quinta-feira, agosto 14, 2008

Encontro Desmarcado



Toda vez que penso em ir a um médico me desespero. E hoje vou ter que ir. Não dá pra adiar o inevitável. O ano inteiro enrolo; marco, não vou, invento desculpas, qualquer uma. Mas hoje não escapo. Sou mulher, porra. Tenho que fazer aquele exame ginecológico. Esperar no consultório, ler aquelas revistas horríveis, ver mulheres entrando e saindo. Enquanto espero, imagino várias maneiras de fugir dali. Nesses devaneios, a secretária chama meu nome.Não, não, não!! Mas é tarde. Não tem mais jeito. Quando entro, a médica com todas aquelas perguntas a que não quero responder: Continua fumando, tá fazendo dieta? Parou de beber? Olha o colesterol!! Tá no limite! Precisa fazer reeducação alimentar, você está acima do peso.Tento contornar e digo que vou tentar, desta vez, vou conseguir. Então, ela diz: Pode pôr o avental e se deitar. Então, olho para a mesa, uma cama de tortura. Dois apoios para o pé, distantes, opostos. O avental é aberto na frente. Tenho que abrir, literalmente, as pernas. Fico dura como um tronco. Travo. ! Em outras situações isso é natural! Mas não é o caso! Sinto algo frio entrando em meu ventre. Aquele instrumento gelado de metal, o gel, a barriga sendo apalpada, agora os seios examinados, tocados. Finalmente, ela diz: Pode se vestir. Corro pro banheiro, ponho a roupa o mais depressa que posso. Quero sair voando dali. Tenho um encontro com um amigo, em um boteco, ali perto. Mais tarde, quem sabe, vou ter que tirar a roupa de novo, outra situação. Relembro a consulta. Talvez o encontro fique para outro dia.

PS: texto republicado, mas amanhã tenho consulta. Argh!!

quarta-feira, agosto 13, 2008

Medonha

Os dias mansos.
A rotina que mata, esmaga, aniquila.
A rotina medonha, enganadora, cruel- a morte.
É pior que a morte.
É pior que estar sentado à beira de um rio
dia e noite
e não pescar nenhum peixe.
Porque há a espera.
Na rotina não se espera nada.
Apenas que o dia termine
E que comece um outro igual.
O menor movimento incomoda.
O menor deslize atordoa.
Uma noite em claro arrebenta.
A rotina vence.
Talvez vivamos por ela.
Mesmo que façamos algo diferente.
Sempre voltamos.
E quando é dada por vencida
Criamos outra mais forte.