arte: rafael godoy
Ele entrou e disse que estava frio lá fora.
Bebeu o café quase frio e acendeu um cigarro. Disse que aquele dia
tinha visto algumas pessoas estranhas que o seguiam. Jurou que não era
paranoia. Perguntou sobre os gatos e se esticou
no sofá. Falou sobre o possível apocalipse mas disse que não acreditava
em anjos. Elogiou a música que tocava, acho que Coltrane, e falou que
nesse momento vinha uma paz quase inevitável ou que a vida tinha algum
sentido. Pediu pra eu soltar os cabelos e sentir o cheiro do xampu que
gostava. E ainda, com voz baixa e com os braços fortes, me puxou para o
seu lado e me deu um beijo longo e forte. Sua boca tinha gosto de
menta, provavelmente, alguma bala ou chiclete para tirar o gosto do
cigarro. Estava intensamente sensual, com os cabelos despenteados e
cheiro de chuva. Dormi em seus braços e quando acordei já tinha ido
embora. Ele era assim, aparecia em qualquer hora, dizia coisas sem
sentido ou ficava preso em seu silêncio. Eu entendia esse homem de
poucas palavras e gestos definitivos. E ele sabia disso. Talvez fosse
ele um anjo caído por acaso em minha vida.
( republicado, a falta de inspiração continua )
2 comentários:
Pode ser republicado, mas que é muito bom, é sem dúvida.
talvez, talvez
quem sabe
era uma vez
beijo
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