheiro, ponho a roupa o mais
depressa que posso. Quero sair voando dali. Tenho um encontro com um
amigo, em um boteco, ali perto. Mais tarde, quem sabe, vou ter que tirar
a roupa de novo, outra situação. Relembro a consulta. Talvez o
encontro fique para outro dia.
(republicado)
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