tá difícil, cara. quando esse sol mais quente que sua cama não deixa você dormir. tá foda ficar pensando em um tanto de coisa que você não queria. e ficar puta com tanta gente falando merda e sabendo que ninguém vai te entender. tá foda saber que ninguém percebe que você só quer poder ficar com a cabeça quase vazia, sem pensar nessa vida com tanta desgraça alheia. que você só quer poder olhar as coisas de um jeito mais otimista, mas quando você sai de casa vê um cachorro todo ferido tentando achar algo pra comer ou beber, que mesmo assim abana o rabo quando você passa e te segue pra nenhum lugar. que na esquina tem um bêbado de ontem dizendo que o mundo já acabou só que ninguém percebeu. você quer ser otimista e sente que não pode sonhar mais. e sente que não acredita mais em quase nada. aí faz força pra seguir e pensar que a vida é essa coisa assim meio esquisita, meio sacana, mas que tem muitas coisas boas. que você pode ainda esperar a chuva e deixar que ela limpe um pouco a cidade e a sua alma. que tem amigos. que tem um amor que talvez possa tá te esperando em algum lugar.
quarta-feira, outubro 23, 2013
quinta-feira, outubro 17, 2013
depois
de toda essa discussão sobre biografia autorizada ou não, chego à
conclusão de que muita gente simplesmente esquece o que esses caras
fizeram, esquece sua arte, seu talento e a enorme contribuição que deram
pro país. sou contra biografia autorizada, censura prévia, acho que
perde a força, fica capenga, unilateral, mas, mesmo com a antipatia e
desconfiança que tenho pela paula lavigne , acho
que caras como chico, caetano, gil, milton e outros têm o direito de se
posicionarem . isso decepciona muitos, isso me decepciona, mas não
pode, definitivamente, fazer que toda arte e história deles sejam
jogadas no lixo, que eles sejam fuzilados no paredão da ignorância. os
velhos gagás(como muitos os chamam) são parte de uma história que não
podemos esquecer nunca. e vou continuar a ouvir e gostar de chico até
morrer e quando ele diz que é contra alguma coisa, no mínimo, temos que
pensar sobre.
sábado, outubro 12, 2013
você
acorda e pensa num modo mais fácil de não pensar que o dia poderá ser
uma merda. você acorda e não quer esse frio invadindo o seu corpo nem
esse sol feio nesse céu indefinido de quase chuva. olha pro lado, faz um
café, dá uma ajeitada na casa, põe água e comida pros gatos, come uma
fruta. fuma o primeiro cigarro. ouve a primeira música. liga o
computador e não tem nada de muito novo. quando percebe,
tá na hora do almoço e nenhuma fome, mas você tem que comer. você tem
que sair e fazer as coisas na rua. tem que trabalhar, fazer sacolão,
conversar um pouco com o vizinho. tem que saber da mãe, dos irmãos, dos
filhos. tem que se inteirar das notícias do mundo e pensar que o mundo é
isso. não se incomodar com a evangélica moralista
pseudoambientalistahonesta que se une aos ruralistas, nem com o ódio da
mídia conservadora e muito menos com o assalto que acabou de acontecer
na esquina. tem que esquecer da briga com sua amiga, da desesperança na
educação, da noite que escapou por entre os dedos. você olha e vê a vida
quase como uma repetição. você pensa e quase não vê sentido nessa coisa
toda. aí, de repente, pensa nos amigos distantes, na cerveja gelada,
naquele dia na praia, lê alguns versos de seu poeta preferido, vê a
planta na área que cresceu muito da noite pro dia e o seu gato esticado
com a barriga pra cima tentando driblar o tédio. lembra dos filhos e de
como são bacanas e bonitos. você entra no banho e a água e o sabonete
parecem limpar sua alma. o dia pode não ser mais uma merda. e ainda tem a
noite.
(republicado com pequenas alterações)
segunda-feira, outubro 07, 2013
anjo caído
arte: rafael godoy
Ele entrou e disse que estava frio lá fora.
Bebeu o café quase frio e acendeu um cigarro. Disse que aquele dia
tinha visto algumas pessoas estranhas que o seguiam. Jurou que não era
paranoia. Perguntou sobre os gatos e se esticou
no sofá. Falou sobre o possível apocalipse mas disse que não acreditava
em anjos. Elogiou a música que tocava, acho que Coltrane, e falou que
nesse momento vinha uma paz quase inevitável ou que a vida tinha algum
sentido. Pediu pra eu soltar os cabelos e sentir o cheiro do xampu que
gostava. E ainda, com voz baixa e com os braços fortes, me puxou para o
seu lado e me deu um beijo longo e forte. Sua boca tinha gosto de
menta, provavelmente, alguma bala ou chiclete para tirar o gosto do
cigarro. Estava intensamente sensual, com os cabelos despenteados e
cheiro de chuva. Dormi em seus braços e quando acordei já tinha ido
embora. Ele era assim, aparecia em qualquer hora, dizia coisas sem
sentido ou ficava preso em seu silêncio. Eu entendia esse homem de
poucas palavras e gestos definitivos. E ele sabia disso. Talvez fosse
ele um anjo caído por acaso em minha vida.
( republicado, a falta de inspiração continua )
sexta-feira, outubro 04, 2013
quando a escuridão
a luciano fraga
arte: carcarah
quando a escuridão parece mais escura que é
e você está no meio do mar em um pequeno bote
vê uma mancha preta maior que a escuridão
pensa que não haverá mais jeito
desta vez não tem saída
então olha para cima e não vê estrelas
olha para baixo as águas são geladas e negras
você ali no pequeno bote
no meio daquele oceano imenso e gelado
sem tempo sem brisa sem cor sem som
e aparecem uns olhos esverdeados
que brilham e não são estrelas
são maiores que a escuridão e o frio
e você se agarra a eles a seu brilho
você acorda em sua cama e uns olhos verdes escuros
mais escuros que aquelas águas te olham
então você dorme e quase sonha quase se esquece
e quase pensa que está salvo
e você está no meio do mar em um pequeno bote
vê uma mancha preta maior que a escuridão
pensa que não haverá mais jeito
desta vez não tem saída
então olha para cima e não vê estrelas
olha para baixo as águas são geladas e negras
você ali no pequeno bote
no meio daquele oceano imenso e gelado
sem tempo sem brisa sem cor sem som
e aparecem uns olhos esverdeados
que brilham e não são estrelas
são maiores que a escuridão e o frio
e você se agarra a eles a seu brilho
você acorda em sua cama e uns olhos verdes escuros
mais escuros que aquelas águas te olham
então você dorme e quase sonha quase se esquece
e quase pensa que está salvo
terça-feira, setembro 24, 2013
constatação 2
arte: rafael godoy
queria não ter esses olhos e essa pele
nem essa alma perdida que se comove com o mundo
nem essa alma perdida que se comove com o mundo
(ando mesmo sem inspiração, mas às vezes um texto antigo reflete o sentimento de agora)
sábado, setembro 21, 2013
lobos
quando lobos da cidade com seus olhos de neon
sobem solitários a ladeira fria do bairro
mesmo que não tenha lua e a noite seja de ventos
pensam em suas vidas na fumaça e no uísque que deixaram nos bares
nas mulheres que beijaram e juraram ser únicas
pensam que amanhã pode ser diferente mesmo sabendo que não
entram em casa e olham suas mulheres
dormindo amassadas e quase puras e os filhos no quarto ao lado
esses lobos viram anjos subitamente
vestem a camiseta branca e escovam os dentes
como se fossem limpar os restos do pecado
desejam bons sonhos em silêncio
se enroscam em suas mulheres sob o edredon macio
à noite se esquecem e voltam aos lugares perdidos
beijam mais mulheres e bebem mais uísque
marcam seu território com mãos, línguas e histórias inventadas
e a lua aparece azulada e tímida
esses lobos uivam e seus olhos são de neon
sobem solitários a ladeira fria do bairro
mesmo que não tenha lua e a noite seja de ventos
pensam em suas vidas na fumaça e no uísque que deixaram nos bares
nas mulheres que beijaram e juraram ser únicas
pensam que amanhã pode ser diferente mesmo sabendo que não
entram em casa e olham suas mulheres
dormindo amassadas e quase puras e os filhos no quarto ao lado
esses lobos viram anjos subitamente
vestem a camiseta branca e escovam os dentes
como se fossem limpar os restos do pecado
desejam bons sonhos em silêncio
se enroscam em suas mulheres sob o edredon macio
à noite se esquecem e voltam aos lugares perdidos
beijam mais mulheres e bebem mais uísque
marcam seu território com mãos, línguas e histórias inventadas
e a lua aparece azulada e tímida
esses lobos uivam e seus olhos são de neon
(republicado)
sexta-feira, setembro 13, 2013
pode ser
gravura em metal: rafael godoy
vem aqui e me abrace forte
pode até usar aquele perfume que te dei um dia
e me morder os lábios com força
pode contar as histórias que sei de cor
e cantar a música que um dia foi nossa
meus olhos vão brilhar como se fosse a primeira vez
diz que a lua nasceu hoje só pra nós dois
e que vai me cobrir quando esfriar de madrugada
se eu te der o meu amor intenso e quente como agora
talvez você fique aflito e saia
ou pode ser que goste
e ainda fique por algum tempo
não terei coragem de te dizer essas palavras
mas em algum lugar vão estar escondidas
sob o tapete nos lençóis
ou na poeira que sobe e sai pela janela
pode até usar aquele perfume que te dei um dia
e me morder os lábios com força
pode contar as histórias que sei de cor
e cantar a música que um dia foi nossa
meus olhos vão brilhar como se fosse a primeira vez
diz que a lua nasceu hoje só pra nós dois
e que vai me cobrir quando esfriar de madrugada
se eu te der o meu amor intenso e quente como agora
talvez você fique aflito e saia
ou pode ser que goste
e ainda fique por algum tempo
não terei coragem de te dizer essas palavras
mas em algum lugar vão estar escondidas
sob o tapete nos lençóis
ou na poeira que sobe e sai pela janela
domingo, setembro 08, 2013
tava
pensando por que não paro de fumar. sei que esse troço mata, causa um
tanto de doença, blablablablablá. tem dia que nem fumo, fico com
preguiça de sair pra comprar. aí pensei numa série de motivos pra não
parar. além de gostar de fumar depois do café, olhando o fim de tarde,
quando tô criando alguma coisa, quando tô ouvindo música, quando tô
bebendo com amigos, quando fico nervosa com meu time ou discutindo com
alguém, quando tô triste, alegre, ou nenhum dos dois. mas o que me faz
não parar é que essa vida tá ficando chata demais, cheia de regras
demais. as pessoas que não fumam ou grande parte delas olham pra gente
como se tivéssemos alguma doença contagiosa, como se esse mundo fosse a
coisa mais limpa do mundo, como se a fumaça dos carros, o estresse, a
falta de humanidade, a falta de gentileza, o preconceito, a tortura, a
miséria, a indiferença, o som alto de música tipo
funksertanejouniversitárioelet rônica,
a direita oportunista ou pastores evangélicos não fizessem mais mal
que a porra de um cigarro, que eles são fodas porque não fumam e a gente
é uma merda por acender um careta. e vou continuar fumando até que me
provem que essa vida mereça que eu pare.
quinta-feira, agosto 22, 2013
entendo que poderia ser diferente mas não foi
não quero desculpas para mim ou para o que fiz
entendo que ficar em silêncio seria o melhor caminho
que engolir todos os desatinos que me disse seria mais fácil
e ficar quieta como muitas vezes fiquei me daria mais conforto
mas não foi o que aconteceu
cuspi maribondos e lagartos
soltei todos os demônios presos na alma
atravessei os rios e desertos mais gelados de mim
estradas áridas e intermináveis
senti o calor do inferno bem perto e não fugi
dessa vez não
então veio a noite e a solidão.
veio o vento e os sons inaudíveis do silêncio
e uma terrível sensação de paz.
não quero desculpas para mim ou para o que fiz
entendo que ficar em silêncio seria o melhor caminho
que engolir todos os desatinos que me disse seria mais fácil
e ficar quieta como muitas vezes fiquei me daria mais conforto
mas não foi o que aconteceu
cuspi maribondos e lagartos
soltei todos os demônios presos na alma
atravessei os rios e desertos mais gelados de mim
estradas áridas e intermináveis
senti o calor do inferno bem perto e não fugi
dessa vez não
então veio a noite e a solidão.
veio o vento e os sons inaudíveis do silêncio
e uma terrível sensação de paz.
quarta-feira, agosto 14, 2013
até ontem
arte: rafael godoy
vim como não quer nada
e entrei na noite como se dela tivesse nascido
até ontem não gostava das pessoas do dia
não gostava das cores, do calor
e de tudo que se fazia de dia
entrava na noite e nela me perdia
com os olhos fundos, a cara pálida
encontrava gente com essa mesma cara
às vezes muito maquiadas
e pareciam artistas de cinema mudo
olhava para elas como se soubesse o que faziam ali
escondidas no fundo dos bares ouvindo blues e jazz
o nariz e os olhos dançando
reconhecia quem era da noite
e quem estava ali vindo do dia
podia pensar que eram felizes
suas roupas brilhavam e brilhavam seus cabelos
falavam dos poetas góticos e dos impressionistas
dos beatniks e do cinema francês
conheciam um bom vinho e a pior cachaça
e pensavam que podiam mudar alguma coisa
neste mundo tão pobre
e mesmo nobres
comiam pão com mortadela.
eu vim com a noite e nela me escondia
e me encantava com a vida dessas pessoas
e fazia parte desse mundo escuro
quase escondido quase feliz
até ontem gostava desses seres
e talvez ainda seja um deles
mas hoje vi a luz do sol
e deixei que aquecesse minha cama fria
(republicado por absoluta falta de inspiração)
domingo, agosto 11, 2013
sua presença
a meu pai
quando ele se foi deixou sua presença invisível
uma máquina de escrever
um relógio que sempre marcava a mesma hora
uma lata de rapé pequena, palavras cruzadas
um livro de camões que sabia de cor
brinquedos de madeira, máscaras de monstros
e o tapete queimado de cigarro
quando entrei no quarto
o seu cheiro
o som de seu riso e de sua sabedoria
o abraço no ar que até hoje busco
quando ele se foi
tinha um bem-te-vi na janela
e hoje também tem um
me pego com o coração pequeno
e sinto meu velho pai me abençoando
quinta-feira, agosto 08, 2013
amanheceram estrelas
arte: ricardo ferrari
essa noite não aconteceu
nem a seguinte
amanheceram estrelas
a cama azul
seu cheiro perdido nas fronhas sua insensatez na pasta de dente sem tampa
ainda vejo sua sombra na porta
e os demônios que sempre te perseguiram
mas o dia está claro
e acho que posso pensar em outras coisas
que não sejam seus olhos me implorando
pra ficar
e juro queria que ficasse
mas o seu inferno não me cabe mais
nem a seguinte
amanheceram estrelas
a cama azul
seu cheiro perdido nas fronhas sua insensatez na pasta de dente sem tampa
ainda vejo sua sombra na porta
e os demônios que sempre te perseguiram
mas o dia está claro
e acho que posso pensar em outras coisas
que não sejam seus olhos me implorando
pra ficar
e juro queria que ficasse
mas o seu inferno não me cabe mais
(poema publicado mas muito alterado)
terça-feira, julho 30, 2013
constatações 3 ou divagações de uma cinquentona
tá bom, você me disse que eu precisava sair de casa, respirar outros ares, ficar com outras pessoas.
mas não tô conseguindo, entende?
gosto de ficar aqui com meus gatos, minha música, meus filmes.
ontem até vi pânico na floresta 5.
porra, todo mundo morre de maneira mais cruel e no final só os bandidos escapam e felizes.
aí você me pergunta: por que eu vejo filmes como esse tipo c? eu que gosto de filmes de arte e afins?
talvez algum tipo de superação ou punição subliminar, será? de noite até sonhei com algumas cenas.
gosto de fumar sem ter ninguém me enchendo o saco.
gosto de pendurar a roupa no varal e depois ficar olhando as cores perfumadas ventando na área.
gosto de poder ouvir as músicas que me fazem viajar pra qualquer lugar de mim ou do mundo.
gosto de não atender o telefone.
gosto de não ter horário pra comer.
gosto de não ir ao médico.
gosto de ler poemas fodas e textos fodas e descobrir uma porrada de coisas que mexem com a alma.
e passear pelo facebook mas nem sempre.
gosto de andar com roupa velha e rasgada.
gosto de voltar pra casa sempre.
gosto de tomar café olhando a tarde.
aí você me disse que era depressão mas não tô triste.
até danço e canto e brinco no sol com os gatos.
vejo amigos e gosto de ficar com eles e saber que estão por perto.
gosto de me desesperar pelo meu time e gritar quando ele ganha.
gosto de tomar uns porres e só falar merda.
gosto de beijar na boca e namorar de vez em quando.
e cozinhar quando tenho vontade.
gosto do frio e de dias cinzentos.
gosto de ficar com o pessoal lá de casa e muito.
mas ver minha mãe daquele jeito me dói demais e às vezes não consigo e sempre choro
e sempre me pergunto por que que ela ainda não quer ir embora.
gosto de saber que meus filhos estão bem.
mas não consigo lidar com a desumanidade nunca.
gosto de saber que ainda posso fazer o que gosto.
segunda-feira, julho 22, 2013
saturno
saturno na lente mágica
as retinas prenhas
os anéis que tu me deste
nesta noite clara
não eram de vidro
mas quebraram a monotonia
e me tornaram por um segundo
a noiva do universo
segunda-feira, julho 15, 2013
estamos mais velhos, mano
(hoje é o aniversário dele)
estamos mais velhos, mano
quando saímos daquela porta
não sabemos se vamos voltar
os passos são mais lentos
você disse que a música era pra mim
mas minha negra cabeleira
não se mantém sem tinta escura
seus cabelos são brancos e poucos
mas você é um menino grande
e o seu sorriso se espalha na sala
em que brincamos tanto na infância
estamos mais velhos, mano
mas quando estamos juntos nos tornamos meninos
e rimos das mesmas coisas
e brigamos e choramos juntos
e nos embebedamos pelas esquinas
dividimos o mesmo cigarro a poesia
"a noite a lua e até solidão"
estamos mais velhos, mano
e gosto de pensar que envelhecemos juntos
sexta-feira, julho 12, 2013
Na primeira manhã
Na primeira manhã em que abriu a janela para rua, o som intragável de uma música eletrônica
fez vibrar seus dois ouvidos. Desde esse dia então pensou que melhor
seria ficar trancado até as tripas se dissolverem e saírem por suas
orelhas e poros para não ter que escutar aquele som. Um som que devia
ficar preso no inferno atormentando as almas pecadoras da Terra. Quando
se lembrou da frase de Sartre "o inferno são os outros' riu para si
mesmo. O verdadeiro inferno é essa música, concluiu. Pensou em um livro
que tinha lido há muitos anos" Os demônios
descem do Norte" e era quase profético ao narrar a saga dos evangélicos
que vinham da América do Norte e se espalhavam pelo mundo. Eram
pensamentos vagos. O Tinhoso devia estar feliz, o capeta
e seu tridente em riste. Quis abrir a janela, quis pensar que estava
errado, que tinha exagerado em suas percepções. Não pôde. Ao som
torturante da música eletrônica,
como um marca-passo estúpido e insistente, no meio de tantos que
dançavam, havia um ar de triunfo, quase satânico e um sorriso escondido
em uns olhos vermelhos. O inferno era agora, finalmente o diabo tinha
vencido.
domingo, junho 23, 2013
tô
com preguiça disso tudo. desse papo todo contra o governo e todos os
políticos de maneira geral, de marina silva e joaquim barbosa. do não
reconhecimento dos avanços que o governo lula e dilma conseguiram. do
não mensalão tucano. tô com preguiça desses evangélicos autointitulados
de donos da moral e bons costumes. tô com preguiça desse discurso vazio e
sem embasamento. da rede globo. da polícia.
dos manisfestantes. de todas as pecs. a classe média acordou? o povão
já tá acordado todos os dias às cinco da matina pra pegar o ônibus e
trabalhar. gostei das manifestações. mostraram que o povo está no
limite. os administradores não podem mais brincar e zombar como zombam
do povo. mas tô com preguiça do que vem por aí. de onde isso vai
parar. e um certo medo
sábado, junho 15, 2013
e quando vier o dia
e quando vier o dia
os homens estarão feridos
as crianças tristes e perdidas
e estupefatas as mulheres
quando vier o dia
ficarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano da cidade
estaremos sedados
a noite e o país em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir
mas é mais forte o grito das gentes
mais forte que todo o gás que faz chorar
e que todas as balas de borracha que ferem
queremos não ver queremos não ouvir
mas a alma não sossega
e chora por esse país por essa gente
e torce por esse país e por essa gente
e alguns dirão que não há guerra
melhor fechar as janelas
os homens estarão feridos
as crianças tristes e perdidas
e estupefatas as mulheres
quando vier o dia
ficarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano da cidade
estaremos sedados
a noite e o país em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir
mas é mais forte o grito das gentes
mais forte que todo o gás que faz chorar
e que todas as balas de borracha que ferem
queremos não ver queremos não ouvir
mas a alma não sossega
e chora por esse país por essa gente
e torce por esse país e por essa gente
e alguns dirão que não há guerra
melhor fechar as janelas
(texto republicado e muitíssimo alterado)
segunda-feira, junho 10, 2013
a cidade é outra
visto de cinza a cidade
as ruas têm prédios demais
e eles não se cansam de criar outros a cada dia
as britadeiras perfuram minha cabeça
escondem as sirenes e buzinas
os gritos dos gatos o canto dos bêbados
as construções apagam a lua espantam o vento
silenciam os poetas
as montanhas são dilaceradas dinamite e cimento
a cidade que era minha
vai embora de mim
espalha pó nos cabelos embaça meus olhos
e deixa um gosto estranho na saliva
a cidade é outra
eu sou outra
mas ainda posso ver através da fumaça do cigarro
um sol pálido
que começa a nascer
quinta-feira, junho 06, 2013
A noite de Heitor
De algum lado da cidade vinha um frio estranho para essa época do ano. Heitor abriu a janela, a pequena janela do seu quarto fedido e imundo. Colocou o rosto para fora e sentiu um vento meio de lado, que não parecia pertencer àquele lugar. Olhou para cima, para baixo, para os lados e viu que não tinha ninguém nas outras janelas, só ouviu um ruído, quase como um sopro. Lembrou-se da noite que tinha tido com uma mulher. Uma noite quente, extremamente, quente. Os lençóis estavam fora do colchão, e havia restos de uísque nos copos, pontas de cigarro nos cinzeiros e um cheiro de quase morte. No chão, além da calça jogada, um batom sem a tampa, um papel de chocolate. Entrou no chuveiro e deixou que a água quente inundasse seu corpo, sua alma. O vapor condensava-se no espelho da pia. Heitor passou a toalha no espelho e o que viu o assustou. Era um outro homem o que estava ali: mais velho, mais cansado, mais triste. A última imagem que tinha de si não era essa. Pegou o aparelho de barbear, ensaboou o rosto e fez a barba. Entrou debaixo do chuveiro e ficou algum tempo se limpando com o sabonete de erva-doce que alguém havia lhe dado. Enxugou-se com uma toalha limpa. Ao abrir a porta da sala, notou um bilhete debaixo da porta. Era dela, de Valeska, a mulher da noite. Uma lufada de ar gelado rompeu pela porta e o envolveu. Ficou ali parado, olhando o vazio do corredor.
quinta-feira, maio 30, 2013
quero um amigo só hoje que tome cerveja comigo e diga que nem tudo está perdido. que atravesse a tarde falando besteiras e rindo de coisas bobas. que me ajude a passar pro outro lado da rua e tenha um isqueiro pra acender meu cigarro e não se importe com a fumaça. só hoje quero esse amigo que nesse dia cinza e frio me empreste um casaco que esquente minha alma. só hoje quero um amigo que diga aqueles versos que fazem a diferença e ouça aquela música que só eu gosto. que quando meu time fizer gol grite mais alto que eu e exploda de alegria. que entenda o que eu digo sem eu ter que fazer força. hoje quero esse amigo que anda escondido em algum lugar da cidade, que não sabe que quero ele perto, bem perto.
segunda-feira, maio 27, 2013
como
é que a gente fica assim nesse intervalo entre a segunda e o resto dos
dias? como que a gente ultrapassa esse abismo mortal que insiste em
apertar o peito e deixa o coração batendo esquisito? tá bom, você pode
ouvir a música certa e observar os gatos brincando com a sombra da
persiana. você pode pensar em não ir ao trabalho e tomar cerveja durante
o dia ou ver um filme tipo b e ler todos os textos que não leu durante a
outra semana ou simplesmente tomar dois dormonids e dormir durante dois
dias e meio. mas aí se lembra que a geladeira está vazia e que tem uma
porrada de coisas pra fazer. que o telefone toca e estão te oferecendo
uma viagem incrível e que ainda não viu o amigo que chegou de longe.
você se lembra que a sua cabeça não é a mesma de quanto você podia fazer
isso e ficar sem culpa. e inevitavelmente chega à conclusão de que você
está velha e cansada e que a vida te venceu pelo menos nessa
segunda-feira.
(republicado)
sexta-feira, maio 24, 2013
CÓDIGO DA VIDA
SE LEONARDO DÁ VINTE
PEDRO DÁ DEZ
MIGUEL DÁ CINCO
VOCÊ NÃO DÁ NADA!
QUE TIPO DE HOMEM
PENSA QUE É?
VAI DAR COM OS BURROS N'ÁGUA!
MISERÁVEL, FILHO DA PUTA!
PEDRO DÁ DEZ
MIGUEL DÁ CINCO
VOCÊ NÃO DÁ NADA!
QUE TIPO DE HOMEM
PENSA QUE É?
VAI DAR COM OS BURROS N'ÁGUA!
MISERÁVEL, FILHO DA PUTA!
quarta-feira, maio 22, 2013
mil noites e um abismo
arte: rafael godoy
você precisaria de mil noites pra começar a me entender
pra sentir a lua e o gosto da cerveja descendo como um rio doce na garganta
você precisaria de mil dedos pra me tocar
e talvez nem alcançasse o ponto mais primitivo do prazer
você precisaria de atravessar estradas curvas e escuras
pra saber a cor do vento e a intensidade dos pássaros noturnos
você precisaria ficar à beira de mil abismos
pra entender que nossos abismos são os mais profundos e quase inatingíveis
você precisaria ouvir as canções mais viscerais
e saber que um poema pode mudar sua cabeça previsível
você precisaria saber que quando estamos com amigos de verdade
podem aparecer estrelas cadentes nos olhos
cara, mas você não sabe nada
não sabe nada
sábado, maio 18, 2013
estamos atrasados
arte: rafael godoy
estamos atrasados, meu amor
o rio já correu
o sol já se foi
e o dia ainda não foi embora
perdemos a noite escura
mais negra que os olhos do diabo
perdemos a hora de dançar com as árvores
com seus galhos como as mãos da morte
o vento está morno e fraco
as flores não têm cheiro
perdemos o trem
que atravessa a cidade
não vamos a lugar nenhum
o tempo já passou
ficamos aqui de mãos dadas
como duas crianças perdidas
as ruas são longas
e estreitas as esquinas
estamos atrasados, meu amor
o mundo esmaga os nossos sonhos
lentamente, irreversivelmente
o rio já correu
o sol já se foi
e o dia ainda não foi embora
perdemos a noite escura
mais negra que os olhos do diabo
perdemos a hora de dançar com as árvores
com seus galhos como as mãos da morte
o vento está morno e fraco
as flores não têm cheiro
perdemos o trem
que atravessa a cidade
não vamos a lugar nenhum
o tempo já passou
ficamos aqui de mãos dadas
como duas crianças perdidas
as ruas são longas
e estreitas as esquinas
estamos atrasados, meu amor
o mundo esmaga os nossos sonhos
lentamente, irreversivelmente
sábado, maio 11, 2013
o que vou deixar para os meus filhos?
arte: ricardo ferrari
o que vou deixar para meus filhos?
há mães que deixam fotos organizadas em álbuns.
há mães que deixam uma conta na poupança para o futuro deles.
há mães que dão exemplo de uma vida serena e comportada.
o que vou deixar para os meus filhos?
algumas fotos coladas sem ordem , alguns cedês,
algumas histórias esquisitas, tristes ou engraçadas,
alguns livros que provavelmente não vão ler,
uma infância linda em um tempo de quintais,
alguma tristeza de não os ter amado como precisavam.
o que vou deixar para meus filhos?
um olhar que está nos olhos deles,
um jeito tímido de sorrir,
uma foto minha na parede,
e a certeza de que são a melhor coisa que deixei.
(republicado)
terça-feira, maio 07, 2013
Pessoal, tem uns poemas meus aqui neste site feito por alguns poetas! Confiram lá! O espaço é muito bacana! http://sociopoetasvivos.blogspot.com/2013/05/adriana-godoy.html?spref=fb

Poetas Vivos: Adriana Godoy
sociopoetasvivos.blogspot.com
segunda-feira, maio 06, 2013
quando vim ontem pela rua
arte: rafael godoy
quando vim ontem pela rua vi um cachorro morto. fiquei olhando para ele imaginando como teria sido a sua vida de cachorro. então lembrei da minha vida e vi que não era muito diferente.me vi morta com a cabeça no passeio e o resto do corpo na rua. imaginei outro cachorro me cheirando com o focinho frio e o bafo quente. vi que ele saiu correndo, como quem corre do diabo.
(republicado)
quando vim ontem pela rua vi um cachorro morto. fiquei olhando para ele imaginando como teria sido a sua vida de cachorro. então lembrei da minha vida e vi que não era muito diferente.me vi morta com a cabeça no passeio e o resto do corpo na rua. imaginei outro cachorro me cheirando com o focinho frio e o bafo quente. vi que ele saiu correndo, como quem corre do diabo.
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quinta-feira, abril 25, 2013
Hoje é o aniversário de minha mãe. 88
anos. E faz mais de dois anos que ela está se alimentando através de
sonda, respirando pela máquina, sem falar, sem nunca mais falar. No
entanto, seus olhos brilham e nos dizem coisas que não sabemos o que é,
mas sentimos forte, muito forte.
Mamãe continua imóvel numa cama e é aniversário dela. Não sei se sabe que hoje é seu dia. Talvez ela pense na família, na grande família em volta da mesa ou espalhada pela casa, na música, nos risos, nos abraços, no amor e na solidão de cada um de seus filhos. Seus oito filhos. Talvez pense no seu companheiro que já se foi há muito tempo. Talvez sua festa seja em outro lugar. Um lugar que não podemos alcançar. Hoje é aniversário de minha mãe e não sei comemorar. Não consigo comemorar. Só sei dizer do amor que tenho por ela pra sempre.
Mamãe continua imóvel numa cama e é aniversário dela. Não sei se sabe que hoje é seu dia. Talvez ela pense na família, na grande família em volta da mesa ou espalhada pela casa, na música, nos risos, nos abraços, no amor e na solidão de cada um de seus filhos. Seus oito filhos. Talvez pense no seu companheiro que já se foi há muito tempo. Talvez sua festa seja em outro lugar. Um lugar que não podemos alcançar. Hoje é aniversário de minha mãe e não sei comemorar. Não consigo comemorar. Só sei dizer do amor que tenho por ela pra sempre.
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