quinta-feira, maio 30, 2013
segunda-feira, maio 27, 2013
como
é que a gente fica assim nesse intervalo entre a segunda e o resto dos
dias? como que a gente ultrapassa esse abismo mortal que insiste em
apertar o peito e deixa o coração batendo esquisito? tá bom, você pode
ouvir a música certa e observar os gatos brincando com a sombra da
persiana. você pode pensar em não ir ao trabalho e tomar cerveja durante
o dia ou ver um filme tipo b e ler todos os textos que não leu durante a
outra semana ou simplesmente tomar dois dormonids e dormir durante dois
dias e meio. mas aí se lembra que a geladeira está vazia e que tem uma
porrada de coisas pra fazer. que o telefone toca e estão te oferecendo
uma viagem incrível e que ainda não viu o amigo que chegou de longe.
você se lembra que a sua cabeça não é a mesma de quanto você podia fazer
isso e ficar sem culpa. e inevitavelmente chega à conclusão de que você
está velha e cansada e que a vida te venceu pelo menos nessa
segunda-feira.
(republicado)
sexta-feira, maio 24, 2013
CÓDIGO DA VIDA
SE LEONARDO DÁ VINTE
PEDRO DÁ DEZ
MIGUEL DÁ CINCO
VOCÊ NÃO DÁ NADA!
QUE TIPO DE HOMEM
PENSA QUE É?
VAI DAR COM OS BURROS N'ÁGUA!
MISERÁVEL, FILHO DA PUTA!
PEDRO DÁ DEZ
MIGUEL DÁ CINCO
VOCÊ NÃO DÁ NADA!
QUE TIPO DE HOMEM
PENSA QUE É?
VAI DAR COM OS BURROS N'ÁGUA!
MISERÁVEL, FILHO DA PUTA!
quarta-feira, maio 22, 2013
mil noites e um abismo
arte: rafael godoy
você precisaria de mil noites pra começar a me entender
pra sentir a lua e o gosto da cerveja descendo como um rio doce na garganta
você precisaria de mil dedos pra me tocar
e talvez nem alcançasse o ponto mais primitivo do prazer
você precisaria de atravessar estradas curvas e escuras
pra saber a cor do vento e a intensidade dos pássaros noturnos
você precisaria ficar à beira de mil abismos
pra entender que nossos abismos são os mais profundos e quase inatingíveis
você precisaria ouvir as canções mais viscerais
e saber que um poema pode mudar sua cabeça previsível
você precisaria saber que quando estamos com amigos de verdade
podem aparecer estrelas cadentes nos olhos
cara, mas você não sabe nada
não sabe nada
sábado, maio 18, 2013
estamos atrasados
arte: rafael godoy
estamos atrasados, meu amor
o rio já correu
o sol já se foi
e o dia ainda não foi embora
perdemos a noite escura
mais negra que os olhos do diabo
perdemos a hora de dançar com as árvores
com seus galhos como as mãos da morte
o vento está morno e fraco
as flores não têm cheiro
perdemos o trem
que atravessa a cidade
não vamos a lugar nenhum
o tempo já passou
ficamos aqui de mãos dadas
como duas crianças perdidas
as ruas são longas
e estreitas as esquinas
estamos atrasados, meu amor
o mundo esmaga os nossos sonhos
lentamente, irreversivelmente
o rio já correu
o sol já se foi
e o dia ainda não foi embora
perdemos a noite escura
mais negra que os olhos do diabo
perdemos a hora de dançar com as árvores
com seus galhos como as mãos da morte
o vento está morno e fraco
as flores não têm cheiro
perdemos o trem
que atravessa a cidade
não vamos a lugar nenhum
o tempo já passou
ficamos aqui de mãos dadas
como duas crianças perdidas
as ruas são longas
e estreitas as esquinas
estamos atrasados, meu amor
o mundo esmaga os nossos sonhos
lentamente, irreversivelmente
sábado, maio 11, 2013
o que vou deixar para os meus filhos?
arte: ricardo ferrari
o que vou deixar para meus filhos?
há mães que deixam fotos organizadas em álbuns.
há mães que deixam uma conta na poupança para o futuro deles.
há mães que dão exemplo de uma vida serena e comportada.
o que vou deixar para os meus filhos?
algumas fotos coladas sem ordem , alguns cedês,
algumas histórias esquisitas, tristes ou engraçadas,
alguns livros que provavelmente não vão ler,
uma infância linda em um tempo de quintais,
alguma tristeza de não os ter amado como precisavam.
o que vou deixar para meus filhos?
um olhar que está nos olhos deles,
um jeito tímido de sorrir,
uma foto minha na parede,
e a certeza de que são a melhor coisa que deixei.
(republicado)
terça-feira, maio 07, 2013
Pessoal, tem uns poemas meus aqui neste site feito por alguns poetas! Confiram lá! O espaço é muito bacana! http://sociopoetasvivos.blogspot.com/2013/05/adriana-godoy.html?spref=fb

Poetas Vivos: Adriana Godoy
sociopoetasvivos.blogspot.com
segunda-feira, maio 06, 2013
quando vim ontem pela rua
arte: rafael godoy
quando vim ontem pela rua vi um cachorro morto. fiquei olhando para ele imaginando como teria sido a sua vida de cachorro. então lembrei da minha vida e vi que não era muito diferente.me vi morta com a cabeça no passeio e o resto do corpo na rua. imaginei outro cachorro me cheirando com o focinho frio e o bafo quente. vi que ele saiu correndo, como quem corre do diabo.
(republicado)
quando vim ontem pela rua vi um cachorro morto. fiquei olhando para ele imaginando como teria sido a sua vida de cachorro. então lembrei da minha vida e vi que não era muito diferente.me vi morta com a cabeça no passeio e o resto do corpo na rua. imaginei outro cachorro me cheirando com o focinho frio e o bafo quente. vi que ele saiu correndo, como quem corre do diabo.
(republicado)
quinta-feira, abril 25, 2013
Hoje é o aniversário de minha mãe. 88
anos. E faz mais de dois anos que ela está se alimentando através de
sonda, respirando pela máquina, sem falar, sem nunca mais falar. No
entanto, seus olhos brilham e nos dizem coisas que não sabemos o que é,
mas sentimos forte, muito forte.
Mamãe continua imóvel numa cama e é aniversário dela. Não sei se sabe que hoje é seu dia. Talvez ela pense na família, na grande família em volta da mesa ou espalhada pela casa, na música, nos risos, nos abraços, no amor e na solidão de cada um de seus filhos. Seus oito filhos. Talvez pense no seu companheiro que já se foi há muito tempo. Talvez sua festa seja em outro lugar. Um lugar que não podemos alcançar. Hoje é aniversário de minha mãe e não sei comemorar. Não consigo comemorar. Só sei dizer do amor que tenho por ela pra sempre.
Mamãe continua imóvel numa cama e é aniversário dela. Não sei se sabe que hoje é seu dia. Talvez ela pense na família, na grande família em volta da mesa ou espalhada pela casa, na música, nos risos, nos abraços, no amor e na solidão de cada um de seus filhos. Seus oito filhos. Talvez pense no seu companheiro que já se foi há muito tempo. Talvez sua festa seja em outro lugar. Um lugar que não podemos alcançar. Hoje é aniversário de minha mãe e não sei comemorar. Não consigo comemorar. Só sei dizer do amor que tenho por ela pra sempre.
terça-feira, abril 23, 2013
vem com aquele papo que todo político não presta com aquele discurso da globo que os eua são mais importantes que essa gente que passa todo dia em sua rua às seis da matina pra pegar o ônibus e pegar a vida por mais um dia. eles dizem que os eua são mais importantes que todos países da américa latina e todos os países do mundo e podem insistir que o vencedor da eleição na venezuela não é legítimo porque o candidato não é o que eles querem. os eua podem inventar uma guerra e destruir um país porque eles precisam do petróleo e matam e dizimam e torturam em nome da democracia. ensinam a guerra e vendem armas e vendem sua ideologia de terror e os culpados são dois jovens e todos os árabes muçulmanos latinos brancos amarelos negros vermelhos que ousem desafiá-los. você vem com esse papo que eles estão certos que a bomba que explode lá é mais importante que a fome na áfrica. que a o jeito que eles lidam com o resto do mundo é mais que justo. que eles não conseguem dormir mais sem pensar no inimigo que está á espreita e podem atacar a qualquer momento. que os eua são mais importantes que a noite que vem com estrelas que o vento que sopra em sua janela nessa manhã fria e clara de abril. você vem e eu queria que meu país fosse mais igual que em cada esquina tivesse mais livrarias e que todas as pessoas pudessem ler e sentir a poesia que está escondida em cada beco em cada casa em cada ato de amor ou de solidão. que as pessoas pudessem tomar mais vinho mais uísque e pudessem fumar o seu cigarro sem grilhões. que as ruas tivessem mais teatros e cinemas e bares. que mainards jabores azevedos felicianos fossem espécies em extinção. que os poetas fossem ouvidos que houvesse mais bortolottos kerouacs e leminsks. que chico e os stones fossem eternos e que essa música que toca pudesse trazer algum tipo de paz.
quarta-feira, abril 17, 2013
quero a noite
arte: rascunho de mulher/ rafael godoy
ainda que o corpo clame
sinto em mim um deserto morno
a luz que bate de manhã e me faz fechar a cortina
tenta entrar pela fresta de outra janela
os projetos em cima da escrivaninha me olham
os livros que não consegui ler empilhados
e bananas apodrecendo na fruteira
ontem dormi em outra cama
e ouvi : amor, quer café ou suco?
hoje ouço os carros e as pessoas indo pro trabalho
e sei que breve estarei lá misturada nas ruas e nas pessoas
as notícias mais terríveis a desumanidade
as atrocidades sem medida as tragédias
os deuses devem estar dormindo há séculos
esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar
sinto em mim um deserto morno
a luz que bate de manhã e me faz fechar a cortina
tenta entrar pela fresta de outra janela
os projetos em cima da escrivaninha me olham
os livros que não consegui ler empilhados
e bananas apodrecendo na fruteira
ontem dormi em outra cama
e ouvi : amor, quer café ou suco?
hoje ouço os carros e as pessoas indo pro trabalho
e sei que breve estarei lá misturada nas ruas e nas pessoas
as notícias mais terríveis a desumanidade
as atrocidades sem medida as tragédias
os deuses devem estar dormindo há séculos
esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar
domingo, abril 14, 2013
pássaro noturno
venho te dizer que não preciso mais de seu sorriso claro
nem de seus olhos úmidos quando se despede
acordei antes do dia e vi alguns pássaros noturnos procurando luz
quando a manhã chegou, desapareceram
descobri que sou um pássaro sem canto e sem asas
preciso ficar no escuro algum tempo
quando o inverno chegar talvez saia com o frio
e me esconda debaixo de blusas negras e quentes
não tem espaço pra você, meu amor
sua alegria não pode se perder em mim
nem sua juventude enroscar-se na minha pele gasta
sou um pássaro noturno e preciso do escuro
não mais de seu brilho nem de sua beleza
sábado, abril 06, 2013
Ora direis
Havia 25 milhões de estrelas aquela noite. Foi o que consegui contar.
Apertava meus olhos com força para ver se não estava imaginando coisas.
Mas não adiantava. Elas se mexiam. Na minha visão míope pareciam
bailarinas ensandecidas. Era como dançassem uma dança meio
triste, meio azul. As estrelas falavam. O Bilac não saía de minha
cabeça: " Ora direis ouvir estrelas, certo perdeste o senso"... E eu as
ouvia sim, nitidamente, intimamente. E com medo de mim, fechei a janela.
Mas pela fresta, ainda percebia um movimento silencioso daqueles olhos
brilhantes, daqueles milhões de olhos brilhantes me olhando.
sexta-feira, abril 05, 2013
Olhem o que o Danilo fez!
http://atipoesia.blogspot.com/2013/04/despalavrares-escrito-para-os-amigos-de.html
http://atipoesia.blogspot.com/2013/04/despalavrares-escrito-para-os-amigos-de.html
terça-feira, abril 02, 2013
lobos
quando lobos da cidade com seus olhos de neon
sobem solitários a ladeira fria do bairro
mesmo que não tenha lua e a noite seja de ventos
pensam em suas vidas na fumaça e no uísque que deixaram nos bares
nas mulheres que beijaram e juraram ser únicas
pensam que amanhã pode ser diferente mesmo sabendo que não
entram em casa e olham suas mulheres
dormindo amassadas e quase puras e os filhos no quarto ao lado
esses lobos viram anjos subitamente
vestem a camiseta branca e escovam os dentes
como se fossem limpar os restos do pecado
desejam bons sonhos em silêncio
se enroscam em suas mulheres sob o edredon macio
à noite se esquecem e voltam aos lugares perdidos
beijam mais mulheres e bebem mais uísque
marcam seu território com mãos, línguas e histórias inventadas
e a lua aparece azulada e tímida
esses lobos uivam e seus olhos são de neon
sobem solitários a ladeira fria do bairro
mesmo que não tenha lua e a noite seja de ventos
pensam em suas vidas na fumaça e no uísque que deixaram nos bares
nas mulheres que beijaram e juraram ser únicas
pensam que amanhã pode ser diferente mesmo sabendo que não
entram em casa e olham suas mulheres
dormindo amassadas e quase puras e os filhos no quarto ao lado
esses lobos viram anjos subitamente
vestem a camiseta branca e escovam os dentes
como se fossem limpar os restos do pecado
desejam bons sonhos em silêncio
se enroscam em suas mulheres sob o edredon macio
à noite se esquecem e voltam aos lugares perdidos
beijam mais mulheres e bebem mais uísque
marcam seu território com mãos, línguas e histórias inventadas
e a lua aparece azulada e tímida
esses lobos uivam e seus olhos são de neon
(republicado)
sábado, março 30, 2013
sexta-feira, março 29, 2013
insônia
arte: rafael godoy
a noite inútil não terminava nunca
o sono vinha mas os olhos não fechavam
vi assombrações nos rodapés das paredes do quarto
espremidas cor de barro querendo sair
faziam sons estranhos e se moviam
criaturas horríveis desfiguradas
o sono vinha mas os olhos não fechavam
vi assombrações nos rodapés das paredes do quarto
espremidas cor de barro querendo sair
faziam sons estranhos e se moviam
criaturas horríveis desfiguradas
se cresse talvez rezasse
mas nada saía de mim
apenas o medo um frio medonho
uma imobilidade assustadora
os seres pareciam conversar
sei que alguns saíram
e deram voltas em minha casa
rodearam minha cama
nem meus gatos apareceram
se esconderam em algum armário
se acovardaram
mas finalmente chegou a manhã
fechei os olhos
dormi com a cortina aberta
o sol sobre mim
domingo, março 24, 2013
vejo-o fazendo café
arte: rafael godoy
trago a vida entalhada em contas papéis livros
lembro quando via sessão da tarde e a tarde não passava nunca
hoje as tardes passam e não vejo
a noite vem como o dia
a noite é a mesma
mesmo quando você vem e diz que me ama
então olho o homem que atravessa a rua
e está com flores na mão
o livro que li há dez anos
vai ser o mesmo se o ler hoje?
vejo-o fazendo café
e a minha angústia costurada em seu pijama
e a vontade desesperada de fugir
lembro quando via sessão da tarde e a tarde não passava nunca
hoje as tardes passam e não vejo
a noite vem como o dia
a noite é a mesma
mesmo quando você vem e diz que me ama
então olho o homem que atravessa a rua
e está com flores na mão
o livro que li há dez anos
vai ser o mesmo se o ler hoje?
vejo-o fazendo café
e a minha angústia costurada em seu pijama
e a vontade desesperada de fugir
quinta-feira, março 21, 2013
um brinde à mediocridade
hoje brindo à mediocridade que insiste em permear minha vida. brindo sem bebida, sem alegria, sem orgulho, mas com uma puta melancolia e tédio. o que salva são os amigos, o que salva é a arte de cada um. essa vida tem hora que é foda. nos consome e some com os sonhos de maneira ardilosa, mesmo os mais rasos. sou professora sim. não sei se escolhi isso, mas até hoje tenho levado e pasmem, gosto disso. porém, há muito que não acredito na educação. há muito não acredito nesse sistema podre e furado, injusto, cruel em que não se investe de fato nos profissionais dessa área, nos alunos, nas escolas. muita coisa mudou. está mudando, mas meu tempo não permite que eu tenha alguma esperança. quantas greves já fiz e ainda faço? até quando terei que lutar por uma coisa que deveria ser valorizada pra caralho. saí da rede particular por opção. o sistema é terrível. não vale a pena expor todos os aspectos, acho que a maioria tem alguma noção. mas só quem está dentro de uma sala de aula é que sabe realmente o que é essa merda toda. os alunos são a melhor parte, podem acreditar. por que permaneço? por uma questão de sobrevivência mesmo. e talvez por não saber fazer outra coisa. então, brindemos, senhores e senhoras, à mediocridade da sobrevivência. pode ser que hoje quando for à escola, alguma coisa aconteça e eu pense diferente.
quarta-feira, março 20, 2013
noite de outono
arte: rafael godoy
as luzes da cidade acenderam a noite
e estou do outro lado
penso quando não pensava no tempo
e tinha sempre uma lua inventada
os pássaros escuros varrem os insetos
este espaço é muito vasto
o vento de outono entra no meu quarto
e não ouço o seu barulho
e sinto suas mãos frias
e a noite acesa do outro lado
me escondo no escuro
e a imensidão fica pequena
quero fechar as janelas
mas a lua é imensa
levanto-me no vento
e me curvo às suas frases de pedra
e estou do outro lado
penso quando não pensava no tempo
e tinha sempre uma lua inventada
os pássaros escuros varrem os insetos
este espaço é muito vasto
o vento de outono entra no meu quarto
e não ouço o seu barulho
e sinto suas mãos frias
e a noite acesa do outro lado
me escondo no escuro
e a imensidão fica pequena
quero fechar as janelas
mas a lua é imensa
levanto-me no vento
e me curvo às suas frases de pedra
quinta-feira, março 14, 2013
esse é o dia
arte: rafael godoy
esse é o dia que talvez corra perigo
de dar voltas sobre meu corpo e em volta da mesa
de não saber direito olhar a lua
de não achar o livro que me deu de aniversário
esse é o dia de cortar os cabelos e pintar as unhas
de não saber dizer não quando devia
de fingir acreditar em seus olhos
de olhar debaixo da cama e encontrar o pé sumido da sandália
esse é o dia de ler horóscopos rasos e tarôs
e pensar que tudo vai dar certo no fim do dia
de incendiar o corpo e gelar sorrisos
de dizer o que ontem seria mentira
de dar voltas sobre meu corpo e em volta da mesa
de não saber direito olhar a lua
de não achar o livro que me deu de aniversário
esse é o dia de cortar os cabelos e pintar as unhas
de não saber dizer não quando devia
de fingir acreditar em seus olhos
de olhar debaixo da cama e encontrar o pé sumido da sandália
esse é o dia de ler horóscopos rasos e tarôs
e pensar que tudo vai dar certo no fim do dia
de incendiar o corpo e gelar sorrisos
de dizer o que ontem seria mentira
segunda-feira, março 04, 2013
Encontro Desmarcado
Toda vez que penso em ir a um médico me desespero. E hoje vou ter que
ir. Não dá pra adiar o inevitável. O ano inteiro enrolo; marco, não vou,
invento desculpas, qualquer uma. Mas hoje não escapo. Sou mulher,
porra. Tenho que fazer aquele exame ginecológico. Esperar no
consultório, ler aquelas revistas horríveis, ver mulheres entrando e
saindo. Enquanto espero, imagino várias maneiras de fugir dali. Nesses
devaneios, a secretária chama meu nome.Não, não, não!! Mas é tarde.
Não tem mais jeito. Quando entro, a médica com todas aquelas perguntas
a que não quero responder: Continua fumando, tá fazendo dieta? Parou de
beber? Olha o colesterol!! Tá no limite! Precisa fazer reeducação
alimentar, você está acima do peso.Tento contornar e digo que vou
tentar, desta vez, vou conseguir. Então, ela diz: Pode pôr o avental e
se deitar. Então, olho para a mesa, uma cama de tortura. Dois apoios
para o pé, distantes, opostos. O avental é aberto na frente. Tenho que
abrir, literalmente, as pernas. Fico dura como um tronco. Travo. Pô!
Em outras situações isso é natural! Mas não é o caso! Sinto algo frio
entrando em meu ventre. Aquele instrumento gelado de metal, o gel, a
barriga sendo apalpada, agora os seios examinados, tocados. Finalmente,
ela diz: Pode se vestir. Corro pro banheiro, ponho a roupa o mais
depressa que posso. Quero sair voando dali. Tenho um encontro com um
amigo, em um boteco, ali perto. Mais tarde, quem sabe, vou ter que tirar
a roupa de novo, outra situação. Relembro a consulta. Talvez o
encontro fique para outro dia.
(republicado)
quinta-feira, fevereiro 28, 2013
sem assobio
arte: rafael godoy
tennho que te dizer que a lua está linda, imensa
as palavras agitam a minha cabeça
não se encontram, não são amigáveis
uma garrafa com café já velho, um cigarro pra acender
essa tela brilhante do computador, a minha lua
nessa noite os gatos estão em silêncio
um assobio calmo e afinado destoa-se do resto da cidade
é esse assobio que me faz pensar
o homem do assobio não sabe que olho para ele da minha janela
não sabe a força de seu assobio
não sabe que sua paz incomoda
penso um jeito de parar com isso
assim a música acabaria
assim tudo ficaria igual
sem assobio, sem nada
as palavras agitam a minha cabeça
não se encontram, não são amigáveis
uma garrafa com café já velho, um cigarro pra acender
essa tela brilhante do computador, a minha lua
nessa noite os gatos estão em silêncio
um assobio calmo e afinado destoa-se do resto da cidade
é esse assobio que me faz pensar
o homem do assobio não sabe que olho para ele da minha janela
não sabe a força de seu assobio
não sabe que sua paz incomoda
penso um jeito de parar com isso
assim a música acabaria
assim tudo ficaria igual
sem assobio, sem nada
(republicado)
terça-feira, fevereiro 26, 2013
sem noção
não sei em que apuros me meti ou que merda fiz, mas quando vi você com essa cara linda e charmosa sob a luz dessa lua cheíssima, pulei em seu pescoço e dei o maior, o mais sensual, o mais gostoso beijo da minha vida. pena que sua mulher estava perto.
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
eclipse
hoje nasci há muitos anos
talvez houvesse um eclipse
ou só meia lua no céu
ontem olhei a lua
e vi a sombra da terra
e vi a sombra de mim
talvez houvesse um eclipse
ou só meia lua no céu
ontem olhei a lua
e vi a sombra da terra
e vi a sombra de mim
sexta-feira, fevereiro 15, 2013
chamado
arte: rafael godoy
imagino-te louco lobo devasso
quando chega a noite e a lua entretanto
cordeiro manso e frio na cama
me pego então a contar estrelas
no céu da boca a língua saliva
febre insana no corpo que treme
na rua lobos me chamam
estou pronta para saltar muros
e atravessar paredes
quando chega a noite e a lua entretanto
cordeiro manso e frio na cama
me pego então a contar estrelas
no céu da boca a língua saliva
febre insana no corpo que treme
na rua lobos me chamam
estou pronta para saltar muros
e atravessar paredes
(republicado)
quarta-feira, fevereiro 13, 2013
irreversível
não tire de mim o encanto desse dia
ainda que seus olhos me implorem
e seu corpo se ausente
as lembranças são minhas
e você não pode fazer mais nada
quando a noite me engolir de vez
é esse dia que lembrarei
e você não pode fazer mais nada
mais nada
ainda que seus olhos me implorem
e seu corpo se ausente
as lembranças são minhas
e você não pode fazer mais nada
quando a noite me engolir de vez
é esse dia que lembrarei
e você não pode fazer mais nada
mais nada
sábado, fevereiro 02, 2013
por que então você tinha que falar aquilo
tudo, essas coisas todas, dizer que falo pouco, bebo demais e ainda
fumo nesse tempo em que tudo faz mal até aquele pedaço de pizza que comi
ontem. você falou que sou essa pessoa meio esquisita, que ainda
acredita que o melhor lugar é estar com amigos de verdade e rir um
bocado da vida. que não ligo muito pra roupas e que só quero viver
enquanto puder andar com meus pés, e ler
bons livros e gostar de poesia, ouvir rock e mpb e ainda gostar de
bossa nova e ir até esquina comprar pão e tomar café, andar um pouco
pelas ruas da cidade e, se der sorte, ver o por-do-sol. você me disse
mais um tanto de coisas e que gostava de mim, que não sabia o que faria
se eu sumisse de sua vida. logo você que é todo regrado e que só come
coisas meio light. logo você que vive nesse mundo cheio de tantas regras
e com pessoas que vivem por dinheiro, moda e poder. o pior, cara, é que
gostei do que você me falou, porque acho que ontem você me descobriu um
pouco. e o beijo foi bom e a cama foi boa e talvez hoje eu saia com
você de novo.
segunda-feira, janeiro 14, 2013
mantenha distância
pompéia/ itália/ arquivo pessoal
mantenha distância
era a placa invisível pregada em seu peito
mas não obedeci e fiquei perto
toquei em sua pele em seus cabelos
e descobri que não tinha alma nem alegria
mantenha distância eu sabia disso
e me mantive ainda agarrada ao seu sorriso de estátua
me mantive agarrada ao sonho que um dia iria mudar
e fazer você vomitar alguma emoção
naquela noite tomamos uma garrafa de uísque
e percebi alguma coisa saindo de seus olhos
alguma tristeza perdida alguma melancolia
por um momento
mas quando vomitou era apenas a bebida azeda
que seu estômago não absorveu
sua alma estava pra sempre perdida em algum inferno
e mantive distância de você de mim de tudo de todos
terça-feira, janeiro 08, 2013
volta
nova viçosa/bahia/ janeiro 2013/
voltei e meus braços são compridos como as estradas
mesmo com o mar nos olhos as montanhas me fascinam
um cansaço aflito se instala no corpo
minhas mãos não estão ágeis
e a cabeça pesa mais que a chuva e o calor
as palavras estão escondidas em algum canto de mim
me lembro de um cão perdido que rondava a casa da praia
e disputava o lixo com os urubus todos os dias
da lua no fim do tarde e do sol se pondo como em um filme
de quando o mar ficava vermelho até o anoitecer
e eu ficava lá até o escuro
e tinha a madrugada e eu dormia
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