segunda-feira, fevereiro 01, 2010
quero a noite
ainda que o corpo clame
sinto em mim um deserto morno
a luz que bate de manhã e me faz fechar a cortina
tenta entrar pelas fresta da outra janela
bem-te-vis gritam em desarmonia
cadê os pardais?
os projetos em cima da escrivaninha me olham
os livros que não consegui ler empilhados
e bananas apodrecendo na fruteira
ontem dormi em outra cama
e ouvi : amor, quer café ou suco?
hoje ouço os carros e as pessoas indo pro trabalho
e sei que breve estarei lá misturada nas ruas e nas pessoas
as notícias das crianças do haiti e as enchentes
as atrocidades sem medida e as tragédias
os deuses devem estar dormindo há séculos
esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar
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43 comentários:
O mundo está do avesso,e quase ninguém ainda reparou.
Adorei o rascunho na tela,muito expressiva.
parece que sim, os deuses dormem há séculos. e ai de nós se não acordarmos...
eu gosto tanto da sua voz. tenho a plena certeza de sua rouquidão.
um beijo.
Lindo, DRI!
Voltou com tudo, e me deixou pensando. Hoje, prefiro o silêncio e a NOITE!
Beijos
Mirse
Adriana,
Um belo poema de desencanto e de amor em tempo de desencanto.
Que mundo é esse em que vivemos?
Que época é essa que escolhemos prá viver?
Parabéns pelo blog - maneiríssimo!
E se você gosta de música, convido-a a conhecer o blog jazz + bossa + baratos outros.
Abraços fraternos!
"esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar".
Maravilhoso poema, Godoy. Grande em mensagem, linguagem e onirismo.
Seu onirismo-reflexivo é fabuloso!
Beijos,
H.F.
Tantas coisas nos abundam o cotidiano: a luz entrando pelas frestas também me incomodam tanto, as notícias trágicas nos jornais... tudo passa normalmente, como se isso tudo fosse normal...
Muito bom o texto, Adriana. Bom tê-la de volta. Grande abraço!
Cada vez que vejo um desses seus textos, é como se fosse um espelho, um reflexo. Temos nós, essa grande paixão pela noite, em comum.
Talvez, por sermos tão obscuros e cheios de mistérios feito ela. Desejos soturnos.
Pois, é o dia, cheio de tragédias, tédios e pessoas incolores. inodorous.
A noite, agradável ou não, ao menos tem cheiro
lindo texto, Adriana.
grande beijo.
Thalita, boa sua visita e palavras. Beijo.
Nina, também gosto de sua voz. Beijo.
Mirse, vc é um amor. Beijo.
Érico, gostei bastante de seu comentário. Agradeço e volte sempre. beijo.
HF, sua percepção me encanta sempre. Beijo.
Marcos, você está em plena juventude. Eu estou bem velhinha, mas ainda prefiro a noite. Beijo.
Lara, suas palvras encantam. Obrigada. beijo.
Paes, acho que a gente tem muita coisa em comum mesmo. A noite é uma delas. Amei suas palavras. beijo.
A nossa fraqueza diante da realidade, Adriana. Ficamos nus, totalmente desprotegidos. Quando nada mais pode salvar-nos, quando a solução extrema é entregarmo-nos nas mãos de Deus. Mas é preciso lembrar que as mãos de Deus somos nós. Ai, pobres de nós. Entanto, sabemos da suavidade da noite e da brisa que sopra do mar. Viva a vida!
Um beijo, Adriana.
que lindo blog, que bela poesia.
Que bom vir aqui.
Maurizio
Drika, seus textos são avassaladoramente urbanos e com esse toque noir que sempre vou curtir e invejar...
beijos
Dri
A noite cala os gritos, inclusive os nossos próprios...
Tb ando preferindo ela!
Bonita poesia!
Bjs
os deuses não dormem! Alguns manipulam as marionetes(nós)e outros estão sentados(tomando whiskey e fumando um bom cahruto cubano ) na primeira fileira se deliciando apenas por terem essa pequena vantagem de não ser ( completamente) humano. (rs)
beijos ,drika!
Acabo de chegar no trabalho nesta quarta-feira que, dizem, será a mais quente do ano (ao menos em Floripa), e toda aquela história que você abordou ali... que coisa!
Também quero a brisa que sopra do mar.
JC, muito interessante sua percepção. Obrigada. Beijo.
Maurizio, agrdeço sua visita. Bj
Anita, pode ser isso mesmo. Uau...bj
Priscila, é dar de cara com a real. Beijo.
↓
Silêncio!
Acordem!
Só a "realidade" não tira férias...
Quanto aos Deuses... que DEUSES?
Beij♥s!
é adriana! o dia a dia...mina nossa energia.merecemos ficar mais um pouquinho na cama!
o folhetim ...velho conhecido...
nos oprime! e...entre lençois e travesseiros...podemos sonhar com a noite e com a brisa encantadora do mar.
que bonito! fidelíssimo ao tema...rafa.. mata um pouco de nossa saudade.
bjo nos dois
taniamariza
Pirou de vez?
Vai escrever uma obra prima?
Outro fantasma do não ser, que
com sorte
outra mais que nada.
Essa ideia é a mão dupla
daquela casinha no campo.
Melhor que nômade? Acho que sim.
Que tal, exatamente, ambos
extremos
para descer do muro.
Como???
Derrube o muro!!!
Tenho certeza, AGod
que tem e sabe usar
excelente "ferramentaria".
Tonho, que deuses? Valeu? Bj
Tania, suas palavras são lindas. Beijo.
Devir, não sei o que dizer. Salve! bj
Querida Poeta,esse poema trás infinitude e poder, luz e escuridão, embora os tempos indiquem sinais soturnos, a noite ainda é uma criança diante de tanta e tantas barbaridades.Beijo.
estilo lâmina-a-tapas
é isso
Dri, QUE BOM QUE VC VOLTOU!!! Vinha aqui sempre durante as férias, ansiosa pra ver seu retorno e, porque não dizer, com saudades de sua voz.
Lindo poema; de doer e de calar. Bonito demais. EStava com saudades de vir aqui. Você continua assim: precisa e múltipla - tudo aqui misturado, com um olhar atento (seu), faz com que eu também me sinta parte do que vc escreve.
Um beijo, e que bom tê-la de volta.
Filho de Maria, a mesma estranha mania de ter fé na vida.
Contra Deus e tudo, salve!!!
Voce é.
Luciano, suas palavras sempre trazem algo mais. Beijos, querido!
Cynthia, obrigadíssima mesmo. Fico feliz com suas palvras. Beijo
Devir, a mesma estranha mania de ter fé na vida. beijo.
Bardo, estilo pra você. beijo
"...os livros que não consegui ler empilhados e bananas apodrecendo na fruteira..."
Com entendo isso...
As vezes desanima viver e o sol já não é bem vindo.
Como sempre fizeste um poema, (apesar de denso e triste), lindo!
bjs
Rossana
Oi Adriana,
prazer em te ler de novo... Intenso e bonito poema lírico que protagoniza a rotina em singela e expressiva forma poética. Muito bom ! Bj com carinho.
Úrsula
adriana;
seu poema traduz o fastio e pasteurização da vifa banalizada pela midia, um mundo pós-moderno em que as pessoas perdem cada vez mais terrenos para o cibernetico e o virtual... lembta tanto orwell e huxley, em dois extremos...
gostop dessa sua voz, como diz nina, rouca- dissonante e discordante do bem estar comum- desta voz quie rasga o coração e os sentidos- c0omo nos eternos blues...
também eu busco essas vias alternativas de viver- e aí, será que a vida tem que ser assim esse caminmhar com a carneirada junto ao precipicio ou como as vacas ao curral ou matadouro? onde ficam as outras paragens?
sonhar não é estar alienado nem enfurnado em si prpóprio- o visionário é quem descortina caminhos em meio ao caos e à neblina- e pop é estarmos aqui, agora, vivos , sentindo o cheiro da terra e o barulho dos bichos, e ah, a brisa do mar- de noite, de dia, nas falésias de canoa quebrada ou no alto da serra do cipó que não tem mar, mas tem trilhas e cachoeiras...
pop é estar assim, em comunhão com a naturamãe- um dia, tudo explode mas e daí? vamos aproveitar as brisas e as novas aragens,
enquanto podemos sentir e sussurrar.
abraços.
danilo.
Rossana, ainda bem que vc percebeu. Às vezes acontece isso mesmo.Bom vc por aqui. beijo.
Úrsula, prazer em ver vc aqui de novo. Agradeço suas palavras. beijo.
Danilo, seus comentários são um caso à parte. Li e me envolvi totalmente na sua viagem. Pop é estar....sonhar é descortinar algo de novo no meio desse emaranhado todo. Adoro sua presença e palavras. Volte sempre mesmo. beijão.
ADRIANA,
gostei tanto do seu poema que me atrevo a lhe mandar um que escrevi sobre tema semelhante- triptico- há alguma tempo atrás- não sei se vc. já havia lido- Grande abraço danilo.
TRIPTICO
I
MANHÃ
Cristais de quartzo
refletem, no espelho
a luz em cacos
e se repetem,
em mosaicos
sobre corpos nus
de amantes lassos.
Neste lapso de tempo,
nesta fresta,
nesta fenda de espaço,
neste passo lento, tento
instantâneo,
congelar o momento,
gravar o instante
de brilho raro.
Busco o fio inconsciente
e inconstante, me teço
em tramas, em trêmulos gestos,
em dramas, em inúteis gostos:
o nada
o tudo,
mudo me encontro
perdido, no encanto
desta manhã iluminada.
II
TARDE
Arde a tarde
sem alarde.
Um mar de
esmeralda
desfralda franjas
e escarpas
por onde escapa
num curto segundo
a espuma branca
lembrança
de eternidades
de ir, de vir,
de ir, de rir.
Num céu tonto de azul
vagam gaivotas
grávidas de luz
ávidas de sol.
E na linha do horizonte
dançam trêmulas
memórias enclausuradas
em conchas de caracóis:
memórias: matéria de sonhos,
de luas, de sóis.
III
NOITE
No negrume
o lume se insurge.
Negra noite
açoite
de verbos, de versos.
Corpos ardendo, vagando à deriva
em planos, oceanos
nunca dantes
navegados.
Negra noite
negra fonte
onde amantes se deitam
em pares
ou ímpares
os únicos pairam
insípidos, afoitos
sobre a própria carne,
cerne das delícias.
Noite,
como escrava
escava memórias
revela histórias,
revolve lembranças.
Revólver na noite
revolver a vida
e num único ruído
romper a corrente.
Flui a noite,
como emblema
dos corações empedrados.
Noite. Caverna dos medos,
dos modos, dos mudos
amantes
e dos desesperados
seres solitários.
Danilo, que bela trilogia poética: manã, tarde, noite. Vem o Vinicius na cabeça, vêm os dias e as noites desesperadamente belos. Obrigada por enriquecer meu espaço. Pô, o que posso dizer mais? Adorei, parabéns! beijão.
Adriana...tudo acontece e tece em seu poema, a lógica clamando
a mudança de cabeças...essa mesmice, onde tudo nos dá pâncio...
a vida é simples no mar e sua brisa...
Ameiameiamei
Adriana,
ainda bem que você consegue dizer essas coisas do nosso cotidiano com tamanha intensidade, a imagem das bananas apodrecendo na fruteira é maravilhosa; não são só os bem-te-vis que estão em desarmonia, o bicho-homem já perdeu a sintonia com o seu mundo há muito tempo, os deuses nunca dormem, eles, como tudo que é sagrado alertam, dão sinais e índicios cabe a nós, poetas, chamar a atenção, é a nossa missão.
Parabéns!
Mauro
Gostei muito, expressa exatamente a estranha sensação de acordar e perceber que o mundo continua enquanto dormimos... quão difícil é acompanha-lo!
Abraço,
A tua poesia é rica e lindíssima! Sinto uma melancolia que é da poesia. Eu estou gostando...Sigo para espiar mais o blog. Beijo
Adriana,
Poesia-crônica no melhor estilo. Nada de morno...
Beijo,
Marcelo.
Simplesmente real.
Adorei esse poema, me li nele, quero a noite também!
Abraços e desculpa a ausência dos últimos tempos.
Cínthia Tomé, adorei suia visita e comentário. Beijo.
Mauro, sua sensibilidade sempre encanta. Obrigada.
Sandra, agradeço sua presença, volte sempre! Bj
Tossan, sua presença encanta. beijo.
Marcelo, é o que quase sempre faço. Agradeço. Volte sempre. beijo.
Cristiane, feliz com sua volta. Obrigada. beijo.
adriana,
o sol costuma me atordoar também.
quero a noite!
rs
bj
Será que podemos
ser plenamente a geografia
que escolhermos
com todos os climas
flora e fáuna
sem causar
nenhum prejuizo
na Natureza?
Grande abraço, AGod
Em dezoito linhas você me tirou do sério. Isto é dom.
Saudades dos bons arrabis, e eis que encontro um aqui, dedilhado por maestrina vigorosa, inteligente, lúcida... que prazer!
Cunhadão,
qd entro aq,não sei se me admiro mais com os seus escritos,com os desenhos do Rafa ou com o sincronismo dos dois. PERFEITO! Ou melhor: PERFEITOS!!!!
Muitas vezes também quero a noite e a brisa.
adorei por aqui, e os desenhos de seu filho são maravilhosos.
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