sexta-feira, fevereiro 06, 2009
era primavera
o último urso branco saiu do estado hibernal
e caminhou lentamente na árida e fria paisagem
abriu seus braços enormes
resmungou sonetos ancestrais
abraçou-se à própria sorte
escancarou seus dentes afiados inúteis
abriu caminhos tortuosos insólitos
mergulhou no lago negro gelado
não viu rastros de homens
nem peixes nem focas nem canibais
viu algas mortas pardos areais
o último urso branco hibernou
e era primavera
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Um poema feito por Henrique Pimenta, a a partir da leitura do meu e que me deixa muito feliz.
Um ursinho para Adriana Godoy
Desde já peço desculpas a você, Adriana Godoy. Eu queria fazer um texto que dialogasse com o seu texto "era primavera", que trialogasse com a foto do mamífero weird, mas troquei as patas pelas mãos e deu no que deu. Entanto, fiz. Tomara que você encontre algo que lhe seja próprio, além da inspiração promovida à picolé de pimenta.
Ursinho
Solar por sobre a neve, meu ursinho,
Sozinho sobre a cama de uma alvura...
De um polo ao outro polo o coitadinho,
Em busca de uma foca, na fissura...
A bicha bem na frente, com carinho,
Se faça de acepipe e, sem tristura,
Banquete para a fera à mesa em linho,
Servir-se de repasto de gordura.
Pelúcia, ai que delícia de crendice!,
No quarto adolescente a se calar,
Com as garras bem no púbis... Como disse?!
Corrijo. Com as patinhas a assolar
Hibernus fantasmais, bisbilhotice
Desértica de ursinho bipolar.
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23 comentários:
Como sempre,um belíssimo poema,ainda bem que não encontrou rastros de homens...Grande abraço.
Luciano, nem homens, nem nada. Obrigada,mais uma vez. Beijo.
Tudo branco e triste, como o urso, como a neve, como o nada.
"encarou seus dentes afiados inúteis". É inútl ter dentes afiados quando não se tem o que comer. É inútil ter as palavras certeiras, quando elas não encontram ouvidos.
Gostei muito.
Beijos,
Daniel
O urso branco , a vida em nada branda.
estou me (res)sentindo pelo seu polar bear mais solitário do mundo. você transformou uma fera num bichinho de pelúcia enregelado...
adriana, você é má? ou é apenas poesia?
Afinal,somos todos ursos brancos...Belo poema para nossas primavras invernosas.
beijos ternos
Belíssimo, Adriana. Parabéns por seu ursinho branco, como poetiza o Bardo.
Enquanto o mundo esvanece diante do caos, o homem arma sua rede na varanda à espera de dias melhores. E haja sonolência!...
Forte abraço,
H.F.
Homens e ursos brancos, talvez sejam bem parecidos, sempre dependendo da sorte, procurando encontrar conforto em lagos negros e gelados... em muitos a alma chega a congelar. Belo poema, de alterar sensações térmicas. Muito bom mesmo.
bjo.
Pimenta, respondendo à sua pergunta: Acho que sou má, por isso procuro a poesia. Será?
Daniel, adoro suas palavras. Beijo.
Adriana, Márcia, Hercília e V.M. Paes são sempre bem vindos e me acariciam suas palavras.
Beijos.
a frustração do urso branco é nítida nos seus olhos fechados,
belo poema,
beijos.
Que belas imagens vão se formando entre um e outro verso. Gostei do lago negro gelado. Solitude que parece bater de açoite. Obrigado pelo poema.
Olá, Blade Runner é o filme, principalmente a versão original, sem cortes. Sempre foi o primeiro das
minhas listas imaginárias. Os outros também são bons demais. Obrigada pela visita.
Luciano, esse comentário acima foi em relação à sua lista. Postei no lugar errado.
Vou ler o seu poema no outro blog. Quanto às suas visitas ao pianista, fique aà vontade. Sinta-se em casa. Excelente semana procê também
Abração.
Daniel
Adriana,
estive lá no Poema dia. Mas, fiquei em dúvida sobre qual seria o seu texto. Achei que era o recentemente postado, é esse mesmo?
Beijos,
H.F.
Hercília, obrigada por você ter ido lá. O poema meu intitula-se "possível deserto". Abraço.
Dri, muito bonito o poema do urso. Acho que todos temos esse medo de acordar e ver que todos se foram, que tudo passou. Eu intitularia essa condição psicológica como "o pânico do fim da hibernação". Será que esse poema é sobre você e a sua reclusão? Estou psico-bosta, não ligue. Acho que depois que li, fiquei com essa idéia de gelo na cabeça. Olha lá no gabarolas. Beijo.
Tremenda imagem! Magnífica poesia. Esse urso terno, solitário, quente em pleno frio hiberna na era que prima pelo barulho. Sábio urso. Magnífica poetisa
day after...
... de volta aos sonhos da hibernação.
Oi Adriana. Muito obrigado pelos generosos comentários.
Fiquei feliz e acho o mesmo dos teus poemas.
Abração,
Daniel
primavera é sempre sinónimo de recomeços assim como a morte.
Ps: achei o seu blog através do da camila e gostei muito. voltarei! saludos, Anita.
Mas que belíssimo poema, Adriana !!!
Já li 3 vezes e vou ler de novo. A solidão pode ser muito negra; o entanto, o último dos ursos é branco- cor da bandeira que sinalizaria paz.
Voltei pra ver o urso que tanto me inspirou e vejo que a todos.
Repito que a solidão aqui é bela, terna, calor em meio ao gelo. Uma solidão que acolhe e não expulsa, não repele. Chama e consegue trazer.
Belíssimo!
abriu seus braços enormes
resmungou sonetos ancestrais
abraçou-se à própria sorte
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