sexta-feira, maio 01, 2009

estranhamente








tutuco chiquinha

Estranhamente veio a dor aguda como faca quente cortando a carne e o coração que não estava no lugar certo, pelo menos naquela hora.

Cheguei ao espaço branco com lâmpadas azuladas e brancas com gente espalhada por todos os lados e tinham alguns que usavam máscaras e aparelhos gelados pendurados no pescoço. E então eles me furaram várias vezes, mil vezes e tiraram chapa e olhavam dentro do corpo com gel gelado e como espectros dançavam dentro de mim.

Vi seres pálidos e doloridos e eu era um deles. Injetaram líquidos esverdeados e ardentes. Me sedaram e me furavam de novo só que desta vez eu dormia e fui abduzida e submetida a experiências estranhas. Tiraram de mim uma pedra que talvez tivesse vindo da lua e tiraram pedaços do meu corpo e me injetaram drogas para acabar com os seres microscópicos que infestavam meu sangue.

E vieram muitos amigos e muitos da família e alguns desconhecidos. Olhavam pra mim e eu via nos seus olhos a minha doença . Via em seus olhos que a minha vida estava escorrendo em minha cara branca e no soro pendurado em meu braço, em minha veia.

A dor vai indo e me levando para outros caminhos. Meus dois gatos me olham e sentem um cheiro diferente, mas deitam sobre os meus pés frios e o mundo fica mais aconchegante.

30 comentários:

José Carlos Brandão disse...

Cara Adriana,

Chegando de viagem, encontro-a convalescendo. Que pena! Espero que reencontre breve a sua alegria. A dor aproxima-nos mais de nós mesmos e de Deus, mas como é bom estar alegre! Pode o mundo desabar, se meu coração floresce, todos os pássaros cantam.
Desejo-lhe a alegria de todos os pássaros do mundo.

Um grande abraço.

BAR DO BARDO disse...

Dri Ginsberg, e você ainda conseguiu expelir a pedra em forma de luz... O quanto não devemos à literatura, hein, cara?!

Espero que já esteja bem ou, pelo menos, uns 83,7%.

Vou confessar, no meu caso, o acidente de carro já tinha até sido previsto por uma vidente...

Esse é o mundo em que vivemos. É?

Um grande amigo disse: "Henrique, a gente só deve pensar na morte depois que morre. Por enquanto, devemos aproveitar a vida para errar e acertar mais". Sei lá o que significa isso, mas...

Um beijo de saúde para você, Adriana!

- Henrqiue Pimenta

Tomaz disse...

Descrição forte da sua experiência, mas necessário esse impacto pra compartilhar isso...

Espero que você já esteja melhor, esses problemas de saúde são sempre um teste para nossa resistência,
nos trazem algum crescimento interno. Convivi muito tempo com problemas de saúde na minha familia, e confesso que seu texto de alguma forma me emocionou.

Um abraço, e melhoras.

guru martins disse...

... na Alemanha
Nietzshe dizia
que o que não mata
fortalece
no Brasil dizemos
que o que não mata
engorda...
já que não tem jeito
tire o melhor proveito
do pior...
Deus quando marcou
é pra não perder de vista
voce é marcada
com a mundanidade da alma
a poesia é tua asa de anjo
necessariamente decaido
ave de rapina das boas
porque se tu subir
o mundo empobrece...
poisé, tamos juntos

e tbj

Anita Mendes disse...

drika, somente o amor incondicional(dos gatinhos) pode fazer vc lembrar da sua antiga e boa rotina.
um texto com experiências maquiavélicas ,um existencialismo inquieto e uma ponta de esperança que nos faz esquecer de todos os problemas anteriores.
em forma de prosa tmb tiramos pesos das costas (acho que é mais ou menos por ai(rs)!)
ps: te cuida ,drika!
Beijos pra ti,
Anita.

pianistaboxeador21 disse...

Que bom que o gatos se aconchegam e que o próprio mundo fica mais conchegante e que vc está escrevendo assim tão bem sobre tudo isto.

Vai passar.

E o coração se apronta pra recomeçar, como diz a música do Tavito que aliás fez um show pertinho aqui de casa. Estou vindo de lá agora.

Beijão procê, Mineira, e que essas pepitas não voltem nunca mais.

Unknown disse...

Minha amiga querida,

Você descreveu minuciosamente o grito do ser interior diante de holofotes, que não vão colocar ninguém nas capas de revistas.

Tenho nove cirurgias, e é exatamente isto que foi descrito que acontece.

E no entanto a vida continua...
E no entanto o encanto não se desfaz

E felizmente a temos de volta, junto aos adoráveis e lindos gatinhos!

REPOUSE!

Aguardo-a boa!

Beijos

Mirse

Cosmunicando disse...

fantástica narrativa... talvez uma catarse da boa, como aventou o Henrique. De todo modo, a temos de volta e ficamos gratos!
Que teu inverno seja de plena recuperação e aconchego.
beijos

Luciano Fraga disse...

Adriana,"todo o meu corpo deve tornar-se um constante feixe de luz, movendo-se a uma velocidade ainda maior, jamais detido, jamais olhando para trás, jamais definhando.A cidade cresce como um câncer, devemos crescer como um sol..." Muitas vezes, estes caras(bichos) são nossos melhores amigos, silenciosos, com seu olhos de "raio x", tomam nossas dores para eles e como sofrem.Belo texto, digno.Abração.

Adriana Godoy disse...

José Carlos, que bom que está de volta. Obrigada por palavras tão carinhosas.BJ

Pimenta, suas palavras me fazem tão bem. Alta energia. Beijo.

Tomaz, é isso...obrigada pelo carinho e solidariedade. Beijo.

Guru, você é um artista, põe música na dor. Fiquei envaidecida com suas palavras. Beijão.

Anita, sempre atenta e carinhosa, do outro lado do mundo torcendo por mim. Obrigadíssima. Beijo.

Daniel, que bom que você foi ao show do Tavito. È muito gostoso.
"Sem querer fui me lembrar de uma rua e seus ramalhetes....". Você, meu amigo, é uma pedra preciosa. Beijo.

Mirse, não sei como vc conseguiu. Sou fraca pra essas coisas. Sua solidariedade e carinho fazem muito bem. Beijo e obrigada.

Cosm., é uma semicatarse, meu inverno começou há uma semana. Obrigada mesmo. Beijo.

Luciano, suas palavras envolvem e fazem com que a gente queira melhorar. O texto entre aspas é seu? Você me traz dignidade e afeto. Beijo, amigo.

Ígor Andrade disse...

Melhoras, Adriana.
Abraço!

Renata de Aragão Lopes disse...

Que os gatos te acarinhem até a dor passar... Logo estarás 100%! Um abraço.

Beatriz disse...

Ah, eles são assim mesmo. Sabem qdo precisamos deles. São muito bons de faro. eles lhe cheiram outras coisas e por isso lhe aquecem os pés. Lindas criaturas, Adriana. Que bom saber que vc está magistralmente acompanhada por els. anjos-diabos da guarda! Tudo de bom.

Luisa Godoy disse...

Vou citar o trecho de uma entrevista com a Sylvia Plath: "creio que se deva saber controlar as experiências, até as mais terríveis, como a loucura, a tortura (...). E se deva saber manipular com uma mente lúcida que lhe dê forma." Tenho que quando a (boa) literatura nasce da experiência, ela é um processo de cura. Um beijo, Dri. E continue registrando, ou melhor, manipulando, que passa. Amo você.

Adriana Riess Karnal disse...

Adriana, ainda consegues uma bela descrição de um momento tão triste. Melhoras pra você que soube tão bem dividir a dor.Espero tua cura.

Rounds disse...

belo texto, adriana.

os animais são fiéis e sentem nossas dores. nossas alegrias também.

tudo de bom pra você.

bj

Lou Vilela disse...

E você ainda conseguiu lapidar a pedra parindo esse belo texto?! :)

Bjs

Cristiane Felipe disse...

Forma poética de expor sua dor...

Coiscidentemente serei submetida a este mesmo tipo de cirurgia em alguns dias... por enquanto só dói!

Abraços, te desejo muita saúde.

Hercília Fernandes disse...

O poeta sempre consegue transmutar os momentos mais banais e/ou sinistros da existência.

Você, Adriana, nos sugere muitas sensações em sua prosa-poética. As pedras se foram e, com elas, sua vesícula... JAMAIS a POESIA!

Desculpe-me a demora, Godoy, em realizar a visita; mas, também, me encontrava/encontro em meio a algumas pedrinhas...

Tenha uma excelente recuperação.

Um forte abraço, minha querida!
H.F.

nina rizzi disse...

odeio hospitais. as luzes brancas, os ferros, aqueles tudos odiosos de sanguinolentos. queria parir n'água.

sua narrativa faz a coisa parecer mais-menos doída. lindo :)

beijo e vamos melhorando. ainda bem que voltou :)

Vinícius Paes disse...

Dolorosamente lindo! Ah, suas palavras fizeram falta nesse tempo Adriana.
Paz pra ti.

Isabel Estercita Lew disse...

Adri, você já está boa?
Ainda bem que tiraram, pronto, já não vai incomodar, sei que na hora a gente fica totalmente vulnerável. Agora é voltar à vida acompanhada de todos os que amam você e tua maravilhosa arte.

Um beijo enorme

Estercita

Cristiane Felipe disse...

Me desculpe por não ter visto do angulo certo...
Ainda bem que vc já está na ativa, e aos poucos tudo ficará extremamente bom!
Beijo grande.

Beatriz disse...

Passei pra te ver, dar um cafuné nos gatos e trouxe um carinho pra vc, adriana. saudades. espero que os pés continuem quentinhos.

Thaís Salomão disse...

sincero.
tão sincero que corta a alma.

adoro tudo, sempre.

Tania Anjos disse...

Olá, Adriana!

Não tenho muita intimidade contigo, mas aceite meu carinho. Viu?

As dores passam e, por serem tão ruins, a gente nem tem saudades delas e nem lembra direito como eram...

Abraço e saúde pra você.

Taninha

Rafael R. V. Silva. disse...

também estou aqui na torcida por você.


beijão.

Rafael R. V. Silva. disse...

também estou aqui na torcida por você.


beijão.

JC disse...

Olá Adriana!
A descrição que fazes do que passaste faz-me lembrar por algo que passei acerca de seis meses. Sei dar o valor ao que sentiste.
Rápidamente vais ficar restabelecida e voltar em força a este mundo dos blogues.
Beijinhos

Marcia Barbieri disse...

Que bom que apesar da dor, ainda continua uma excelente poeta!!!!


beijos de melhoras