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o último urso branco saiu do estado hibernal
e caminhou lentamente na árida e fria paisagem
abriu seus braços enormes
resmungou sonetos ancestrais
abraçou-se à própria sorte
escancarou seus dentes afiados inúteis
abriu caminhos tortuosos insólitos
mergulhou no lago negro gelado
não viu rastros de homens
nem peixes nem focas nem canibais
viu algas mortas pardos areais
o último urso branco hibernou
e era primavera
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Um poema feito por Henrique Pimenta, a a partir da leitura do meu e que me deixa muito feliz.
Um ursinho para Adriana Godoy
Desde já peço desculpas a você, Adriana Godoy. Eu queria fazer um texto que dialogasse com o seu texto "era primavera", que trialogasse com a foto do mamífero weird, mas troquei as patas pelas mãos e deu no que deu. Entanto, fiz. Tomara que você encontre algo que lhe seja próprio, além da inspiração promovida à picolé de pimenta.
Ursinho
Solar por sobre a neve, meu ursinho,
Sozinho sobre a cama de uma alvura...
De um polo ao outro polo o coitadinho,
Em busca de uma foca, na fissura...
A bicha bem na frente, com carinho,
Se faça de acepipe e, sem tristura,
Banquete para a fera à mesa em linho,
Servir-se de repasto de gordura.
Pelúcia, ai que delícia de crendice!,
No quarto adolescente a se calar,
Com as garras bem no púbis... Como disse?!
Corrijo. Com as patinhas a assolar
Hibernus fantasmais, bisbilhotice
Desértica de ursinho bipolar.