no vago tom da noite
a árvore parada e morna
com seus galhos feito mãos inúteis
assombram os que passam distraídos
o passeio é um deserto esticado
a rua com asfalto recente geme
quando carros deslizam loucamente
com suas buzinas ensurdecedoras
do outro lado da rua
um homem fuma solitariamente
não sorri, apenas olha a fumaça que sobe
a moça passa: "tem fogo"?
nesse momento o seu corpo é uma fogueira
a moça mostra o cigarro apagado e ergue a mão
"tem fogo?"- repete
ele todo é uma fogueira
a moça sorri com o cigarro apagado
o homem arde e olha a fumaça que sobe
a moça já virou a esquina
um cão atravessa a rua
as pessoas dormem com janelas fechadas
a luz vermelha e azul do carro de polícia
a sirene que berra
um bêbado solitário conversa com a noite
uma lua pálida no céu
o homem com um cigarro aceso entre os dedos
caminha lentamente para nenhum lugar
14 comentários:
[fragmentos do mundo que caminha para lado nenhum,
ardendo.]
imenso, Adriana
Um imenso abraço,
Leonardo B.
eu engendro tuas palavras como um filme noir, peço um blues e um conhaque,
beijo
A noite é minha paisagem mais íntima. Não há sol, mas tudo, tudo arde.
Isso é poesia que me alcança.
Beijos,
reler não é ler de novo
é ler renovado
busca...
(bom texto - republique outros)
Adriana querida, nosso cotidiano que dança, imperceptível pra muitos, dolorido pra nós, cruel pra tantos.Entre uma tragada e outra, vagamos. beijo.
Leonardo B, um grande abraço. Beijo.
Assis, gostei da ideia. Beijo
Tânia, lindas palavras. Valeu. Beijo
Marcos, certamente temos fogo sempre. Beijo
Bardinho, como ando numa onda meio desinspirada, de quando em vez republico alguns. Valeu demais e sempre. Beijo
Luciano, poeta querido, entendi o recado. Valeu mesmo. Beijo
Tanto ritmo. O cotidiano visto com este olhar, esse olhar quase perto.
Muito interessante teu poema, além de bonito.
Davi, agradeço suas palavras.
Abraço
Uau, que riquíssimo teu conto poético.
gostei da alienação dos players: o único verdadeiramente lúcido é o bêbado, que conversa com a noite. Lindo. Encantador
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