domingo, janeiro 11, 2015
foi aquilo que me disse que me tirou do chão e me fez querer sair dali correndo, mesmo com tanto calor e com tanta gente em volta. foi só uma frase que me fez arrepender de ter saído e ter bebido tanta cerveja e vodka com o sol na cabeça à lô borges, mas não tinha trem azul, só você do meu lado. tava tudo bem, juro que tava gostando. a música tava boa, o lugar bom. eu podia fumar sem ninguém me olhar com cara de nojo. porque era aberto, sem toldo, só com aquelas árvores que podiam dar alguma sombra. eu podia te beijar sem ter medo de alguém ver porque isso não era importante naquele momento. eu podia lembrar de coisas que vivemos juntos há muito tempo e a gente rir feito criança. a conversa tava boa, lembranças de coisas e pessoas que tinham ficado no passado junto com você. mas aí tinha que falar aquela merda. não precisava, cara. mas você falou. e em uma fração de segundo nada daquilo ali fazia mais sentido.
domingo, janeiro 04, 2015
cenas de rua
no vago tom da noite
a árvore parada e morna
com seus galhos feito mãos inúteis
assombram os que passam distraídos
o passeio é um deserto esticado
a rua com asfalto recente geme
quando carros deslizam loucamente
com suas buzinas ensurdecedoras
do outro lado da rua
um homem fuma solitariamente
não sorri, apenas olha a fumaça que sobe
a moça passa: "tem fogo"?
nesse momento o seu corpo é uma fogueira
a moça mostra o cigarro apagado e ergue a mão
"tem fogo?"- repete
ele todo é uma fogueira
a moça sorri com o cigarro apagado
o homem arde e olha a fumaça que sobe
a moça já virou a esquina
um cão atravessa a rua
as pessoas dormem com janelas fechadas
a luz vermelha e azul do carro de polícia
a sirene que berra
um bêbado solitário conversa com a noite
uma lua pálida no céu
o homem com um cigarro aceso entre os dedos
caminha lentamente para nenhum lugar
sábado, novembro 22, 2014
sempre fica um vazio
arte: rafael godoy
sempre fica um vazio
um vazio abissal
que nem todos os deuses anjos ou demônios
poderão te salvar
sábado, novembro 15, 2014
expurgo
arte: rafael godoy
entre bruxos e velas
vomito veneno e vísceras
ensandecida e crédula
no meu último ato místico
e me salvo sem pudor
de seus pecados
segunda-feira, novembro 10, 2014
vou te dar meu último verão
todo o outono amarelo
e quando me alcançar
vai ver que sou o mais puro inverno
não dos trópicos
mas dos lugares mais frios da terra
terras da sibéria
não adianta me dizer para abrir as janelas
o sol me é estrangeiro
tenho em mim geleiras ancestrais
meu coração não bate
vacila descompassado
selvas do universo me rondam
e mesmo assim você vai me recriar
e me amar com tudo que sou
porque você
precisa de uma criatura só sua
mesmo inventada
mesmo com essas sombras geladas
arte: rafael godoy
sábado, setembro 13, 2014
eu e meus gatos
enquanto escrevia ela deslizava em cima do
teclado, e as letras foram aparecendo numa língua desconhecida que
talvez só os gatos entendam. e ela queria chamar minha atenção de
qualquer jeito. miava baixinho e me olhava com aqueles olhos verdes
e infinitos. por um momento parei e fiquei observando essa gata que me
acompanha há 14 anos. chiquinha é o nome dela e está presente em quase
tudo que faço. ela sabe que vou chegar até mesmo antes de mim, me espera
na porta junto com tutuco, meu gato velho e branco. ele talvez seja
minha alma em forma de gato. fiquei pensando nessas coisas de todos os
dias, nessas companhias tão presentes, no meu apartamento com pelos, nas
cadeiras e sofás meio destruídos por causa deles, na ausência de alguns
amigos que têm horror a pelos ou a gatos. fico pensando que eles não
conhecem o mundo lá fora, que a realidade deles é essa mesma e mesmo que
eu deixe a porta aberta, eles só saem até o corredor e voltam rápido. e
parecem que gostam disso aqui. quando ficam na janela olham lá fora com
alguma indiferença a não ser que algum inseto ou pássaro passeie por
ali. aí o instinto é mais forte, a gata em posição de ataque, os pelos
arrepiados, olhos paralisados e, se der, dá o bote. o velho gato branco
se esconde diante de qualquer presença estranha, mesmo que seja uma
formiga ou qualquer pessoa desconhecida. enquanto escrevo eles estão
aqui ao meu lado, esperando alguma coisa, algum sinal. mas eles sabem
que estou aqui e eu sei que eles estão por perto. a gente vai
envelhecendo junto e a gente sabe que não vai durar muito.
domingo, agosto 31, 2014
camaleoa
O
messianismo de Marina assusta. Sua inconstância agride. Seu discurso
quase surrealista traz indignação. Sua ligação com o agronegócio, Itaú,
Monsanto indica o caminho que fará. Seu fundamentalismo evangélico
atormenta, aterroriza. Collor seria o salvador da pátria, o caçador de
marajás. Marina se coloca como a escolhida do senhor, a que vem para
redimir o Brasil de todos os males. O discurso é
quase o mesmo de Collor. Ela apoia quem pode trazer benefícios a sua
campanha e tal qual camaleão muda seu discurso ao sabor da melhor maré.
E assim, alguns incautos e não tão incautos dizem que vão votar nela.
Uns para extirpar o PT, num ódio quase atávico e irracional ao partido
que, mesmo cometendo erros, proporcionou ao Brasil as maiores e mais
fundamentais mudanças pra seu povo e para o mundo. Não come mais na mão
do FMIi e nem limpa o chão de merda do Tio Sam. Tornou-se respeitado.
Outros vão votar por acreditar que ela significa a mudança, a terceira
via. Confesso, tenho muito receio de que as más profecias se concretizem
e a camaleoa assuma o poder. Isso seria o retrocesso em todos os
níveis, em todos. Estado de alerta geral: a luta agora será mais
complexa e árdua. Fiquemos atentos.
quarta-feira, agosto 20, 2014
vale conferir
HELL-O-RIZONTE CAFE
nesse sábado agora, dia 23, eu e os outros meliantes na foto, mais joao guilherme dias - o mito sem facebook -, estaremos no Edith Café, lendo contos e poemas de Adriana Godoy, Wir Caetano, Fabrício Marques, Mario Alex Rosa e outros autores mineiros. na presente data, a partir da 11h, atenderemos pelo nome de mutável saralho band. cola lá pra ver a gente se divertindo. (foto de Joao Alves) — com Diogo Fabrin e outras 2 pessoas.
nesse sábado agora, dia 23, eu e os outros meliantes na foto, mais joao guilherme dias - o mito sem facebook -, estaremos no Edith Café, lendo contos e poemas de Adriana Godoy, Wir Caetano, Fabrício Marques, Mario Alex Rosa e outros autores mineiros. na presente data, a partir da 11h, atenderemos pelo nome de mutável saralho band. cola lá pra ver a gente se divertindo. (foto de Joao Alves) — com Diogo Fabrin e outras 2 pessoas.
sexta-feira, agosto 08, 2014
`a la mamma
vem logo que te faço um macarrão à la mamma
e ainda tem um vinho italiano que ganhei ontem
você pode dizer cobras e lagartos
que vou te ouvir quase calada
pode até dizer que estou sempre errada
que vou continuar querendo sua companhia
vem pra cá agora enquanto você não tem medo
do peso da minha ironia e dos meus olhos negros
o jantar será servido e pode até ter flores sobre a mesa
e o seu chinelo vai continuar no mesmo lugar
pode ser que eu saia antes de você chegar
mas isso já não terá a menor importância
e ainda tem um vinho italiano que ganhei ontem
você pode dizer cobras e lagartos
que vou te ouvir quase calada
pode até dizer que estou sempre errada
que vou continuar querendo sua companhia
vem pra cá agora enquanto você não tem medo
do peso da minha ironia e dos meus olhos negros
o jantar será servido e pode até ter flores sobre a mesa
e o seu chinelo vai continuar no mesmo lugar
pode ser que eu saia antes de você chegar
mas isso já não terá a menor importância
terça-feira, agosto 05, 2014
quero a noite
arte: rafael godoy
ainda que o corpo clame
sinto em mim um deserto morno
a luz que bate de manhã e me faz fechar a cortina
tenta entrar pelas frestas da outra janela
bem-te-vis gritam em desarmonia
cadê os pardais?
os projetos em cima da escrivaninha me olham
os livros que não consegui ler empilhados
e bananas apodrecendo na fruteira
ontem dormi em outra cama
e ouvi : amor, quer café ou suco?
hoje ouço os carros e as pessoas indo pro trabalho
e sei que breve estarei lá misturada nas ruas e nas pessoas
o genocídio na palestina e as enchentes
as atrocidades sem medida e as tragédias
os deuses devem estar dormindo há séculos
esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar
quinta-feira, julho 31, 2014
entre bougainvilleas e demônios
entre bougainvilleas e demônios
não que essa bougainvillea não me inspire
ou esse bem-te-vi solitário não me diga alguma coisa
existe entre mim e as coisas lá fora um abismo escuro
e a estrada não aponta o sol
esperava que você fosse ao inferno comigo
e me dissesse que nem tudo estava perdido
mas preferiu pegar o primeiro voo e bater suas asas aflitas
ir para um mundo onde não estou
pra que então o telefone depois
e dizer que sente a minha falta
cara os dias e noites são todos meus
os anjos e os demônios me pertencem
e sei que quando acordar eles vão estar lá
mas você não
não que essa bougainvillea não me inspire
ou esse bem-te-vi solitário não me diga alguma coisa
existe entre mim e as coisas lá fora um abismo escuro
e a estrada não aponta o sol
esperava que você fosse ao inferno comigo
e me dissesse que nem tudo estava perdido
mas preferiu pegar o primeiro voo e bater suas asas aflitas
ir para um mundo onde não estou
pra que então o telefone depois
e dizer que sente a minha falta
cara os dias e noites são todos meus
os anjos e os demônios me pertencem
e sei que quando acordar eles vão estar lá
mas você não
sexta-feira, julho 18, 2014
e quando vier o dia
e quando vier o dia
os homens estarão feridos
as crianças tristes e perdidas
e violentadas as mulheres
quando vier o dia
restarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano das cidades
estaremos sedados
a noite e as nações em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir
mas é mais forte o grito e o choro das gentes
mais forte que todo o gás que faz chorar
que todas as balas de borracha que ferem
mais forte que aviões atingidos no céu
que a violência covarde e desigual
que mata e trucida um povo
queremos não ver queremos não ouvir
mas a alma sente
e chora por essa gente
e torce e se revolta e se entristece
e alguns dirão que sempre foi assim
aplaudirão as atrocidades
melhor fechar as janelas
melhor fechar os olhos
e quando vier o dia
não haverá sol
mas nuvens de fumaça e sangue
os homens estarão feridos
as crianças tristes e perdidas
e violentadas as mulheres
quando vier o dia
restarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano das cidades
estaremos sedados
a noite e as nações em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir
mas é mais forte o grito e o choro das gentes
mais forte que todo o gás que faz chorar
que todas as balas de borracha que ferem
mais forte que aviões atingidos no céu
que a violência covarde e desigual
que mata e trucida um povo
queremos não ver queremos não ouvir
mas a alma sente
e chora por essa gente
e torce e se revolta e se entristece
e alguns dirão que sempre foi assim
aplaudirão as atrocidades
melhor fechar as janelas
melhor fechar os olhos
e quando vier o dia
não haverá sol
mas nuvens de fumaça e sangue
sexta-feira, junho 27, 2014
o ar frio que entrava pela janela
mais de uma vez ele me disse
que havia solução
que nem tudo estava perdido
mais de uma vez ele apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar
mais de uma vez ele me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre
mais de uma vez ele me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama
mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas
mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo
mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi
ficaram as estrelas
ficou a noite
e o ar frio que entrava pela janela
que havia solução
que nem tudo estava perdido
mais de uma vez ele apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar
mais de uma vez ele me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre
mais de uma vez ele me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama
mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas
mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo
mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi
ficaram as estrelas
ficou a noite
e o ar frio que entrava pela janela
sexta-feira, junho 20, 2014
dessas noites em que estava lavando pratos
arte: rafael godoy
o detergente faz espuma na pia
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio
duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado
as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem
os pratos vão ficando limpos
as panelas ficam pra depois
pego uma taça e dou um gole
acompanho o blues num inglês ruim
o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá
"estranho pensar no abandono de toda ambição"
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio
duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado
as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem
os pratos vão ficando limpos
as panelas ficam pra depois
pego uma taça e dou um gole
acompanho o blues num inglês ruim
o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá
"estranho pensar no abandono de toda ambição"
segunda-feira, junho 16, 2014
atroz idade
desenho: rafael godoy
ratos cinzas e inquietos passeiam
nos porões de minha infância
acordo e vejo um sorriso meio pálido
e uma mulher quase velha no espelho
nas rugas meio escondidas sob o creme
nos porões de minha infância
acordo e vejo um sorriso meio pálido
e uma mulher quase velha no espelho
nas rugas meio escondidas sob o creme
na carne que sobra sob a roupa
muitas histórias esquecidas
e várias vidas ávidas por juventude
não tem mais corpo
não tem mais volta
mas a moça de tempos atrás
diz que ainda vale a pena
muitas histórias esquecidas
e várias vidas ávidas por juventude
não tem mais corpo
não tem mais volta
mas a moça de tempos atrás
diz que ainda vale a pena
terça-feira, junho 10, 2014
quero a noite
arte: rascunho para tela: rafael godoy
ainda que o corpo clamee a alma não desista
sinto em mim um deserto morno
a luz que bate de manhã e me faz fechar a cortina
tenta entrar pelas frestas da outra janela
bem-te-vis gritam em desarmonia
cadê os pardais?
os projetos em cima da escrivaninha me olham
os livros que não consegui ler empilhados
e bananas apodrecendo na fruteira
ontem dormi em outra cama
e ouvi : amor, quer café ou suco?
hoje ouço os carros e as pessoas indo pro trabalho
e sei que breve estarei lá misturada a elas
as notíciasapocalípticas do brasil
as atrocidades sem medida e as tragédias
os deuses devem estar dormindo há séculos
esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar
sexta-feira, junho 06, 2014
besteiras
tem hora que fico pensando em umas coisas bestas, por exemplo:
por que uma pessoa que não se importa com ninguém grita desesperada para o motorista do outro carro quando vê que a porta dele está aberta?
por que que as pessoas, as mesmas pessoas que podem bater ou humilhar um morador de rua ou maltratar os mais humildes, quando um copo quebra, fazem questão de embrulhar os cacos em folhas de jornais para não machucar o lixeiro?
por que essas mesmas pessoas que odeiam a ascensão da classe menos favorecida,
que discriminam o porteiro do prédio ou um professor negro colaboram, por exemplo, com alguma entidade pró- alguma coisa- beneficente?
por que pessoas que foram profundamente beneficiadas com as mudanças que houve no país fazem questão de maldizer, escracachar e odiar o país em todos os aspectos? por quê? por quê?
que discriminam o porteiro do prédio ou um professor negro colaboram, por exemplo, com alguma entidade pró- alguma coisa- beneficente?
por que pessoas que foram profundamente beneficiadas com as mudanças que houve no país fazem questão de maldizer, escracachar e odiar o país em todos os aspectos? por quê? por quê?
segunda-feira, junho 02, 2014
foi assim
entendo que poderia ser diferente mas não foi
não quero desculpas para mim ou para o que fiz
entendo que ficar em silêncio seria o melhor caminho
que engolir todos os desatinos que me disse seria mais fácil
e ficar quieta como muitas vezes fiquei me daria mais conforto
mas não foi o que aconteceu
cuspi maribondos e lagartas
soltei todos os demônios presos na alma
atravessei os rios e desertos mais gelados de mim
estradas áridas e intermináveis
senti o calor do inferno bem perto e não fugi
dessa vez não
então veio a noite e a solidão.
veio o vento e os sons inaudíveis do silêncio
quinta-feira, maio 29, 2014
a cidade é outra
visto de cinza a cidade
as ruas têm prédios demais
e não se cansam de criar outros a cada dia
as britadeiras perfuram minha cabeça
escondem as sirenes e buzinas
os gritos dos gatos o canto dos bêbados
as construções apagam a lua
espantam o vento
silenciam os poetas
as montanhas são dilaceradas dinamite e cimento
a cidade que era minha
vai embora de mim
espalha pó nos cabelos embaça meus olhos
e deixa um gosto estranho na saliva
a cidade é outra
eu sou outra
mas ainda posso ver através da fumaça do cigarro
um sol pálido
que começa a nascer
segunda-feira, abril 28, 2014
dias doces
arte: rascunho para tela/ rafael godoy
queria ser o que não fui
mas sou o passado
com o corpo podre e gasto
ainda gosto de abrir a janela
e sentir as manhãs frias de abril
me batendo na cara, nos cabelos
e ver meus gatos brincando no sol
ainda posso ouvir os stones
dylan miles tom e chico no sofá de casa
fumar o meu cigarro sem grilhões
e beber meu vinho sossegadamente
parece que o caminho para a morte
pode ser mais doce em dias como esses
com o corpo podre e gasto
ainda gosto de abrir a janela
e sentir as manhãs frias de abril
me batendo na cara, nos cabelos
e ver meus gatos brincando no sol
ainda posso ouvir os stones
dylan miles tom e chico no sofá de casa
fumar o meu cigarro sem grilhões
e beber meu vinho sossegadamente
parece que o caminho para a morte
pode ser mais doce em dias como esses
segunda-feira, abril 14, 2014
apelo
arte: rafael godoy
traz para mim os dias que não vivi
todas as noites perdidas
e o sorriso que não tenho mais
vai lá e busca o que me cure
sem que doa ou que arda
apenas que alivie
encontre o que deixei cair na estrada
os poemas esquecidos nas gavetas
e as músicas que não ouço mais
molhe os pés no mar
porque aqui só há montanhas
e jogue uma flor pra iemanjá
deixe seu cheiro espalhado
compre uma garrafa de champanhe
velas amarelas e incensos de baunilha
estou aqui do outro lado e juro
tem uma lua enorme no céu da cidade
todas as noites perdidas
e o sorriso que não tenho mais
vai lá e busca o que me cure
sem que doa ou que arda
apenas que alivie
encontre o que deixei cair na estrada
os poemas esquecidos nas gavetas
e as músicas que não ouço mais
molhe os pés no mar
porque aqui só há montanhas
e jogue uma flor pra iemanjá
deixe seu cheiro espalhado
compre uma garrafa de champanhe
velas amarelas e incensos de baunilha
estou aqui do outro lado e juro
tem uma lua enorme no céu da cidade
sábado, março 22, 2014
marcha à ré
eles
estão voltando e vão marchar pela volta da ditadura, pela volta da mais
terrível desigualdade social, pela volta da tortura nos porões sujos da
repressão. eles vão continuar perseguindo gays, negros, pobres que
julguem suspeitos ou qualquer um que pareça comunista ou
revolucionário. eles vão marchar em nome de deus, em nome da família e
vão amarrar nossas conquistas e nossos sonhos nos postes
e vão querer escarrar na nossa cara e vão querer nos chutar, espancar,
nos virar de cabeça pra baixo e prender nossa voz , vão querer que os
excluídos continuem excluídos e vão massacrar os nordestinos, os
desvalidos, os miseráveis. eles não vão deixar que o porteiro que
trabalha em seu condomínio viaje no mesmo avião que eles, não vão
repartir o bolo, vão se lambuzar só eles e varrer a sujeira pra debaixo
do tapete. eles estão voltando e minha angústia, o meu espanto, e a
minha indignação também. eles vão queimar os livros que achem perigosos e
invadir os computadores e fazer uma grande fogueira. aí, meu amigo, os
demônios virão e se sentirão em casa. e vão dançar sobre nossos corpos
feridos, vão pisotear nossos cadáveres e vomitar na nossa cara. e então
eles dirão que fizeram justiça e vão lamber as mãos sujas dos generais.
fiquemos atentos, há muitos lobões azedos, azeredos e azevedos. há
muitos jabores, garcias , castanhedes e mainards. há muitas sherazades,
leitão e leitoas enfurecidas. fiquemos atentos, olhos, ouvidos e
corações alertas. ainda há esperança, ainda há a poesia, a arte, a
música e há um país e um sonho que não podemos esquecer nunca. fiquemos
atentos. muito atentos.
sexta-feira, março 21, 2014
em que mares?
em que mares, em que ruas, em que partes mais remotas do mundo você se escondeu?
há quantas andam suas ideias de como seria o mundo ou o fim dele?
o mundo não acabou, você não acabou e eu estou acabada
quase morta
em que sonhos se meteu que eu não estou neles?
ficava te olhando como vendo um filme
e quando você dava o primeiro trago era um delírio
e eu ia olhando a fumaça como um incenso mágico
e eu ia te vendo como um deus na neblina
agora vem uma tristeza lá do fundo e eu não consigo mais lembrar
nem pensar que você não vem mais
há quantas andam suas ideias de como seria o mundo ou o fim dele?
o mundo não acabou, você não acabou e eu estou acabada
quase morta
em que sonhos se meteu que eu não estou neles?
ficava te olhando como vendo um filme
e quando você dava o primeiro trago era um delírio
e eu ia olhando a fumaça como um incenso mágico
e eu ia te vendo como um deus na neblina
agora vem uma tristeza lá do fundo e eu não consigo mais lembrar
nem pensar que você não vem mais
quinta-feira, março 20, 2014
saturno
saturno na lente mágica
as retinas prenhas
os anéis que tu me deste
nesta noite clara
não eram de vidro
mas quebraram a monotonia
e me tornaram por um segundo
a noiva do universo
terça-feira, fevereiro 25, 2014
só assim
não sabia por que, quando o dia anoitecia, uma angústia louca tomava seu peito com força.
ficou por uns bons momentos olhando o pôr-do-sol, olhando a sombra de um pássaro na luz quase morta da tarde.
e cada vez mais queria que tivesse só a noite, só o escuro, só o som das pessoas indo embora ou entrando nos bares.
e cada vez mais queria que ela aparecesse no meio da escuridão e lhe dissesse que estava tudo bem, que essa sensação iria passar.
queria que ela mexesse em seus cabelos e que ele pudesse enfiar a cara nos seus peitos e sentir o perfume que não sentia há muito tempo.
queria que ela falasse do último filme que viu e da música que ela gostava de dançar.
queria que ela bebesse com ele até a última gota e o seduzisse de todas as maneiras, mesmo que fosse mentira, mesmo que fosse só nesse fim de tarde.
só assim ele teria um pouco de paz, só assim ele não teria que fechar as cortinas todas as manhãs até que finalmente a noite viesse.
queria que ela falasse do último filme que viu e da música que ela gostava de dançar.
queria que ela bebesse com ele até a última gota e o seduzisse de todas as maneiras, mesmo que fosse mentira, mesmo que fosse só nesse fim de tarde.
só assim ele teria um pouco de paz, só assim ele não teria que fechar as cortinas todas as manhãs até que finalmente a noite viesse.
quarta-feira, fevereiro 19, 2014
há um
clima de conspiração nos rodeando. há uma torcida pra que tudo dê
errado no país. há a pressão dos eua pra não deixar o país respirar sem
seus grilhões. há a intenção clara e forte de desmoralizar a venezuela,
cuba e todos que ousam enfrentar o tio sam. há uma corrente do mal à
direita e dos desavisados que têm orgasmos múltiplos cada vez que uma
notícia alarmante chega na grande mídia. há os
que clamam por um governo militar, que têm saudade dos generais. há os
que vomitam sua (in)verdades na nossa cara todos os dias, todos os
minutos e têm como seus arautos mainards, reinaldos azevedos, datenas,
boners e jabores. há os que clamam por prender os corruptos quando eles
se corrompem todos os dias, nas coisas mais triviais. há os que defendem
o uso da tortura e de violência contra os ladrões nossos de cada dia,
mesmo que seja por milícias ou grupos de justiceiros de classe média
alta. há os que defendem a pena de morte. há os que pregam em nome de
jesus e se lambuzam nos preconceitos, subornos, humilhações,
promiscuidades e roubam dos ignorantes o pouco que têm.
mas há ainda os que acreditam que dias melhores virão, que é possível um país, que é possível acreditar. e eu quero estar no meio deles.
mas há ainda os que acreditam que dias melhores virão, que é possível um país, que é possível acreditar. e eu quero estar no meio deles.
segunda-feira, fevereiro 10, 2014
esse dia de verão
o peso do sol nas ruas
o cheiro da chuva que nunca vem
o despertar involuntário
o gosto do café rápido na língua
a vida esquecida em alguma esquina
o dia escorrendo pelos olhos
o sangue secando lentamente
o coração sempre no mar
o pôr-do-sol como um inferno indo embora
sexta-feira, dezembro 27, 2013
como um trem
tem aquela sensação de que o ano novo não seja tão novo e que tudo vai ficar do jeito de sempre. tem aquela esperança de que algo mude no planeta. tem a manhã em que você acorda e acredita que tudo pode dar certo. tem um aperto no peito quando você pensa em coisas ruins que podem acontecer com as pessoas mais queridas. tem uma alegria genuína quando você sabe que vai encontrar alguém que te faz tanta falta. tem uma tristeza latente quando você vê a desumanidade cravejada todo dia na sua cara. tem aquele medo de pensar que você pode ser feliz de verdade e de que isso não seja verdade. tem uma frase que você lê ou um poema que te fazem ganhar o dia. tem um sonho escondido debaixo do travesseiro. tem a vida que está batendo na sua porta mas você não deixa entrar. tem uns olhos e um sorriso que você nunca esquece. tem a cerveja que você toma com os amigos. tem a música que você ouve e o vento na janela. tem aquela vontade de que o ano novo seja verdadeiramente lindo como um trem que se movimenta tranquilo e furioso sobre os velhos trilhos.
sábado, dezembro 21, 2013
desenho: carcarah
de noite veio um bêbado
andando no meio da rua escura e chuvosa
trombou numa árvore enfeitada de luzes de natal
ficou olhando aquele pisca-pisca
e imaginou na sua garrafa uísque bom quando era pinga ruim
pensou que tivesse em outro país
começou a cantar em inglês uma velha canção
viu neve onde havia chuva fina
um cão perdido de rua era sua rena
adormeceu sorrindo
e de manhã já era natal
andando no meio da rua escura e chuvosa
trombou numa árvore enfeitada de luzes de natal
ficou olhando aquele pisca-pisca
e imaginou na sua garrafa uísque bom quando era pinga ruim
pensou que tivesse em outro país
começou a cantar em inglês uma velha canção
viu neve onde havia chuva fina
um cão perdido de rua era sua rena
adormeceu sorrindo
e de manhã já era natal
sexta-feira, dezembro 13, 2013
nem que seja por um breve momento
arte: ricardo ferrari
dei de ser melancólica perto do natal
e eu que fugia disso terrivelmente
me vejo postando músicas e poemas para amigos
como se uma árvore de natal inteira
tivesse atravessado minha garganta
eu que odeio papai noel e shoppings
me vejo com um sentimento contaminado
e impróprio
mas querendo imensamente
que todos os meus amigos e minha família
sejam imensamente inundados
nem que seja por um breve momento
de uma alegria incomensurável
como se uma uma dose gigante de morfina
tivesse se espalhado fortemente
em seus corações
(embora republicado, continua valendo)
e eu que fugia disso terrivelmente
me vejo postando músicas e poemas para amigos
como se uma árvore de natal inteira
tivesse atravessado minha garganta
eu que odeio papai noel e shoppings
me vejo com um sentimento contaminado
e impróprio
mas querendo imensamente
que todos os meus amigos e minha família
sejam imensamente inundados
nem que seja por um breve momento
de uma alegria incomensurável
como se uma uma dose gigante de morfina
tivesse se espalhado fortemente
em seus corações
(embora republicado, continua valendo)
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