arte: rafael godoy
você precisaria de mil noites pra começar a me entender
pra sentir a lua e o gosto da cerveja descendo como um rio doce na garganta
você precisaria de mil dedos pra me tocar
e talvez nem alcançasse o ponto mais primitivo do prazer
você precisaria de atravessar estradas curvas e escuras
pra saber a cor do vento e a intensidade dos pássaros noturnos
você precisaria ficar à beira de mil abismos
pra entender que nossos abismos são os mais profundos e quase inatingíveis
você precisaria ouvir as canções mais viscerais
e saber que um poema pode mudar sua cabeça previsível
você precisaria saber que quando estamos com amigos de verdade
podem aparecer estrelas cadentes nos olhos
cara, mas você não sabe nada
não sabe nada
4 comentários:
Há pessoas que nem essa intensidade de palavras adianta; um olhar mais firme já as derruba. Ótimo, Dri!
Beijo.
Alguém que precisaria ser outro alguém. Mas é dessa inconsciência que germina o poema, e isso salva.
Beijos,
há um desconhecimento que incita
beijo
Eu, não sei nada.
Hei de viver e morrer sem nada saber.
Mas penso que teria apenas uma noite para te conhecer e entender (ou não)
depois de lá tudo seria consequência e desdobramento, entende?
depois de lá,
você seria então um nome
e esse nome teria uma ocupação
e essa ocupação te daria algo (com uma mão)
e subtrairia algo (com as duas).
Passada a primeira noite,
você não seria mais um cheiro, um rosto, um olho,
seria um contexto...
seria mais?
Depois de lá, talvez eu lhe perdesse a essência
e, começando a te conhecer, eu soubesse menos de você.
Talvez eu te despisse e véu a véu, soubesse cada vez menos de seu céu.
Mas eu teria, aquela noite...
aquela noite prá te conhecer.
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