ouvi os gritos de quem estava sendo engolido pela terra
e deles não tive pena
as casas continuavam brancas como fantasmas perdidos
e as crianças corriam loucas pelos passeios
uma mulher acabava de comer uma maçã vermelha e doce
e jogava as cascas para os pombos e abutres
uma velhinha empurrava com a bengala
as fezes dos pardais ensandecidos
o rio transbordava e jogava seus excrementos
contaminando o canal e as pessoas
um bando de velhos jogava cartas
nos bancos da praça abandonada
o poeta tentava achar a palavra que faltava
para completar seu poema de mil versos
os cães mastigavam uma carne transparente
não se sabia se era de gente ou de bicho
cavalos selvagens não corriam
apenas observavam o ritmo da natureza
a terra continuava a engolir os desvalidos e os afortunados
um homem lançava pedras no lago escuro
enquanto isso alguém tocava John Coltrane
e enfeitiçava a lua pálida
a terra parou e vomitou seus mistérios
e vomitou seus filhos seus bichos
sua decadência seus deuses sua arte
e finalmente adormeceu
(texto republicado)
19 comentários:
puxa, poema de uma intensidade que impressiona. e os dias se passam até que tudo adormeça, talvez para sempre... gostei demais!
abraços!
esse é com certeza um dos seus mais perfeitos poemas! Belo, belo, belo! como é bom vir por aqui! te quero sempre, drika! beijos ,anita.
DRI!
Um poema de uma beleza ímpar, que só sua maestria consegue fazer.
Beijos, amiga querida!
Mirze
Adriana,
um barco (bar) ébrio em pé de telúricas e também concretas imagens. E o Bardo merece a oferenda, com certeza.
Abraços!
adoro esse texto.
e, quanto à sua pergunta de quandos, não é só lá. é por enquanto, é quandos. sei lá.
rsrs..
beijo e frô, bunitona :)
senti vento nos cabelos e perfume na face, enquanto corriam os cavalos e meu olhar, acompanhava-os.
Que lindo, Dri.
Meu carinho,
Samara Bassi.
belo, belo
beijo
Olá, vim conhecer seu espaço, muito encantador, de qualidade.
Adriana!
Que lindeza... quantas imagens criando-se encadeadas por precisas palavras. Inspiração, talento.
Saudade daqui, volto sempre.
Bjos
Olá minha querida amiga!
igual a ti, ausente da net, ausente dos blogs, raramente apareço e, que surpresa chegar hoje e te reencontrar!
Tua poesia, como sempre única!
Beijo no teu coração.
daufen bach.
querida Adriana,
um texto como esse é pra se rezar, e pedir a Deus para fazer dele semente para outros tantos.
muito bonito!
Dá incômodo, ardência no peito e alegria por poder ler e se entender a partir dele.
um beijo
bonito...o bardo nos inspira.
↓
Mág.iC.a Go.dóy!
Ar.g.te!
Plac! Plac!
:o)
Adriana querida amiga, texto inquietantemente assombroso, a mãe terra devora/adormece e gera em sua coreografia silenciosa, beijo.
belo, belo, belo.
Uma resenha do que acontece no planeta, uma proposta de olhar.
Muito bom, Adriana.
Beijos.
Impecável!
Este bardo esteve fora dos paramentos tecnológicos por um período.
Não é muito que ele agradeça - e de novo e de novo e de no... v... gênesis!
Ainda bem que, mesmo sendo repeteco, vc continue gostando...Beijo
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