sábado, março 28, 2009

o ar frio que entrava pela janela

estudo de aquarela/ Rafael Godoy

mais de uma vez ele me disse
que havia solução
que nem tudo estava perdido

mais de uma vez apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar

mais de uma vez me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre

mais de uma vez me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama

mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas

mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo

mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi

eu fiquei

e ficou a noite a música
e o ar frio que entrava pela janela

32 comentários:

Vinícius Paes disse...

Incrível... mesmo.
Miles Davis pode rodar a noite inteira. por mais que ele se vá, não estará só. Miles Davis toca a noite toda, e o ar frio que entra pela janela é jAZZ,sempre é jazz... sempre é solidão, sou louco vadio perdido... e miles davis é o mais longe da realidade que eu posso chegar. e ficar só, com a música de davis é mais do que apenas ficar só.

estou encantado com esse texto... como fico encantado ao escutar Davis... realmente fantástico Adriana.

beijos.

Vinícius Paes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Belíssimo, Adriana!
Dói, por pensar quão rotineira é esta cena. Há uma interiorização sem pieguices, como uma espectadora do próprio eu.

Muito Bom!!!

Parabéns!

Abraços

Mirze

Luciano Fraga disse...

Belo!Miles Davis ecoando pela noite e o frio entrando em nossa solidão pelas frestas de uma janela, é quase mortal se não tivermos a sensibilidade suficiente para compreendermos o poder caloroso da solitude também.Adriana, sempre brilhante,Beijo.

Unknown disse...

O frio
intenso frio
fazendo meus ossos
lembrarem dos
antigos ritmos
eu danço
e choro
e cada lágrima
dança
e mais chora
a sinfonia perturbante
infinita noite fria
se torna
e os sorrisos
daquilo que me
acalorava
encontram-se nas
geleiras da memória...

Identifiquei-me muitíssimo com este poema, Adriana, tu TENS TALENTO, sim, não te diminuas cxomo fizestes naquele comentário lá no Jardim.

Unknown disse...

Como, eu quis dizer acima, cometi um erro de digitação, desculpe-me.

Anita Mendes disse...

Drika, amo seus poemas .Eles são como aquelas balinhas doces que tem um gostinho amargo no final.
Outro belo poema, outra bela maneira de encarar as pequenas -grandes decepções. Me encanta vir por aqui( de verdade!)

ps:o belo quadro reflete toda a imagem do poema é como se vc estivesse paralizada na cama e o som de Miles Davis chamando ,convidando o inverno ...insinuando que ele bata à porta e não saia nunca mais.
beijos...
Anita.

Adriana Godoy disse...

V.M.Paes, Luciano, Inominável Ser, Mirse e Anita, seus comentários são tão bonitos que se transformam em poesia. Agradeço muito e me emociono. Beijo.

Beatriz disse...

Belo poema. A repetição vai prenchendo, preenchendo..mas esvazia.
Compulsão é o ato de repetir com o intuito ilusório de que o desejo cesse, lembra? ;)

BAR DO BARDO disse...

cheio de climas e ambientes o seu texto.

seu pé na prosa, no meu entender, enriquece ainda mais a sua poética - além de definir estilo.

parabéns, menina.

dessa vez, eu não vou chorar (mas haveria bastante por que lágrimas).

Adriana Godoy disse...

C.Diária, acho que a intenção era essa. Esvaziar com a repetição. Beijo.

Pimenta, gostei de seu comentário, mas meu pé na prosa é espontâneo como os poemas. Talvez por isso admire seus sonetos que são elaborados tão minuciosamente.

Obrigada também pelo"menina"(hahá). Beijo.

Fred Matos disse...

Belíssimo poema, Adriana.
Beijos

Cosmunicando disse...

você cria imagens muito ricas nos teus escritos, Adriana... elas vão se configurando enquanto leio, é lindo com um toque agridoce.
bjos

Cristiane Felipe disse...

Que intensa história!
Essa é pra quem pensa que poesia é feita apenas no mundo das imagens abstratas...
Muita paixão.

Bjos

Cristiane Felipe disse...

Que intensa história!
Essa é pra quem pensa que poesia é feita apenas no mundo das imagens abstratas...
Muita paixão.

Bjos

Tomaz disse...

Lindo e intenso!
Recheado de sentimento e clímax...
E no fim nota-se uma perda, que pode ser temporária ou permanente, mas como toda perda, deixa uma história gravada, seja na noite, na música ou o ar frio que entra pela janela.

Beijo.

Adriana Godoy disse...

Fred, Cosmunicando, Cristiane, Tomás seus comentários soam como música aos meus ouvidos. Obrigada, de verdade.

Rafael R. V. Silva. disse...

Lindo!!!

beijão.

Adriana Godoy disse...

Rafael, valeu. Bj

Assis de Mello disse...

Adriana,
Independentemente do tema, seus poemas são grávidos de lirismo, imagens vivas e intensidade. Refestelam-nos.
Você é uma tremenda! poeta.
E quem é o Rafael Godoy, autor desse belíssimo e paralisérgico estudo de aquarela ? Família de bruxos das emoções ?
Um beijooo,
Chico

Anita Mendes disse...

Drika , deixei comentários no Pero Vaz (que poema!)e velho na janela.
ps: amo as suas prosas!
beijos,
Anita.

José Carlos Brandão disse...

Belíssimo poema sobre o jogo da solidão. Nunca estamos sós, o vazio é sempre preenchido. Parabéns.
Um grande abraço.

nina rizzi disse...

caramba, mulher. contundente, forte. tradicional jazz, balada-jazz de miles, não. que o poema é, em certos tempos, jocoso. feito o cara-poema que se jorra e sarra em/com vc e cai fora (dá uma ouvida na musiqueta do ellenismos. é isso. parece fazer piada com a cara da abando-nada).

gostei demais. demais. muito. assim
: redundante. feito nós. feito traditional jazz.

JC disse...

Bonito poema.
Tantas vezes esta cena se passa na vida real, quantos casais já a viveram e outros ainda a viverão?
Por vezes por muito que nos esforcemos, por muito que digamos para nós e para o nosso parceiro, que vamos melhorar, que não voltamos a repetir. Sempre voltamos. Dá a sensação que é mais forte do que nós.
Beijihos

Adriana Godoy disse...

Assis de Mello, muitíssimo obrigada pelo comentário tão elogioso.É uma honra.
O autor da aquarela é o meu filho mais velho, que é um artista plástico. Bj
PS: Ele nem sabe que utilizei seu trabalho, são estudos que ele deixa no pc.


José Carlos, boa a sua interpretação. Gostei. Bj

Nina, seu comentário sempre muito beat, adorei.

JC, acho que é isso mesmo, repetimos o que não se devia ser repetido e quando nos damos conta pode ser tarde demais.

Anita, que bom que vc gostou, do "Velho na janela" e do "Pero Jaz", vou pensar em repostá-lo(Pero Jaz) como sugeriu. Beijo.

Fred Matos disse...

Esperando novos textos, deixo um beijo.

Marcia Barbieri disse...

No final,nunca mudamos,partimos.

beijos ternos

Rounds disse...

suave e agradável como o vento que entra na minha janela neste momento.

bj

Anônimo disse...

sua poesia... nem sei o que dizer, Adriana, além de que fico com a sensação de que esse frio todo já passou por mim tantas vezes e não soube o que dizer nem o que fazer com ele. Você, tendo ou não passado por isso (sendo esse seu "eu" de confissão ou de ficção), deu-lhe uma voz e um som -da mais bela tonalidade.

Adriana Godoy disse...

Márcia, Buenas e Cinthya só posso agradecer as palavras tão gentis. Bj

pianistaboxeador21 disse...

Lindíssimo!!!

Beijo,

Daniel

Ígor Andrade disse...

Fiquei imaginando uma cena...
Abraço, Adriana! E obrigado, pelos comentários!