Não podia ouvir mais esse blues. O nome do cantor não sabia, mas tinha uma voz meio rouca, quase doce. Entrava na minha alma, como se entra em um lugar conhecido. Desliguei o som e saí pela cidade à procura de um lugar que me fizesse esquecer de algum modo o peso do dia. Não vi nenhum rosto conhecido. Entrei em um boteco querendo beber alguma coisa, porque estava frio. Já era noite. E então vi alguns homens jogando sinuca em um êxtase quase animal. Foi como a cena de um filme, eles pegavam o taco como se pega uma mulher. Mexiam, giravam o corpo miravam o buraco, contorciam-se feito serpentes. Ali naquela hora pude perceber um sentido para a vida. Um deles chegou perto de mim e me ofereceu um conhaque, sentou-se a minha mesa e ficou me olhando. Não falou nada, eu também não. Ficamos ali, talvez, minutos, horas, a noite toda. Bebemos mais vários conhaques, o corpo quente, a alma inquieta. E então ouvi aquele som, um blues cantado por uma voz rouca e quase doce. Acho que ele me beijou e disse alguma coisa sobre os perigos da noite.
quinta-feira, agosto 13, 2009
noite blues
Não podia ouvir mais esse blues. O nome do cantor não sabia, mas tinha uma voz meio rouca, quase doce. Entrava na minha alma, como se entra em um lugar conhecido. Desliguei o som e saí pela cidade à procura de um lugar que me fizesse esquecer de algum modo o peso do dia. Não vi nenhum rosto conhecido. Entrei em um boteco querendo beber alguma coisa, porque estava frio. Já era noite. E então vi alguns homens jogando sinuca em um êxtase quase animal. Foi como a cena de um filme, eles pegavam o taco como se pega uma mulher. Mexiam, giravam o corpo miravam o buraco, contorciam-se feito serpentes. Ali naquela hora pude perceber um sentido para a vida. Um deles chegou perto de mim e me ofereceu um conhaque, sentou-se a minha mesa e ficou me olhando. Não falou nada, eu também não. Ficamos ali, talvez, minutos, horas, a noite toda. Bebemos mais vários conhaques, o corpo quente, a alma inquieta. E então ouvi aquele som, um blues cantado por uma voz rouca e quase doce. Acho que ele me beijou e disse alguma coisa sobre os perigos da noite.
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35 comentários:
que delícia, adriana! nem preciso dizer que a cara das minhas notas capitais, né?!
ow, então... será que esse cara era o bukowiski? acho que não, a voz doce...
beijos :)
algumas vezes teu texto me pega no laço e me leva pra longe... como agora que estou aqui, direitinho, nesse bar, junto com todas essas pessoas, velhas conhecidas da minha alma, e que às vezes sufoco pelo peso desse cotidiano pequenino e cheio de dorme-acorda.
bjs.
Cynthia
Encontros e desencontros. Acho que toda literatura, assim como a vida, é uma busca, parece que nunca estamos completos e algumas coisa, às vezes, pode ser um som, pode ser um quadro comoo esse do Van Gogh, pode seer umdia de chuva, desperta pra essa incompletude. Gostei.
Beijo.
Incrível tudo que você escreve, e eu sempre termino seus textos e me digo: Como essa mulher pulsa arte!
É Adriana...
As vezes a vida passa como numa cena de filme, e nós ali, congeladas, sendo vividas, e não vivendo...
Lindíssimo o texto.
Beijo na alma,
Solange
http://eucaliptosnajanela.blogspot.com
Gosto da cadência e da profundidade de seus textos!
Bjs
Adriana poeta querida, pqp, de doer, não sei se é uma trilha sonora ou um roteiro para um belo curta, imagens cinematográficas com gosto de fumaça,com pressa de explosão,de fuder! Forte abraço.
Uau!
Que noite...
Gosto disso:
desse silêncio cheio
que descreveu.
Beijo, Dri!
Que coincidência, na música...
Acho que enfim
vou retomar seu sabor
nas minhas leituras
desde o espelho na face
do lobo
O blue é sem palavras
Eu estava no top da lucidez
hoje, na hora do almoço
estava em casa
não tinha a tarde toda
para talvez dormir sono raro
imune ao por do sol
mas me deitei no tapete do quarto
liguei Cultura AM
um blue
nacional!!!
bela, a cantora
dizia algo assim
o seu texto
não é ficção
agora a imagem de Van Gogh
sem palavras...
Se, de fato, é ficção
fico muito feliz
mesmo porque a cantora
arruinou a minha tarde
trocando os erres
erros
acertos
a cabeça confusa
lavei o rosto várias vezes
entorpecimento de café
e cigarros idiotas feito criminoso
parecia louco
louco de uma coisa
torcia para chegar em casa
ficar sozinho
uma droga
ficar.com
No caminho tentava me recompor
assoviava um blue
nem percebia
passei do ponto
Com voce
se não é ou é ficção, não importa
mas é coincidência, AGod
Adorei seu texto
Nina, ia gostar se fosse...beijo
Cynthia, bacana seu comentário. ser pega no laço...beijo
Daniel, sua sensibilidade e poesia encantam. beijo
Nathália, pô, que bom, obrigada e volte mais. bj
Solange, boa a sua visita e palavras.
Obrigada. Volte sempre. bj
Lou, a recíproca é verdadeira. bj
Luciano, gostei da sua percepção, aíás, sempre gosto, beijão, poeta porreta.
Devir, coincidência ou não, muito bonito o seu comentário, acho que pode dar um blues. Obrigada e beijo.
drika, isso que chamo de uma prosa sexy !(rs) o ritmo é um gozo.
gostei do ar de pecado e delito, do subconsciente embriagado dos perigos noturnos. uma felina da noite entre conhaques , blues e um beijo quase que roubado . Amei!
beijos enormes pra ti, amore!
anita.
Tem perigo na noite? Andou beijando vampiro??
Olha aquele velho tema da Rita... cautela! :)=
adriana,
lindo esse seu flash da solidão...o bar, o blues, ah, o blues é um canto rascante da alma...tantas e tantos velhos e doces e amargos blues...ella,eller, dinah, billie, sarah, atntas vozes dissonantes e ah, a grande Janis... seu texzto é como uma letra de blue: soa a nostalgia e encontros&deencontros.
abraços DANILO.
Anita, sua leitura do texto me agrada demais, às vezes, nem penso e vc vem com tudo. Bom demais. Beijo.
Lord, quem sabe, às vezes era um vampiro mesmo. Bj
Danilo, obrigada pela leitura e comentário(aliás, bem pertinente) Bj
Ai que delíiiiiiicia!
Cheguei a sentir os movimentos dos tacos, e o sabor maravilhoso desta noite!
Incrível, Adriana! Tudo que você escreve eu penetro, ou seja você é mais que escritora e poeta.
Amei!
Beijos
Mirse
oi ,adriana! muito bacana ,mesmo!
tudo é real...tudo é ficcão!belas cenas em ação...até ,o fim da noite ,em que a bebida confunde a mente e suas percepções..bjo
tanamariza
Belo o poema anterior. E muito bom de ler, esse conto. Sempre prazeroso passar por aqui. Abraços.
Oi!
Gostei bastante desse texto também. Acho que sou freguês de seus bares oníricos...
Você trabalha como inusitado - e eu fico assim, assim...
Beijo do seu (amigo) bardo.
Mirse, que bom que gostou, sempre boa sua visita. obrigadíssima. bj
Tânia, nem tanto a bebida...obrigada. bj
Lara, agradeço mesmo. bj
Bardo, fique assim assim e vamos beber juntos esses delírios todos. Pode ser mais um sonho ou não? Beijo.
passando para te desejar um ótimo final de semana.
Belo post,
Maurizio
...e essa ânsia
que não passa...
bj
Um beijo, um blues, outra noite, que vai feito canção. Um lindo texto Adriana.
Beijos.
Adri, gosto muito de jogar sinuca e acho o taco sumamente fálico,
semelhante a esse blues que deixa tua alma inquieta, mas cá entre nós, se o cara só falou sobre os perigos da noite e não passou disso, meu Deus, que dor frustrante.
Teu texto é uma viagem que estou com vontade de fazer, o meu conhaque acabou, nesta casa só resta um pouco de cachaça me pedindo ser bebida.
Mulher, adoro teu jeito de escrever! O Van Gogh ficou perfeito, mas sou fã do Rafa.
Beijo
Estercita
Belo texto, Adriana! Adorei esse mote psicológico-urbano-musical.
Você é fera!
Bjo, e paz.
Tudo bem Adriana.
Vou convocar o suplente. ;-)
Um beijooo
Charles Bukowski fêz minha cabeça, lembro que relia varias vezes em seguida, como se acender cigaros à partir do anterior...
todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem
suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.
principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.
há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.
sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar – eu estava ocupado
com coisas maiores.
mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só
um aprendiz.
sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.
algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outra nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.
essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.
... ou beber em copo sem lavar as bebidas misturadas a baton e cinzas da noite anterior as únicas coisa que não podem faltar na geladeira: água e ar.
É foda esse pouco disso tudo.
Quero a continuação do filme, quero saber dos perigos, desse homem da voz doce...uau Adriana, que arraso!
o doce
som
da noite
[derramando-se
nos
olhos]
*beijo*
sou pirado por esse universo!
esse mistério que a noite oferece e mesmo assim a gente curte.
voz é massa.
bj
bar, noite, conhaque e blues. não tem como ficar sozinho apenas olhando. criaste um clima perfeito para aqueles quen dormem qdo o sol levanta.
Abraço a ti e tenha uma linda semana.
daufen bach.
Belo blues, Adriana.
Ótima semana.
Beijos
Às vezes só queremos o esquecimento.
E o esquecimento não vem.
Mas vem a poesia.
Sob a forma de um copo, uns lábios, um corpo.
Então queremos lembrar-nos.
Excitamo-nos com tanta lembrança.
Viva a vida!
Assim, Adriana, senti o teu texto.
Beijo.
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