domingo, março 15, 2009

cenas de rua


no vago tom da noite
a árvore parada e morna
com seus galhos feito mãos inúteis
assombram os que passam incautos
o passeio é um deserto esticado
e a rua com asfalto recente geme
quando carros deslizam loucamente
com suas buzinas ensurdecedoras

do outro lado da rua
um homem fuma solitariamente
não sorri, apenas olha a fumaça que sobe
a moça passa: tem fogo?
nesse momento o seu corpo é uma fogueira
a moça mostra o cigarro apagado e ergue a mão
tem fogo?- repete
ele todo é uma fogueira
a moça sorri com o cigarro apagado
o homem arde e olha a fumaça que sobe
a moça já virou a esquina

um cão atravessa a rua
as pessoas dormem com janelas fechadas
a luz vermelha e azul do carro de polícia
a sirene que berra
uma lua pálida no céu
a figura de um homem com um cigarro aceso entre os dedos
é vista virando a esquina

25 comentários:

Anita Mendes disse...

Drika, Amei o teu poema "urbano"(se é que posso chama-lo assim).
Eu também sempre achei que a nicotica conecta as pessoas em um certo nível; do momento que a fumaça se acende ou se apaga ...esperando ansiosa pelo próximo cigarro.
Beijos.
Anita.

Luciano Fraga disse...

Luz e sombras, urbanidade, crueza e a sensibilidade da visão de uma poeta maravilhosa, "mais uma dose..."Abraço.

BAR DO BARDO disse...

vc está fazendo cinema.

me senti no meu cinecultura, com a telona na frente. o seu texto passa lá - não verbal.

gostei, adriana ginsberg.

Adriana Godoy disse...

Anita, Pimenta, Luciano seus comentários me deixam envaidecida. Um beijo em cada um.

Tainá Facó disse...

Amei seu poema. De verdade. E seu cantinho também!

Rounds disse...

ah! esse poema é dos meus.

essencialmente urbano.

bj

Cristiane Felipe disse...

Realmente é um texto que passa pra nós como um filme.

Agradeço sua visita. Abraços

Cristiane Felipe disse...

Realmente é um texto que passa pra nós como um filme.

Agradeço sua visita. Abraços

Beatriz disse...

Paisagens urbanas onde o humano arde solitário, acossado pelo desejo de mais um cigarro. E mais um. E sempre..falta

Vinícius Paes disse...

Um texto belo e intrigante, como as noites pouco iluminadas. Fantástico como sempre.

beijo.

Fred Matos disse...

"as pessoas dormem com janelas fechadas"

Este verso resume, e o poema é ótimo.

Beijos

Adriana Godoy disse...

Fred, obrigada pelas palavras. É sempre boa a sua visita.

V.M. Paes, sensível o seu comentário, como sempre sempre.

Compulsão Diária, sempre um pensamento a mais sobre os textos, obrigada.

Cristiane, Tainá, é bom receber novos visitantes, valeu.

Inominável Ser, seus comentários são outro poema, adoro.

Buenas, sempre rock nas veias, beijo.

Anônimo disse...

Imaginei direitinho a cena , quando li esse poema. Me lembrei de Humprey Bogart e de filmes franceses bem noir. Esse lado seu urbano noturno me comove sempre. Um beijo e saudades. R.B.

Tomaz disse...

Ótimo!
Me deu saudades de pegar ônibus no centro da cidade a noite.
Beijão.

JC disse...

O teu poema é lindo. É a via da cidade, as pessoas não se conhecem, não existe familiariedade. O mundo caminha para a desumanização da sociedade. Apenas olhamos para nós e para o nosso bem estar.
Beijinhos

pianistaboxeador21 disse...

Quase que um vídeo-clipe. Solitário, dessa solidão de cidade grande, e dolorido, dessa dor de cidade grande. Lembrou-me a música thats entreteinement do the jam.
Desencontos. Encontros e desencontros.
Gostei muito,
Daniel

Adriana Riess Karnal disse...

a imagem do cotidiano, a poesia em prosa.Adoro essas estórias.

Adriana Godoy disse...

Renato, Tomaz,JC, Daniel, Adriana muito bons seus comentários, é bom receber suas visitas.

Renato, você com seus delírios, uau...

Tomaz, poucas palavras, mas significativas. Abraço.

JC, interessante a sua percepção, obrigada, volte sempre.

Daniel, suas palavras me fizeram falta, obrigada mesmo, gostei de vc lembrar dessa música "thats entreteinement", não conheço, vou escutar. Beijo.

Adriana(xará), curta e certeira. Obrigada.

Assis de Mello disse...

Oi Adriana,
Obrigado por seu comentário de hoje no meu blog. Procuro caprichar, mas nem todos entendem minhas doidices ;-)
Este seu poema é realmente um filme. Acho que a música de Ry Cooder em "Paris Texas" daria um bom acompanhamento.
Um beijoooo,
Chico

Marcia Barbieri disse...

Gostei do poema, lerei com mais calma depois.

ainda estou sem computador

beijos

D disse...

Oi, Adriana;

Somos colegas de Poema Dia, mas só agora encontrei o teu blog.

Parabéns pelo teu trabalho!

guru martins disse...

...voce faz bem
ao balaio, então
vou fazer coro
em sua voz.
tamos juntos...

bj

Hercília Fernandes disse...

Adriana,

adoro a sua poesia de neblinas, luz neon e estranhamentos. As cores turvas, opacas e movimentadas da cidade vestindo/despindo as suas esquinas e personas...

Excelente poema-narrativo. Parabéns!

Abraços,

H.F.

Anônimo disse...

excelente!

a esquina-desdobramento de possíveis encontros.

nina rizzi disse...

é mais que jazzístico. é puro beat. beatnick. "vietcongue, bolchevique, tecnicolor... radio cibernética"...

eu sou sua fã :)