quarta-feira, março 23, 2011

canto maldito

arte: rafael godoy

choro por você, ginsberg
e por todos os malditos que povoaram o mundo
seu uivo ainda é ouvido
e faz sangrar os ouvidos dos insensíveis
as américas clamam por poetas
que fazem rolar as pedras
mas há um abismo profundo tão profundo

os homens não sabem mais enxergar
têm medo das próprias almas
"se deixaram foder no rabo"
por dinheiro, poder e religião
e jogam aos cães as tripas de que se serviram
ensandecem a cada dia e continuam levando soldados
para morrerem por uma pátria que nunca existiu

não há mais volta, ginsberg
o mar invadiu as cidades
há o veneno invisível
que contamina o oriente
e deixa seu rastro pelo resto do planeta

a poesia se faz quase muda
os poetas querem uivar
mas a fumaça negra é maior

os poentes são de sangue poeira
o diabo anda solto e dança
sobre os mortos com suas mãos de sombras

choro por você, ginsberg
por todos os poetas
por todos desgraçados
pelos anjos perdidos sem asas
pelos solitários pelos bêbados
pelas putas pelos profetas
por mim

17 comentários:

Pedro Du Bois disse...

A construção, intercalada em nada, aumentou a profundidade do (seu)abismo poético. Muito bom. Abraços, Pedro.

Adriana Godoy disse...

Pois é, tinha sido defeito do editor de texto. Espero que goste com o vazio preenchido. Abraço

Sam disse...

Que (não) se tampem os versos
e clamem os ouvidos!

Forte, forte sua voz de hoje.

Gostei muito, Adriana.

Meu beijo

Úrsula Avner disse...

Oi Adriana,

sintonia plena entre a arte em tela e o poema. Versos fortes, incisivos, marcantes e que retratam bem a realidade atual do mundo apocalíptico em que vivemos... Bj.

Suzana Martins disse...

Sintonia perfeita de palavras. Musicalizou tudo aqui

Beijos

Unknown disse...

porradão, como um pedra rolando


beijo

Unknown disse...

DRI!

Maravilhoso poema onde vi os poetas rolarem junto ao seu grito.

Choro junto com você e ginsberg.

Beijos

Mirze

Rosangela Ataide disse...

É de perder o fôlego de tão real e atual. Parabéns Adriana!

Wania disse...

Dri

E nós, vamos sobrevivendo ao caos!
Pego a poesia como bandeira e peço paz!



Versos pungentes!
Bjs

Luciano Fraga disse...

Adriana querida, bateu no ponto fraco de todos nós, via Ginsberg a ferida é então reaberta com mais chama e vigor, ele diria: "uma imagem permanece no final com miríades de olhos na Eternidade. Esta é a obra! Este é o saber! Este é o fim do homem!" Grandioso poema,beijo querida.

Anônimo disse...

É difícil chorar a dor do mundo... então a gente escreve.

Perfeito!
Beijo, flor.

byTONHO disse...



Maldito... bem dito!

"O final será transmitido
na TV a cabo Pay-per-view!
"

É pagar pra VER!

:(

guru martins disse...

...é o cão
chupando manga
atrás da moita
com o ventilador
na mão dizendo: vem!
mas eu não vou
prefiro me foder!

bj

Vinícius Paes disse...

Por nós!
Um poema que diz tudo, num uivo, ressoando uma nostalgia beat. Belo, Adriana, simplesmente.
Adorei esses versos:
"os homens não sabem mais enxergar
têm medo das próprias almas
'se deixaram foder no rabo'
por dinheiro, poder e religião
e jogam aos cães as tripas de que se serviram"

Uma coincidência, estou começando a ler Uivo, novamente.

Beijos, Adriana, já estava, eu, sentido falta disso tudo aqui. Da sua voz.

Carlota Joaquina disse...

Eu lia e sentia essa dor, esse choro...muito linda essa.

José Carlos Brandão disse...

Li os três últimos poemas, gostei especialmente deste, mas fiquei pensando na sua mãe. Estou rezando por ela.
Beijos.

Anônimo disse...

ginsberg uiva por lá

aqui nós temos adriana

g