quarta-feira, janeiro 07, 2009

possuída

a manhã pede um pouco de gosto pela vida
o sol aparece depois de tanta chuva
acontece que o mofo se instalou nas minhas veias
nos meus cabelos nas minhas unhas
o mofo está cobrindo meus olhos
e criou musgo na minha boca
os sons que chegam são quase inaudíveis
tenho medo de ouvir minha voz
e perceber não ser minha
os gritos da guerra estão próximos
e não os ouço
o coração está úmido e verde
o lodo que cobre as paredes e os muros
tomou conta definitivamente de mim

16 comentários:

pianistaboxeador21 disse...

Lembrei do Álvaro de Campos "com a morte a põr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens"
Muito bom, Adriana.
Abração,

Daniel

BAR DO BARDO disse...

As pedras humanas também precisam de rolar. Por favor, peça ao eu lírico que se movimente, porque o cinético é vida. Por favor, faça esse pedido por mim. Não podemos abandonar as batalhas que se instauram-nos todos os dias. No Bhagavad Gita há solução bastante. Tenho dito! Namastê!

Anônimo disse...

mas o sol apareceu após tanta chuva.

Luciano Fraga disse...

Mesmo na correria, não posso deixar de passar aqui.Sinais dos tempos modernos,crueldade e frieza, geram mofo...Belo.Beijo.

Rounds disse...

é isso aí d. luchiano,

crueldade e frieza geram mofo.

adriana, está arrepiante.

bj

Adriana Godoy disse...

Gente, obrigada pelos comentários, de verdade. O pior mofo é o que não se vê. Beijos.

Adriana Godoy disse...

"a manhã de sol pede um gosto pela vida", o início do poema nos remete a doces coisas e aí você vem e nos leva para o abismo de nós. Talvez estilo seja isso: o desvio do óbvio. E você tem estilo. Adoro seus poemas. Beijo , sempre. R.B.

Adriana Godoy disse...

R.B. olha só, é só eu sair pra você entrar no meu blog e escrever. Da próxima vez, vou ter mais cuidado. Mas, de qualquer forma, obrigada pelo comentário, mesmo com meu nome. Beijo.

guru martins disse...

...pois é,
seres solares
sofrem muito
em período longo
de chuva intensa.
Não combina com
nossa natureza...
És sempre bem vinda
ao calor do balaio...

bj

Anônimo disse...

Cunhadão,
desde novembro não passava aq e hj me permiti esse deleite. Q coisa linda isso aqui. AMEI o Possuída, parece com vc... e comigo tbm!
Achei ótimo o Ano Novo e simplismente adorei o Não quero nem vê.
Acho q os 3 foram escritos por mim...eu acho!
O Epifânia é bom demais tbm...
bj

Vinícius Paes disse...

O mofo de toda essa liquidez da modernidade. Como sempre fantástico Adriana.

beijos.

f@ disse...

O coração húmido e verde vai brotar...
Não pegou mofo nos dedos e a criatividade também é mta eis aqui + um belo poema...

Beijinhos das nuvens

Cristiane Felipe disse...

Belos poemas os seus...
Me identifiquei com eles!
Parabéns.

Barone disse...

E ainda assim
não canso de abrir janelas,
tantas janelas,
tanto tempo fechadas.

Anônimo disse...

Gostei...

Beatriz disse...

Diante dessa lindeza que meu grito seja de admiração.