segunda-feira, maio 21, 2007

Martin Oliver- Final

Assim cresceu Simião Bozz
A barba cobria-lhe o rosto
Sua voz engrossara e seu corpo
tornou-se forte, coberto de pêlos


Não se lembrava do último dia
que estivera em sua casa
Vagas lembranças de seus tios,
primos, vizinhos e de seu tutor.

Fazia exatamente 893 dias que havia partido
Em busca de seu pai
E um dia, exausto, nas terras quentes
Simião dormiu e sonhou.

Ao abrir os olhos, só uma enorme escuridão
A noite que chegara
E pela primeira vez sentiu medo
Cheirou a escuridão, pegou a noite,
sentiu o vento frio no rosto
E chorou.

Chorou por todos aqueles dias
Que havia andado só.
Chorou por sua mãe, Norma Bozz
Que não conhecera
Chorou por ver a noite e o seu manto imenso
Então olhou para o céu e viu
um planeta brilhando com uma enorme sombra
O planeta em que seu pai estaria

E do céu caíram gotas fortes de água sobre o seu corpo
Era a chuva e a água tinha gosto de terra
Era clara e limpa
Ele brincou com a água
Deitou e rolou na terra
Lambuzou-se de lama
E deixou que a água limpasse o seu corpo
E a sua alma

E quando estava assim, sorrindo,
Pela primeira vez em 893 dias
E apenas uma noite, essa
Viu uma figura se aproximando
Montada em um cavalo enorme
De crinas longas

E Simião então viu
Viu pela primeira vez o seu pai
Martin Oliver
E sorriu, como o fez seu pai
E juntos caminharam rumo à sua terra
Rumo à sua gente

Ollharam ambos para o céu
E o planeta estava mais brilhante
Sem sombra alguma

E chegaram a seu lar
O povo na rua festejava
Bebendo chuva e olhando o céu

E os dois: pai e filho anunciaram em alto e bom som:
"Daqui em diante, para todos os dias haverá uma noite"

Sentaram-se na varanda e mais uma vez
Olharam o céu e para aquele planeta brilhante
E um cheiro de rosas inundou aquele momento.

2 comentários:

Luisa Godoy disse...

querida dridri, você me emocionou com a lenda de martin oliver. o conteúdo fantástico remete às lendas de criação dos povos. a sua lenda é a da criação da noite, que em vez de ser soturna e relacionada à morte, é bela, necessária e encerra os ciclos. o tom solene e a estrutura simples do poema inteiro lembram os cânticos antigos, de aedos gregos, de sábios sertanejos analfabetos. das grandes estórias. li sim, e lerei outras vezes. lu.

Anônimo disse...

Não tenho todos esses dons de dizer que vocês poetas tem, mas adorei esse final do Martin Oliver, com uma noite a ser...
Concordo com tudo isso que a Lu disse aí em cima, e adorei acompanhar o desenrolar das noites de Martin Oliver, boas estórias sempre são boas, né?
Bjs
Andrea