sábado, junho 15, 2013

e quando vier o dia

e quando vier o dia
os homens estarão feridos
as crianças tristes e perdidas
e estupefatas as mulheres

quando vier o dia
ficarão pássaros com asas queimadas
e o grito insano da cidade

estaremos sedados
a noite e o país em pedaços
melhor fechar as janelas
e não ouvir

mas é mais forte o grito das gentes
mais forte que todo o gás que faz chorar
e  que todas as balas de borracha que ferem

queremos não ver queremos não ouvir
mas a alma não sossega
e chora por esse país  por essa gente
e torce por esse país  e por essa gente

e alguns dirão que não há guerra
melhor fechar as janelas


                                                      (texto republicado e muitíssimo alterado)

segunda-feira, junho 10, 2013

a cidade é outra

visto de cinza a cidade
as ruas têm prédios demais
e eles não se cansam de criar outros a cada dia
as britadeiras perfuram minha cabeça
 escondem as sirenes e buzinas
os gritos dos gatos o canto dos bêbados
as construções apagam a lua  espantam o vento
 silenciam os poetas
as montanhas são dilaceradas dinamite e cimento
a cidade que era minha
vai embora de mim
espalha pó nos cabelos embaça meus olhos
e deixa um gosto estranho na saliva
a cidade é outra
eu sou outra
mas ainda posso ver através da fumaça do cigarro
um sol pálido que começa a nascer

quinta-feira, junho 06, 2013

A noite de Heitor

De algum lado da cidade vinha um frio estranho para essa época do ano. Heitor abriu a janela, a pequena janela do seu quarto fedido e imundo. Colocou o rosto para fora e sentiu um vento meio de lado, que não parecia pertencer àquele lugar. Olhou para cima, para baixo, para os lados e viu que não tinha ninguém nas outras janelas, só ouviu um ruído, quase como um sopro. Lembrou-se da noite que tinha tido com uma mulher. Uma noite quente, extremamente, quente. Os lençóis estavam fora do colchão, e havia restos de uísque nos copos, pontas de cigarro nos cinzeiros e um cheiro de quase morte. No chão, além da calça jogada, um batom sem a tampa, um papel de chocolate. Entrou no chuveiro e deixou que a água quente inundasse seu corpo, sua alma. O vapor condensava-se no espelho da pia. Heitor passou a toalha no espelho e o que viu o assustou. Era um outro homem o que estava ali: mais velho, mais cansado, mais triste. A última imagem que tinha de si não era essa. Pegou o aparelho de barbear, ensaboou o rosto e fez a barba. Entrou debaixo do chuveiro e ficou algum tempo se limpando com o sabonete de erva-doce que alguém havia lhe dado. Enxugou-se com uma toalha limpa. Ao abrir a porta da sala, notou um bilhete debaixo da porta. Era dela, de Valeska, a mulher da noite. Uma lufada de ar gelado rompeu pela porta e o envolveu. Ficou ali parado, olhando o vazio do corredor.

quinta-feira, maio 30, 2013

quero um amigo só hoje que tome cerveja comigo e diga que nem tudo está perdido. que atravesse a tarde falando besteiras e rindo de coisas bobas. que me ajude a passar pro outro lado da rua e tenha um isqueiro pra acender meu cigarro e não se importe com a fumaça. só hoje quero esse amigo que nesse dia cinza e frio me empreste um casaco que esquente minha alma. só hoje quero um amigo que diga aqueles versos que fazem a diferença e ouça aquela música que só eu gosto. que quando meu time fizer gol grite mais alto que eu e exploda de alegria. que entenda o que eu digo sem eu ter que fazer força. hoje quero esse amigo que anda escondido em algum lugar da cidade, que não sabe que quero ele perto, bem perto.

segunda-feira, maio 27, 2013

como é que a gente fica assim nesse intervalo entre a segunda e o resto dos dias? como que a gente ultrapassa esse abismo mortal que insiste em apertar o peito e deixa o coração batendo esquisito? tá bom, você pode ouvir a música certa e observar os gatos brincando com a sombra da persiana. você pode pensar em não ir ao trabalho e tomar cerveja durante o dia ou ver um filme tipo b e ler todos os textos que não leu durante a outra semana ou simplesmente tomar dois dormonids e dormir durante dois dias e meio. mas aí se lembra que a geladeira está vazia e que tem uma porrada de coisas pra fazer. que o telefone toca e estão te oferecendo uma viagem incrível e que ainda não viu o amigo que chegou de longe. você se lembra que a sua cabeça não é a mesma de quanto você podia fazer isso e ficar sem culpa. e inevitavelmente chega à conclusão de que você está velha e cansada e que a vida te venceu pelo menos nessa segunda-feira.
                                                                                (republicado)

sexta-feira, maio 24, 2013

CÓDIGO DA VIDA

SE LEONARDO DÁ VINTE
PEDRO DÁ DEZ
MIGUEL DÁ CINCO
VOCÊ NÃO DÁ NADA!

QUE TIPO DE HOMEM
PENSA QUE É?
VAI DAR COM OS BURROS N'ÁGUA!
MISERÁVEL, FILHO DA PUTA!

quarta-feira, maio 22, 2013

mil noites e um abismo

 
 
arte: rafael godoy
você precisaria de mil noites pra começar a me entender
pra sentir a lua e o gosto da cerveja descendo como um rio doce na garganta

você precisaria de mil dedos pra me tocar
e talvez nem alcançasse o ponto mais primitivo do prazer

você precisaria de atravessar estradas curvas e escuras
pra saber a cor do vento e a intensidade dos pássaros noturnos 

você precisaria ficar à beira de mil abismos
pra entender que nossos abismos são os mais profundos e quase inatingíveis

você precisaria ouvir  as canções mais viscerais
e saber que um poema pode mudar sua cabeça previsível
 
você precisaria  saber que quando estamos com  amigos de verdade
podem aparecer estrelas cadentes nos olhos

cara, mas você não sabe nada
não sabe nada

sábado, maio 18, 2013

estamos atrasados

                              arte: rafael godoy
  
estamos atrasados, meu amor
o rio já correu
o sol já se foi
e o dia ainda não foi embora

perdemos a noite escura
mais negra que os olhos do diabo
perdemos a hora de dançar com as árvores
com seus galhos como as mãos da morte

o vento está morno e fraco
as flores não têm cheiro
perdemos o trem
que atravessa a cidade
não vamos a lugar nenhum
o tempo já passou

ficamos aqui de mãos dadas
como duas crianças perdidas
as ruas são longas
e estreitas as esquinas

estamos atrasados, meu amor
o mundo esmaga os nossos sonhos
lentamente, irreversivelmente








sábado, maio 11, 2013

o que vou deixar para os meus filhos?




arte: ricardo ferrari

o que vou deixar para meus filhos?
há mães que deixam fotos organizadas em álbuns.
há mães que deixam uma conta na poupança para o futuro deles.
há mães que dão exemplo de uma vida serena e comportada.

o que vou deixar para os meus filhos?
algumas fotos coladas sem ordem , alguns cedês,
algumas histórias esquisitas, tristes ou engraçadas,
alguns livros que provavelmente não vão ler,
uma infância linda em um tempo de quintais,
alguma tristeza de não os ter amado como precisavam.

o que vou deixar para meus filhos?
um olhar que está nos olhos deles,
um jeito tímido de sorrir,
uma foto minha na parede,
e a certeza de que são a melhor coisa que deixei.  

(republicado)

terça-feira, maio 07, 2013

Pessoal, tem uns poemas meus aqui neste site feito por alguns poetas! Confiram lá! O espaço é muito bacana! http://sociopoetasvivos.blogspot.com/2013/05/adriana-godoy.html?spref=fb

segunda-feira, maio 06, 2013

quando vim ontem pela rua

                                                                   arte: rafael godoy

quando vim ontem pela rua vi um cachorro morto. fiquei olhando para ele imaginando como teria sido a sua vida de cachorro. então lembrei da minha vida e vi que não era muito diferente.me vi morta com a cabeça no passeio e o resto do corpo na rua. imaginei outro cachorro me cheirando com o focinho frio e o bafo quente. vi que ele saiu correndo, como quem corre do diabo.


(republicado)

quinta-feira, abril 25, 2013





Hoje é o aniversário de minha mãe. 88 anos. E faz  mais de dois anos que ela está  se alimentando através de sonda, respirando pela máquina, sem falar, sem nunca mais falar. No entanto, seus olhos brilham e nos dizem coisas que não sabemos o que é, mas sentimos forte, muito forte.
Mamãe continua imóvel numa cama e é aniversário dela. Não sei se sabe que hoje é seu dia. Talvez ela pense na família, na grande família em volta da mesa ou espalhada pela casa, na música, nos risos, nos abraços, no amor e na solidão de cada um de seus filhos. Seus oito filhos. Talvez pense no seu companheiro que já se foi há muito tempo. Talvez sua festa seja em outro lugar. Um lugar que não podemos alcançar. Hoje é aniversário de minha mãe e não sei comemorar. Não consigo comemorar. Só sei dizer do amor que tenho por ela pra sempre.

terça-feira, abril 23, 2013

vem com aquele papo que todo político não presta com aquele discurso da globo que os eua são mais importantes que essa gente que passa  todo dia em sua rua às seis da matina pra pegar o ônibus e pegar a vida por mais um dia. eles dizem que os eua são mais importantes que todos países da américa latina e todos os países do mundo e podem insistir que o vencedor da eleição na venezuela  não é legítimo porque o candidato não é o que eles querem. os eua podem inventar uma guerra e destruir um país porque eles precisam do petróleo e matam e dizimam e torturam em nome da democracia. ensinam a guerra e vendem armas e vendem sua ideologia de terror e os culpados são dois jovens e todos os árabes muçulmanos latinos brancos amarelos negros vermelhos que ousem desafiá-los. você vem com esse papo que eles estão certos que a bomba que explode lá é mais importante que a fome na áfrica. que a o jeito que eles lidam com o resto do mundo é mais que justo. que eles não conseguem dormir mais sem pensar no inimigo que está á espreita e podem atacar a qualquer momento. que os eua são mais importantes que a noite que vem com estrelas que o vento que sopra em sua janela nessa manhã fria e clara de abril. você vem e eu queria que meu país fosse mais igual que em cada esquina tivesse mais livrarias e que todas as  pessoas pudessem ler e sentir a poesia que está escondida em cada beco em cada casa em cada ato de amor ou de solidão. que as pessoas pudessem tomar mais vinho mais uísque e pudessem fumar o seu cigarro sem grilhões. que as ruas tivessem mais teatros e cinemas e bares. que mainards jabores azevedos felicianos fossem espécies em extinção. que os poetas fossem ouvidos que houvesse mais bortolottos  kerouacs e leminsks.  que chico e os stones fossem eternos e que  essa música que toca pudesse trazer algum tipo de paz.

quarta-feira, abril 17, 2013

quero a noite




arte: rascunho de mulher/ rafael godoy


ainda que o corpo clame
sinto em mim um deserto morno
a luz que bate de manhã e me faz fechar a cortina
tenta entrar pela fresta de outra janela
os projetos em cima da escrivaninha me olham
os livros que não consegui ler empilhados
e bananas apodrecendo na fruteira
ontem dormi em outra cama
e ouvi : amor, quer café ou suco?
hoje ouço os carros e as pessoas indo pro trabalho
e sei que breve estarei lá misturada nas ruas e nas pessoas
as notícias mais terríveis a desumanidade
as atrocidades sem medida as tragédias
os deuses devem estar dormindo há séculos
esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar

domingo, abril 14, 2013

pássaro noturno

 
 
 
 
 
venho te dizer que não  preciso mais de seu sorriso claro
nem de seus olhos úmidos quando se despede
acordei antes do dia e vi alguns pássaros noturnos procurando  luz
quando a manhã chegou, desapareceram
descobri que sou um pássaro sem canto e sem asas
preciso ficar no escuro algum tempo
quando o inverno chegar talvez saia com o frio
e me esconda debaixo de blusas negras e quentes
não tem espaço pra você, meu amor
sua alegria não pode se perder em mim
nem sua juventude enroscar-se na minha pele gasta
sou um pássaro noturno e preciso do escuro
não mais de seu brilho nem  de sua beleza

sábado, abril 06, 2013

Ora direis





 

Havia 25 milhões de estrelas aquela noite. Foi o que consegui contar. Apertava meus olhos com força para ver se não estava imaginando coisas. Mas não adiantava. Elas se mexiam. Na minha visão míope pareciam bailarinas ensandecidas. Era como dançassem uma dança meio triste, meio azul. As estrelas falavam. O Bilac não saía de minha cabeça: " Ora direis ouvir estrelas, certo perdeste o senso"... E eu as ouvia sim, nitidamente, intimamente. E com medo de mim, fechei a janela. Mas pela fresta, ainda percebia um movimento silencioso daqueles olhos brilhantes, daqueles milhões de olhos brilhantes me olhando.

terça-feira, abril 02, 2013

lobos



 
 



quando lobos da cidade com seus olhos de neon
sobem solitários a ladeira fria do bairro
mesmo que não tenha lua e a noite seja de ventos
pensam em suas vidas na fumaça e no uísque que deixaram nos bares
nas mulheres que beijaram e juraram ser únicas
pensam que amanhã pode ser diferente mesmo sabendo que não
entram em casa e olham suas mulheres
dormindo amassadas e quase puras e os filhos no quarto ao lado

esses lobos viram anjos subitamente
vestem a camiseta branca e escovam os dentes
como se fossem limpar os restos do pecado
desejam bons sonhos em silêncio
se enroscam em suas mulheres sob o edredon macio

à noite se esquecem e voltam aos lugares perdidos
beijam mais mulheres e bebem mais uísque
marcam seu território com mãos, línguas e histórias inventadas
e a lua aparece azulada e tímida
esses lobos uivam e seus olhos são de neon 

(republicado)

sexta-feira, março 29, 2013

insônia




arte: rafael godoy

a noite inútil não terminava nunca
o sono vinha mas os olhos não fechavam
vi assombrações nos rodapés das paredes do quarto
espremidas cor de barro querendo sair
faziam sons estranhos e se moviam
criaturas horríveis desfiguradas

se cresse talvez rezasse
mas nada saía de mim
apenas o medo um frio medonho
uma imobilidade assustadora

os seres pareciam conversar
sei que alguns saíram
e deram voltas em minha casa
rodearam minha cama
nem meus gatos apareceram
se esconderam em algum armário
se acovardaram

mas finalmente chegou a manhã
fechei os olhos
dormi com a cortina aberta
o sol sobre mim

domingo, março 24, 2013

vejo-o fazendo café

                   arte: rafael godoy


trago a vida entalhada em contas papéis livros
lembro quando via sessão da tarde e a tarde não passava nunca
hoje as tardes passam e não vejo
a noite vem como o dia
a noite é a mesma
mesmo quando você vem e diz que me ama
então olho o homem que atravessa a rua
e está com flores na mão
o livro que li há dez anos
vai ser o mesmo se o ler hoje?
vejo-o fazendo café
e a minha angústia costurada em seu pijama
e a vontade desesperada de fugir


quinta-feira, março 21, 2013

um brinde à mediocridade

hoje brindo à mediocridade que insiste em permear minha vida. brindo sem bebida, sem alegria, sem orgulho, mas com uma puta melancolia e tédio. o que salva são os amigos, o que salva é a arte de cada um. essa vida tem hora que é foda. nos consome e some com os sonhos de maneira ardilosa, mesmo os mais rasos. sou professora sim. não sei se escolhi isso, mas até hoje tenho levado e pasmem, gosto disso. porém, há muito que não acredito na educação. há muito não acredito nesse sistema podre e furado, injusto, cruel em que não se investe de fato nos profissionais dessa área, nos alunos, nas escolas. muita coisa mudou. está mudando, mas meu tempo não permite que eu tenha alguma esperança. quantas greves já fiz e ainda faço? até quando terei que lutar por uma coisa que deveria ser valorizada pra caralho. saí da rede particular por opção. o sistema é terrível. não vale a pena expor todos os aspectos, acho que a maioria tem alguma noção. mas só quem está dentro de uma sala de aula é que sabe realmente o que é essa merda toda. os alunos são a melhor parte, podem acreditar. por que permaneço? por uma questão de sobrevivência mesmo. e talvez por não saber fazer outra coisa. então, brindemos, senhores e senhoras, à mediocridade da sobrevivência. pode ser que hoje quando for à escola, alguma coisa aconteça e eu pense diferente.

quarta-feira, março 20, 2013

noite de outono




 arte: rafael godoy


as luzes da cidade acenderam a noite
e estou do outro lado

penso quando não pensava no tempo
e tinha sempre uma lua inventada

os pássaros escuros varrem os insetos
este espaço é muito vasto

o vento de outono entra no meu quarto
e não ouço o seu barulho
e sinto suas mãos frias
e a noite acesa do outro lado

me escondo no escuro
e a imensidão fica pequena

quero fechar as janelas
mas a lua é imensa
levanto-me no vento
e me curvo às suas frases de pedra

quinta-feira, março 14, 2013

esse é o dia



  arte: rafael godoy

esse é o dia que talvez corra perigo
de dar voltas sobre meu corpo e em volta da mesa
de não saber direito olhar a lua
de não achar o livro que me deu de aniversário

esse é o dia de cortar os cabelos e pintar as unhas
de não saber dizer não quando devia
de fingir acreditar em seus olhos
de olhar debaixo da cama e encontrar o pé sumido da sandália

esse é o dia de ler horóscopos rasos e tarôs
e pensar que tudo vai dar certo no fim do dia
de incendiar o corpo e gelar sorrisos
de dizer o que ontem seria mentira

segunda-feira, março 04, 2013

Encontro Desmarcado






 Toda vez que penso em ir a um médico me desespero. E hoje vou ter que ir. Não dá pra adiar o inevitável. O ano inteiro enrolo; marco, não vou, invento desculpas, qualquer uma. Mas hoje não escapo. Sou mulher, porra. Tenho que fazer aquele exame ginecológico. Esperar no consultório, ler aquelas revistas horríveis, ver mulheres entrando e saindo. Enquanto espero, imagino várias maneiras de fugir dali. Nesses devaneios, a secretária chama meu nome.Não, não, não!! Mas é tarde. Não tem mais jeito. Quando entro, a médica com todas aquelas perguntas a que não quero responder: Continua fumando, tá fazendo dieta? Parou de beber? Olha o colesterol!! Tá no limite! Precisa fazer reeducação alimentar, você está acima do peso.Tento contornar e digo que vou tentar, desta vez, vou conseguir. Então, ela diz: Pode pôr o avental e se deitar. Então, olho para a mesa, uma cama de tortura. Dois apoios para o pé, distantes, opostos. O avental é aberto na frente. Tenho que abrir, literalmente, as pernas. Fico dura como um tronco. Travo. ! Em outras situações isso é natural! Mas não é o caso! Sinto algo frio entrando em meu ventre. Aquele instrumento gelado de metal, o gel, a barriga sendo apalpada, agora os seios examinados, tocados. Finalmente, ela diz: Pode se vestir. Corro pro banheiro, ponho a roupa o mais depressa que posso. Quero sair voando dali. Tenho um encontro com um amigo, em um boteco, ali perto. Mais tarde, quem sabe, vou ter que tirar a roupa de novo, outra situação. Relembro a consulta. Talvez o encontro fique para outro dia.

(republicado)

quinta-feira, fevereiro 28, 2013

sem assobio

 
 

 
 
arte: rafael godoy
 
tennho que te dizer que a lua está linda, imensa
as palavras agitam a minha cabeça
não se encontram, não são amigáveis
uma garrafa com café já velho, um cigarro pra acender
essa tela brilhante do computador, a minha lua
nessa noite os gatos estão em silêncio
um assobio calmo e afinado destoa-se do resto da cidade
é esse assobio que me faz pensar
o homem do assobio não sabe que olho para ele da minha janela
não sabe a força de seu assobio
não sabe que sua paz incomoda
penso um jeito de parar com isso
assim a música acabaria
assim tudo ficaria igual
sem assobio, sem nada 
 
(republicado)

terça-feira, fevereiro 26, 2013

sem noção



não sei em que apuros me meti ou que merda fiz, mas quando vi você com essa cara linda e charmosa sob a luz dessa lua cheíssima, pulei em seu pescoço e dei o maior, o mais sensual, o mais gostoso beijo da minha vida. pena que sua mulher estava perto.

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

eclipse


hoje nasci há muitos anos
talvez  houvesse um eclipse
ou só meia lua no céu
ontem olhei a lua
e vi a sombra da terra
e vi a sombra de mim

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

chamado

arte: rafael godoy

imagino-te louco lobo devasso
quando chega a noite e a lua entretanto
cordeiro manso e frio na cama
me pego então a contar estrelas
no céu da boca a língua saliva
febre insana no corpo que treme

na rua lobos me chamam
estou pronta para saltar muros
e atravessar paredes

(republicado)

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

irreversível

não tire de mim o encanto desse dia
ainda que seus olhos me implorem
e seu corpo se ausente
as lembranças são minhas
e você não pode fazer mais nada
quando a noite me engolir de vez
é esse dia que lembrarei
e você não pode fazer mais nada
mais nada