terça-feira, maio 31, 2005

Beco da Lua


um dia senti que aquele era o lugar
um beco com casas velhas e malcheirosas
que abria o seu sorriso para o mundo
um beco cujo cheiro de café
misturava-se ao cheiro das moças
que acabavam de ser possuídas

o Beco da Lua
era o nome escrito com letras exóticas
em uma placa iluminada
diferente do próprio lugar

o beco do mundo
em que cabiam
Terezas e Raimundos
Martas e Aparecidas
Antônios e Josés

eram a alma do beco
a música a lua o quintal
a terra a lama a chuva
as paixões os temporais

às vezes quando a lua
insistia em iluminar
viam-se rostos cansados e aflitos
olhos opacos e vazios
fantasmas pálidos passivos

era o beco maldito
da miséria e do pecado
da luxúria e do abrigo
dos sonhos e dos perdidos
dos gatos e dos vadios
dos poetas e dos mendigos
dos bêbados e dos drogados
dos felizes e dos atirados
dos doutores e dos iletrados
dos caçadores e dos bandidos
das mulheres sem seus homens
dos sedentos de carinho

era o beco do mundo
que sorria timidamente
para o outro lado da cidade
em busca de outros delírios
em busca de novos fantasmas

(um dia tive um bar, era o Beco da Lua)

2 comentários:

Guga Schultze disse...

Eu me lembro do beco e parece que era noite, sempre. Driaguiden, você morou lá, até. Isso é uma coisa que dá o que pensar. O poema está mais fiel que o deus dos crentes, está justo, repousando na memória como um gato no tapete. Os gatos não gostam de ser incomodados, gostam mais de incomodar. O poema é assim também, provoca a gente e a gente não pode fazer muita coisa com ele, só lembrar. Jê sui gostê avec lê poemá. Leva a gente longe.
Beijão, Guga.

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu