De algum lado da cidade vinha um frio estranho para essa época do ano. Heitor abriu a janela, a pequena janela do seu quarto fedido e imundo. Colocou o rosto para fora e sentiu um vento meio de lado, que não parecia pertencer àquele lugar. Olhou para cima, para baixo, para os lados e viu que não tinha ninguém nas outras janelas, só ouviu um ruído, quase como um sopro. Lembrou-se da noite que tivera com uma mulher. Uma noite quente, extremamente calorenta. Os lençóis estavam fora do colchão, e havia restos de uísque nos copos, pontas de cigarro nos cinzeiros e um cheiro de quase morte. No chão, além da calça que acabara de pegar, um batom sem a tampa e um papel de chocolate. Ao entrar no banheiro, notou que o gás estava ligado e que a água do chuveiro caía continuamente sobre o azulejo. Fechou a torneira, o vapor condensava-se no espelho da pia. Heitor passou a toalha no espelho e o que viu o assustou. Não, não era aquele homem que aparecia ali, com os olhos vermelhos, a pele envelhecida, o cabelo desarrumado. A última imagem que tinha de si não era essa e sim a de um homem bem cuidado, perfumado. Pegou o aparelho de barbear, ensaboou o rosto e fez a barba. Entrou debaixo do chuveiro e ficou algum tempo se limpando com o sabonete de erva-doce que alguém havia lhe dado. Enxugou-se com uma toalha limpa. Vestiu uma calça jeans, uma blusa branca e saiu do quarto. Ao abrir a porta da sala, notou um bilhete debaixo da porta. Era dela, de Mirna, a mulher da noite. Uma lufada de ar gelado rompeu pela porta e o envolveu. Ficou ali parado, olhando o vazio do corredor.
segunda-feira, outubro 27, 2008
sábado, outubro 04, 2008
belo horizonte
Eram três tons de tarde que apareciam
lilás, vermelho, dourado
Encobriam a cidade sutilmente
Sufocavam o peito e faziam chorar
Os edifícios perdiam-se nas cores
E por alguns momentos
misturados ao ar pesado de todos os dias
Compunham uma paisagem quase divina
As montanhas suavemente iluminadas
assumiam proporções infinitas, calmas
Com esses tons de tarde, nessa tarde
a cidade era abençoada
lilás, vermelho, dourado
Encobriam a cidade sutilmente
Sufocavam o peito e faziam chorar
Os edifícios perdiam-se nas cores
E por alguns momentos
misturados ao ar pesado de todos os dias
Compunham uma paisagem quase divina
As montanhas suavemente iluminadas
assumiam proporções infinitas, calmas
Com esses tons de tarde, nessa tarde
a cidade era abençoada
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