você
acorda e pensa num modo mais fácil de não pensar que o dia poderá ser
uma merda. você acorda e não quer esse frio invadindo o seu corpo nem
esse sol feio nesse céu indefinido de quase chuva. olha pro lado, faz um
café, dá uma ajeitada na casa, põe água e comida pros gatos, come uma
fruta. fuma o primeiro cigarro. ouve a primeira música. liga o
computador e não tem nada de muito novo. quando percebe,
tá na hora do almoço e nenhuma fome, mas você tem que comer. você tem
que sair e fazer as coisas na rua. tem que trabalhar, fazer sacolão,
conversar um pouco com o vizinho. tem que saber da mãe, dos irmãos, dos
filhos. tem que se inteirar das notícias do mundo e pensar que o mundo é
isso. não se incomodar com a evangélica moralista
pseudoambientalistahonesta que se une aos ruralistas, nem com o ódio da
mídia conservadora e muito menos com o assalto que acabou de acontecer
na esquina. tem que esquecer da briga com sua amiga, da desesperança na
educação, da noite que escapou por entre os dedos. você olha e vê a vida
quase como uma repetição. você pensa e quase não vê sentido nessa coisa
toda. aí, de repente, pensa nos amigos distantes, na cerveja gelada,
naquele dia na praia, lê alguns versos de seu poeta preferido, vê a
planta na área que cresceu muito da noite pro dia e o seu gato esticado
com a barriga pra cima tentando driblar o tédio. lembra dos filhos e de
como são bacanas e bonitos. você entra no banho e a água e o sabonete
parecem limpar sua alma. o dia pode não ser mais uma merda. e ainda tem a
noite.
(republicado com pequenas alterações)
Um comentário:
de torar
beijo
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