enquanto escrevia ela deslizava em cima do
teclado, e as letras foram aparecendo numa língua desconhecida que
talvez só os gatos entendam. e ela queria chamar minha atenção de
qualquer jeito. miava baixinho e me olhava com aqueles olhos verdes
e infinitos. por um momento parei e fiquei observando essa gata que me
acompanha há 14 anos. chiquinha é o nome dela e está presente em quase
tudo que faço. ela sabe que vou chegar até mesmo antes de mim, me espera
na porta junto com tutuco, meu gato velho e branco. ele talvez seja
minha alma em forma de gato. fiquei pensando nessas coisas de todos os
dias, nessas companhias tão presentes, no meu apartamento com pelos, nas
cadeiras e sofás meio destruídos por causa deles, na ausência de alguns
amigos que têm horror a pelos ou a gatos. fico pensando que eles não
conhecem o mundo lá fora, que a realidade deles é essa mesma e mesmo que
eu deixe a porta aberta, eles só saem até o corredor e voltam rápido. e
parecem que gostam disso aqui. quando ficam na janela olham lá fora com
alguma indiferença a não ser que algum inseto ou pássaro passeie por
ali. aí o instinto é mais forte, a gata em posição de ataque, os pelos
arrepiados, olhos paralisados e, se der, dá o bote. o velho gato branco
se esconde diante de qualquer presença estranha, mesmo que seja uma
formiga ou qualquer pessoa desconhecida. enquanto escrevo eles estão
aqui ao meu lado, esperando alguma coisa, algum sinal. mas eles sabem
que estou aqui e eu sei que eles estão por perto. a gente vai
envelhecendo junto e a gente sabe que não vai durar muito.
2 comentários:
Que fofa!
Eles realmente nos acompanham e nos amam com um amor incondicional. vivem com seus instintos aguçados e, por falta da clareza como a nossa, ainda se encontrem nessa condição limitada. um dia, quem sabe, chegarão a ser como nós.
Que possamos deixar também nossos instintos falarem mais alto sem que nos dominem.
Grande abraço
www.lucadantas.blogspot.com.br
Obrigada, Lu Dantas, um grande abraço.
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