quarta-feira, junho 10, 2015

o caso do camaleão


sempre odiei reunião de condomínio e raramente participei de uma, a não ser quando fui síndica, porque não tinha jeito de escapulir. mas um dia, o rafa, meu primogênito, disse que tinha visto um rato passeando pelo apê. na época o prédio era habitado praticamente por senhores e senhoras mais ou menos idosos. fiquei intrigada e preocupada com aquilo e lá fui eu à reunião pra falar com o síndico e com os moradores, a fim de saber se eles também tinham visto algum roedor no edifício. minha casa era a mais movimentada e barulhenta de todas, com dois adolescentes, os amigos, os amigos dos amigos deles e os meus amigos. os anciãos achavam que minha casa era um ninho de perdição. um antro de drogados. não nos viam com bons olhos. mas mesmo assim resolvi enfrentá-los. o meu horror a ratos era maior e eu tinha que dar uma resposta pro rafa. pois bem. cheguei lá na cara dura e expus o fato. todos me olharam como se eu fosse um et e cochicharam entre si e, quase ao mesmo tempo, disseram: "não era rato, era camaleão!". pensei: "mas camaleão na zona urbana, no brasil?" e eles reforçaram: "você nunca viu camaleões nas paredes do prédio, nos corredores?" eu disse que não e respondi: "meu filho viu um rato!". eles afirmaram: "mas não é rato, é camaleão! o controle remoto de sua casa, por exemplo, pode ser um camaleão disfarçado!" "seu filho deve estar chupando drogas!" saí da reunião convicta de que eles estavam certos, abri a porta do apê, o rafa me olhando ansioso, e eu disse muito brava: "rafa, você tá chupando drogas?"

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