quinta-feira, agosto 13, 2009

noite blues

van gogh

Não podia ouvir mais esse blues. O nome do cantor não sabia, mas tinha uma voz meio rouca, quase doce. Entrava na minha alma, como se entra em um lugar conhecido. Desliguei o som e saí pela cidade à procura de um lugar que me fizesse esquecer de algum modo o peso do dia. Não vi nenhum rosto conhecido. Entrei em um boteco querendo beber alguma coisa, porque estava frio. Já era noite. E então vi alguns homens jogando sinuca em um êxtase quase animal. Foi como a cena de um filme, eles pegavam o taco como se pega uma mulher. Mexiam, giravam o corpo miravam o buraco, contorciam-se feito serpentes. Ali naquela hora pude perceber um sentido para a vida. Um deles chegou perto de mim e me ofereceu um conhaque, sentou
-se a minha mesa e ficou me olhando. Não falou nada, eu também não. Ficamos ali, talvez, minutos, horas, a noite toda. Bebemos mais vários conhaques, o corpo quente, a alma inquieta. E então ouvi aquele som, um blues cantado por uma voz rouca e quase doce. Acho que ele me beijou e disse alguma coisa sobre os perigos da noite.

35 comentários:

nina rizzi disse...

que delícia, adriana! nem preciso dizer que a cara das minhas notas capitais, né?!

ow, então... será que esse cara era o bukowiski? acho que não, a voz doce...

beijos :)

sopro, vento, ventania disse...

algumas vezes teu texto me pega no laço e me leva pra longe... como agora que estou aqui, direitinho, nesse bar, junto com todas essas pessoas, velhas conhecidas da minha alma, e que às vezes sufoco pelo peso desse cotidiano pequenino e cheio de dorme-acorda.
bjs.
Cynthia

pianistaboxeador21 disse...

Encontros e desencontros. Acho que toda literatura, assim como a vida, é uma busca, parece que nunca estamos completos e algumas coisa, às vezes, pode ser um som, pode ser um quadro comoo esse do Van Gogh, pode seer umdia de chuva, desperta pra essa incompletude. Gostei.
Beijo.

Nátalin Guvea disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nátalin Guvea disse...

Incrível tudo que você escreve, e eu sempre termino seus textos e me digo: Como essa mulher pulsa arte!

Solange Maia disse...

É Adriana...

As vezes a vida passa como numa cena de filme, e nós ali, congeladas, sendo vividas, e não vivendo...

Lindíssimo o texto.

Beijo na alma,

Solange

http://eucaliptosnajanela.blogspot.com

Lou Vilela disse...

Gosto da cadência e da profundidade de seus textos!

Bjs

Luciano Fraga disse...

Adriana poeta querida, pqp, de doer, não sei se é uma trilha sonora ou um roteiro para um belo curta, imagens cinematográficas com gosto de fumaça,com pressa de explosão,de fuder! Forte abraço.

Renata de Aragão Lopes disse...

Uau!
Que noite...

Gosto disso:
desse silêncio cheio
que descreveu.

Beijo, Dri!

Devir disse...

Que coincidência, na música...

Acho que enfim
vou retomar seu sabor
nas minhas leituras
desde o espelho na face
do lobo

O blue é sem palavras

Eu estava no top da lucidez
hoje, na hora do almoço
estava em casa
não tinha a tarde toda
para talvez dormir sono raro
imune ao por do sol
mas me deitei no tapete do quarto
liguei Cultura AM
um blue
nacional!!!
bela, a cantora
dizia algo assim
o seu texto
não é ficção

agora a imagem de Van Gogh
sem palavras...

Se, de fato, é ficção
fico muito feliz
mesmo porque a cantora
arruinou a minha tarde
trocando os erres
erros
acertos
a cabeça confusa
lavei o rosto várias vezes
entorpecimento de café
e cigarros idiotas feito criminoso
parecia louco
louco de uma coisa
torcia para chegar em casa
ficar sozinho
uma droga
ficar.com

No caminho tentava me recompor
assoviava um blue
nem percebia
passei do ponto

Com voce
se não é ou é ficção, não importa
mas é coincidência, AGod

Adorei seu texto

Adriana Godoy disse...

Nina, ia gostar se fosse...beijo

Cynthia, bacana seu comentário. ser pega no laço...beijo

Daniel, sua sensibilidade e poesia encantam. beijo

Nathália, pô, que bom, obrigada e volte mais. bj

Solange, boa a sua visita e palavras.
Obrigada. Volte sempre. bj

Lou, a recíproca é verdadeira. bj

Luciano, gostei da sua percepção, aíás, sempre gosto, beijão, poeta porreta.

Devir, coincidência ou não, muito bonito o seu comentário, acho que pode dar um blues. Obrigada e beijo.

Anita Mendes disse...

drika, isso que chamo de uma prosa sexy !(rs) o ritmo é um gozo.
gostei do ar de pecado e delito, do subconsciente embriagado dos perigos noturnos. uma felina da noite entre conhaques , blues e um beijo quase que roubado . Amei!
beijos enormes pra ti, amore!
anita.

Anita Mendes disse...
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Lord of Erewhon disse...

Tem perigo na noite? Andou beijando vampiro??
Olha aquele velho tema da Rita... cautela! :)=

danilo disse...

adriana,
lindo esse seu flash da solidão...o bar, o blues, ah, o blues é um canto rascante da alma...tantas e tantos velhos e doces e amargos blues...ella,eller, dinah, billie, sarah, atntas vozes dissonantes e ah, a grande Janis... seu texzto é como uma letra de blue: soa a nostalgia e encontros&deencontros.
abraços DANILO.

Adriana Godoy disse...

Anita, sua leitura do texto me agrada demais, às vezes, nem penso e vc vem com tudo. Bom demais. Beijo.

Lord, quem sabe, às vezes era um vampiro mesmo. Bj

Danilo, obrigada pela leitura e comentário(aliás, bem pertinente) Bj

Unknown disse...

Ai que delíiiiiiicia!

Cheguei a sentir os movimentos dos tacos, e o sabor maravilhoso desta noite!

Incrível, Adriana! Tudo que você escreve eu penetro, ou seja você é mais que escritora e poeta.

Amei!

Beijos

Mirse

tania não desista disse...

oi ,adriana! muito bacana ,mesmo!
tudo é real...tudo é ficcão!belas cenas em ação...até ,o fim da noite ,em que a bebida confunde a mente e suas percepções..bjo
tanamariza

Lara Amaral disse...

Belo o poema anterior. E muito bom de ler, esse conto. Sempre prazeroso passar por aqui. Abraços.

BAR DO BARDO disse...

Oi!

Gostei bastante desse texto também. Acho que sou freguês de seus bares oníricos...
Você trabalha como inusitado - e eu fico assim, assim...

Beijo do seu (amigo) bardo.

Adriana Godoy disse...

Mirse, que bom que gostou, sempre boa sua visita. obrigadíssima. bj

Tânia, nem tanto a bebida...obrigada. bj

Lara, agradeço mesmo. bj

Bardo, fique assim assim e vamos beber juntos esses delírios todos. Pode ser mais um sonho ou não? Beijo.

meus instantes e momentos disse...

passando para te desejar um ótimo final de semana.
Belo post,
Maurizio

guru martins disse...

...e essa ânsia
que não passa...

bj

Vinícius Paes disse...

Um beijo, um blues, outra noite, que vai feito canção. Um lindo texto Adriana.

Beijos.

Isabel Estercita Lew disse...

Adri, gosto muito de jogar sinuca e acho o taco sumamente fálico,
semelhante a esse blues que deixa tua alma inquieta, mas cá entre nós, se o cara só falou sobre os perigos da noite e não passou disso, meu Deus, que dor frustrante.
Teu texto é uma viagem que estou com vontade de fazer, o meu conhaque acabou, nesta casa só resta um pouco de cachaça me pedindo ser bebida.

Mulher, adoro teu jeito de escrever! O Van Gogh ficou perfeito, mas sou fã do Rafa.

Beijo

Estercita

Assis de Mello disse...
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Talita Prates disse...

Belo texto, Adriana! Adorei esse mote psicológico-urbano-musical.
Você é fera!
Bjo, e paz.

Assis de Mello disse...

Tudo bem Adriana.
Vou convocar o suplente. ;-)
Um beijooo

Devir disse...

Charles Bukowski fêz minha cabeça, lembro que relia varias vezes em seguida, como se acender cigaros à partir do anterior...

todas as mulheres

todos os beijos delas as

formas variadas como amam e

falam e carecem



suas orelhas elas todas têm

orelhas e

gargantas e vestidos

e sapatos e

automóveis e ex-

maridos.



principalmente

as mulheres são muito

quentes elas me lembram a

torrada amanteigada com a manteiga

derretida

nela.



há uma aparência

no olho: elas foram

tomadas, foram

enganadas. não sei mesmo o que

fazer por

elas.



sou

um bom cozinheiro, um bom

ouvinte

mas nunca aprendi a

dançar – eu estava ocupado

com coisas maiores.



mas gostei das camas variadas

lá delas

fumar um cigarro

olhando pro teto. não fui nocivo nem

desonesto. só

um aprendiz.



sei que todas têm pés e cruzam

descalças pelo assoalho

enquanto observo suas tímidas bundas na

penumbra. sei que gostam de mim algumas até

me amam

mas eu amo só umas

poucas.



algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;

outras falam mansamente da

infância e pais e

paisagens; algumas são quase

malucas mas nenhuma delas é

desprovida de sentido; algumas amam

bem, outra nem

tanto; as melhores no sexo nem sempre

são as melhores em

outras coisas; todas têm limites como eu tenho

limites e nos aprendemos

rapidamente.



todas as mulheres todas as

mulheres todos os

quartos de dormir

os tapetes as

fotos as

cortinas, tudo mais ou menos

como uma igreja só

raramente se ouve

uma risada.



essas orelhas esses

braços esses

cotovelos esses olhos

olhando, o afeto e a

carência me

sustentaram, me

sustentaram.

... ou beber em copo sem lavar as bebidas misturadas a baton e cinzas da noite anterior as únicas coisa que não podem faltar na geladeira: água e ar.

É foda esse pouco disso tudo.

Adriana Riess Karnal disse...

Quero a continuação do filme, quero saber dos perigos, desse homem da voz doce...uau Adriana, que arraso!

lupuscanissignatus disse...

o doce

som

da noite


[derramando-se
nos
olhos]


*beijo*

Rounds disse...

sou pirado por esse universo!

esse mistério que a noite oferece e mesmo assim a gente curte.

voz é massa.

bj

Daufen Bach disse...

bar, noite, conhaque e blues. não tem como ficar sozinho apenas olhando. criaste um clima perfeito para aqueles quen dormem qdo o sol levanta.
Abraço a ti e tenha uma linda semana.


daufen bach.

Fred Matos disse...

Belo blues, Adriana.
Ótima semana.
Beijos

José Carlos Brandão disse...

Às vezes só queremos o esquecimento.
E o esquecimento não vem.
Mas vem a poesia.
Sob a forma de um copo, uns lábios, um corpo.
Então queremos lembrar-nos.
Excitamo-nos com tanta lembrança.
Viva a vida!

Assim, Adriana, senti o teu texto.
Beijo.