terça-feira, setembro 11, 2012

não quero nem ver

arte: rafael godoy



não quero nem ver a hora em que ele chegar
e perceber que os objetos de que mais gostava
estão amontoados no canto da sala
que os seus cedês preferidos
estão empilhados sem ordem
e seus livros adormecem numa caixa de papelão sem cor
que os seus quadros tristes
estão encostados na parede



não quero nem ver quando ele perguntar
de suas camisetas desbotadas
que usava para se deitar comigo
que meus lençóis estão com outro cheiro
o travesseiro outra forma
e na geladeira outra marca de cerveja

não quero nem ver quando ele perguntar do nosso gato
e souber que está aninhado em outro colo

não quero nem ver quando ele descobrir
que os meus olhos brilham mais
e que minha boca tem um outro sorriso

18 comentários:

nilson disse...

Desamor. Sempre tão cruel.
Tão puído.
E essa necessidade louca de viver um primeiro amor a cada amor que surge.

"quebrei o teu prato,
tranquei no meu quarto,
bebi teu licor..."

Daniela Delias disse...

belíssimo, adriana...

bjo

carikaturARTE disse...



Ou...t(r)ocando-te!

:o)

Adriana Godoy disse...

Nilson, boa referência. Valeu a visita! Bj

Adriana Godoy disse...

Danielle, brigada! Bj

Adriana Godoy disse...

Tonho, adoro ver-te!

Adriana Godoy disse...

Marcos, só se for com conhaque!

L. Rafael Nolli disse...

É um achado, Adriana. Fui fisgado na primeira linha! Achei muito interessante as camadas que existem nesse poema. Fiquei aqui imaginando, quando ele descobrir o que ela há de fazer?
Abraços.

Adriana Godoy disse...

Pois é, Nolli,

não quero nem ver...rs

danilo disse...

adriana,
sua poesia do dia a dia me encanta...
pois é, quando as coisas se acabam( como é natural)
as dores doem muito mais
no fundo das almas:
o corpo, esse sofre ausências,
enquanto se projeta
em outros
lá do fundo do peito
o sentimento clama, ainda,
querendo reeencontros
mas as vezes é tarde,
às vezes não:
é a vida que segue
e não cega os desejos

um abraço
Danilo

vc. já conhece meu blog musapornografica.com.br?
vai lá me ver

Mauro Lúcio de Paula disse...

Adriana,
a sua poesia quando fala do seu cotidiano tem um "time" diferente, tem volúpia, tem sentimento, tem sequência e tem útero. A poeta fica na métrica e a mulher fica rima. Você tem um "q" de Cecília e um "r" de Adélia Prado. Parabéns, menina!

Luciano Fraga disse...

Adriana, real e denso, muitas vezes fugimos mesmo de certas realidades que nos afrontam, mas a coragem pra decidir é imprescindível,sua poesia; sempre contundente, beijo.

Adriana Godoy disse...

Danilo, tão bonito o que escreveu!
Suas palavras me encantam sempre. Beijo

Adriana Godoy disse...

Mauro, fico lisonjeada com suas palavras, mas quem dera Cecília e Adélia...nem de longe. Beijo

Adriana Godoy disse...

Luciano, contundente são sua palavras. Brigada, poeta queridíssimo. Beijo

Fabio Rocha disse...

belo e forte e cruel

beijos

Adriana Godoy disse...

Fábio, boa sua presença aqui. Beijo

José Carlos Brandão disse...

É a vida. Em frente que atrás vem gente.
Beijo.